José de Melo tem 66 anos, 42 dos quais passados no Canadá. Foi este o país que escolheu para viver e para onde partiu deixando para trás Candelária, na Ilha de São Miguel, Açores. É em Toronto que este empresário português aguarda o registo, no Livro Guinness de Recordes, de uma estátua que criou e que é o mais alto monumento autóctone do mundo. O «Inukshuk» é um monumento de pedras sobrepostas que formam uma figura humana, e têm origem na cultura do povo esquimó do Canadá Os «inuit», como são chamados os esquimós do Canadá, construíam estes monumentos – os «inukshuk» – que serviam de sinalização e guia nas suas deslocações no Árctico gelado, mas que também significam amizade. |
São um dos maiores símbolos do Canadá, uma homenagem à mais antiga cultura indígena do país.
A sua popularidade levou a que a figura de um «inukshuk» fosse adoptado como logotipo dos Jogos Olímpicos de Inverno que vão decorrer em Vancouver em 2010.
José de Melo explicou ao Emigrante/Mundo Português que a principal razão para a construção do seu «inukshuk» foi mostrar o respeito que sente pelos nativos canadianos.
“É uma homenagem aos povos nativos do Canadá. Gosto muito de arte nativa e da maneira como os nativos respeitam a terra e a natureza”, referiu. Mas o seu monumento pretende também mostrar que no “Norte do Canadá existe granito de grande qualidade” e “levar as pessoas a optarem por este material que dura uma vida e não fere o ambiente, afirma este açoriano natural de São Miguel que se confessa um ecologista convicto.
Mas José de Melo demorou quatro anos a decidir-se entrar para o Guiness e diz que só aceitou “porque houve portugueses e alguns políticos” que o convenceram.
Pronto há cinco anos
O monumento, com 11,7 metro de comprimento visível e 8,5 metros de largura de um braço ao outro, já foi construído há cinco anos e, desde então, pode ser visto por quem se deslocar à sede da sua empresa de granitos, a «Allstone ram “ao dizerem que era bom para a comunidade portuguesa e para o Canadá”.
É dele a autoria do projecto e do desenho. Foram precisos três meses para extrair a pedra, três semanas para a trabalhar e outras três para montar o monumento. “A montagem foi difícil porque as pedras têm que encaixar bem, senão podem escorregar e tombar”.
Há um ano atrás, depois de ter sido convencido, José de Melo partiu então para a elaboração do projecto de candidatura do «inukshuk», que, uma vez entregue, foi aceite pela organização do Guiness, que lhe pediu a documentação oficial a atestar a dimensão do monumento.
“Um engenheiro especializado em geologia mediu a altura com uma máquina especializada e um fotógrafo profissional e um polícia serviram de testemunhas”, explicou, sublinhando que “tiveram que ser pessoas que não me conheciam”.
Quando falou ao Emigrante/Mundo Português, José de Melo estava prestes a enviar a documentação. A resposta, pode demorar até quatro semanas, mas este açoriano não tem pressa.
Caso o Livro Guiness de Recordes homologue a candidatura e assuma o «inhkshuk» que criou como o mais alto monumento autóctone do mundo, José de Melo sabe que vai receber um diploma a formalizar o seu recorde. E sabe também o que vai fazer a seguir: “vou emoldurar o diploma, mas antes vai ser gravado em granito e colocado lá fora, ao lado do monumento”.
Depois, vai organizar uma festa e agradecer a todos aqueles que estiveram envolvidos neste projecto. “Várias pessoas choraram quando decidi avançar para o Guiness. Às vezes, ter uma coisa boa e guardá-la, não é o melhor. A arte é para ser vista”, conclui.
Vivemos felizes
“Tenho uma vida boa, vir para o Canadá foi uma decisão boa, vivemos felizes”, começa por dizer ao Emigrante/Mundo Português. José de Melo não tinha amigos ou familiares no Canadá, mas isso não o impediu de emigrar para aquele país do continente americano. “Gostava de viajar, estive três anos na força aérea, onde comecei a aprender a ler e escrever inglês”, recorda. E como gostava muito “de lugares com espaço, florestas, grandes terrenos”, decidiu que, quando emigrasse seria par um de três destinos: Canadá, Brasil ou Austrália. “Decidi-me pelo Canadá, fui como turista e ao fim de um ano já estava legal”.
O início não foi fácil, chegou em Dezembro, o frio era muito e o trabalho como jardineiro, difícil. “Arranjei três empregos que pagavam pouco, comecei por receber 1,20 dólares à hora, mas fui subindo e melhorando no trabalho”.
Um factor que aponta para a sua integração, foi assumir desde a chegada, que tinha que ser ele a adaptar-se aos usos, costumes e forma de vida daquela sociedade. Mas José de Melo reconhece, entretanto, que o maior investimento que fez na altura, foi na aprendizagem do inglês. Durante cerca de dois anos e meio estudou à noite, numa escola, porque “sabia que era preciso não apenas saber falar, mas também saber ler e escrever bem em inglês”. Mas a vontade de estudar não se ficou pelas aulas noturnas de inglês, já que continuou os estudos até concluir o curso de arquitecto paisagista.
Dois anos depois de ter chegado, regressou aos Açores para casar com a sua namorada e levá-la para o Canadá. Alguns anos depois, concretizou outro sonho: comprou um terreno de 50 hectares e construiu uma casa rodeada de muito espaço, no campo. Vive lá há 26 anos, longe da poluição sonora e da «confusão» das grandes cidades.
Diz que a vida no Canadá foi planeada, mas sublinha que “correu melhor do que esperava”. Os três filhos são o seu braço direito nas empresas que fundou. À primeira, na área da jardinagem e bricolage, seguiu-se uma pedreira e fábrica de transformação de pedra. A mais recente é uma empresa de máquinas para neve, como equipamentos variados para limpar e derreter neve.
Mas a grande paixão deste açoriano é a pedra, ou melhor, o granito, que diz ser “o melhor produto que há em pedra, mais forte, mais durável e sem precisar de manutenção” e que é ainda “muito bonita, com variedade de cores”. “A nossa pedreira tem granito em peças bastante grandes, não temos dificuldades em arranjar peças com 10 metros”, afirma, explicando que trabalha com um tipo de granito flexível. Uma dessas peças, com nove metros “de altura visível”, está em exposição numa universidade de Ontário “A pedra dobra 10 centímetros para cada lado por causa da mica (mineral) que contém”, revela com orgulho.
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