Cavaco prometeu e está a cumprir. Durante a campanha eleitoral disse ir prestar especial atenção às comunidades portuguesas e está a fazê-lo. E não se trata apenas de visitas de circunstância. Desta vez para os Estados Unidos a assinatura de um protocolo que garante o ensino do português nos estabelecimentos oficiais no Estado do Massachusets que o governo protelava há dez meses, foi afinal uma prenda bastante apreciada por uma comunidade carente que pede mais atenção ao poder político…
Cavaco Silva também pediu coisas aos portugueses nesta sua viagem. Pediu por exemplo que também eles não esquecessem o seu Portugal e sobretudo continuassem a falar a língua portuguesa e que a ensinassem a seus filhos e principalmente não esquecessem a terra onde tudo começou. Para os portugueses dos Estados Unidos a imagem de um político que vem pedir é nova, mas não deixou de ser uma linguagem interessante que uma comunidade generosa e muito determinada entendeu bem. Não se podendo dizer que tivesse sido uma visita de grande empolgamento ou de grandes momentos, foi bem ao estilo que Cavaco nos habituou. “low profile”, discreta o quanto baste, mas sobretudo marcada por grande simplicidade e eficácia no discurso que fico sem dúvida em quem ouviu.
Terça-feira – 19 de Junho
O polícia americano de Penalva do Castelo
O presidente da República iniciou a visita aos Estados Unidos aterrando no Aeroporto de Newark, dirigindo-se com a respectiva comitiva para o Consulado de Portugal em Newark. A comitiva foi recebida pelo Cônsul Geral Francisco Azevedo e os funcionários do Consulado estão de parabéns pela forma como receberam toda a comitiva presidencial, mas é justo destacar o próprio Cônsul que foi inexcedível de gentileza e uma atenção constante a todos os problemas, parecendo estar em todo o lado ao mesmo tempo e para todos tendo uma palavra de atenção e cortesia.
Depois de um breve descanso a comitiva partia para Washington de comboio. Por um lado correspondendo a um desejo do presidente que adora viajar de comboio, confessaria até aos jornalistas já ter feito para o seu Algarve acompanhado da família, mas por outro lado porque as ligações aéreas Newark-Washington têm demoras nos procedimentos de embarque que chegam até às quatro horas de espera.
E foi precisamente na Penn Station em Newark que o presidente Cavaco Silva recebeu a sua primeira prova de admiração popular. No cais de embarque rodeado por um “americaníssimo” e eficiente dispositivo de segurança, um próprio polícia “fura” a barreira e aproxima-se sorridente de Cavaco Silva, dirigindo-se-lhe num português correctíssimo e fluente. O nome NUNES na identificação da lapela não enganava e estando ali de serviço quis vir até junto do presidente dizer-lhe que era português e americano. Ali ficou com o Presidente da República numa conversa de momentos, mas que certamente não mais esquecerá e que será contada a filhos e netos. Alberto Nunes, natural de Penalva do Castelo, onde vai todos os anos, tem 26 anos e com um sorriso revelou-nos a “receita” para um português tão correcto. Seis anos de estudos na escola portuguesa de S. James e estava revelado o “segredo”. Depois foi apanhar o comboio e seguir até Washington numa viagem de mais duas horas e meia. Pelo caminho houve ainda tempo para os jornalistas poderem conversar animadamente com um Presidente da República extraordinariamente bem disposto e descontraído que lá foi diplomaticamente escusando-se a comentários quando os temas abordavam a realidade nacional. Falou-se ainda das comemorações do 10 de Junho em Setúbal que o presidente considerou terem sido um sucesso com uma organização impecável.
Quarta-feira – 20 de Junho
O «abraço» português ao mundo
Foi um dia especial porque marcou o encontro do Presidente da República com Craig Melo, o vencedor do prémio Nobel da Medicina de 2006, de origem portuguesa, na embaixada portuguesa em Washington. Foi uma conversa descontraída e aberta, a que se juntou também o Presidente do Governo Regional dos Açores.
Carlos César aproveitou a oportunidade para formalizar o convite já formulado anteriormente para que aquele cientista visite o arquipélago onde nasceu o seu avô (na freguesia das Maias), o que foi desde logo aceite. Segundo o próprio Carlos César o ideal seria na primavera que é o melhor tempo para se visitar os Açores.
Mais à tarde Craig Mello teve ainda oportunidade de visitar em Washington a exposição sobre o período dos descobrimentos portugueses e confidenciou ao EMIGRANTE/MUNDO PORTUGUÊS, que sentia “um enorme orgulho por ter raízes tão ilustres e que fica ainda com mais curiosidade de visitar os Açores”. Já sabia alguma coisa do passado glorioso de Portugal, mas que desconhecia a dimensão real que aquela exposição transmitia de forma tão especial”.
Este foi também o dia que marcou o início da visita presidencial aos Estados Unidos e porventura um dos mais ricos, já que tinha como principal objectivo a inauguração da exposição “Encompassing the Globe: Portugal ant the World in the 16th and 17th Centuries”, ou em português “Abraçando o Globo: Portugal no Mundo nos séculos XVI e XVII.
Trata-se de uma sumptuosa exposição sobre Portugal e os seus feitos marítimos que foi trabalhada ao longo de cinco anos pelo Instituto Smithsonian e que reune mais de 250 peças originais, vindas de Portugal, Brasil, África. Golfo Pérsico, Índia, Sri Lanka, Indonésia, China e Japão. Na exposição Portugal é retratado como o grande e primeiro percursor da globalização, tendo posto em contacto as culturas, os costumes e as sociedades de então, abrindo e despertando o interesse das nações às relações comerciais e culturais entre países. Trata-de de uma exposição que todos os Portugueses deveriam ver e se Washington ainda fica um pouco longe para muitos, aguarde-se então para Setembro, altura em que parte da exposição virá até Bruxelas e outra para Berlim. Mas para já os portugueses dos Estados Unidos preparem uma passeio até à capital federal porque darão o seu tempo por bem empregue. A isso mesmo exortou o Presidente Cavaco Silva por diversas vezes, que considerou a exposição magnífica: “Esta é uma magnífica exposição que põe em destaque o papel de Portugal como pioneiro da globalização moderna. Um país impelido pela determinação de agir, de se abrir a novos povos e a novas culturas. Um país que, durante séculos, disseminou conhecimento pelo mundo”.
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