A Associação “O Boi do Povo” promoveu, em Montalegre, um campeonato de chegas de bois, espectáculo apreciado por milhares de pessoas e que até é relatado como um jogo de futebol. As chegas de bois são uma tradição já muito antiga em alguns concelhos de Trás-os-Montes, mas é em Montalegre onde tem mais expressão.
Fernando Moura é um dos responsáveis pela associação “O Boi do Povo” e um dos grandes entusiastas pelas chegas de bois. Talvez por isso mesmo resolveu relatar os confrontos entre os animais como se se tratasse de um verdadeiro evento desportivo. “Se no mesmo dia em Montalegre se realizasse um jogo de futebol entre o Porto e o Benfica e ao mesmo tempo uma chega de bois, o estádio de futebol estaria vazio e o campo da chega completamente cheio, garantiu à agência Lusa Fernando Moura. A Associação Etnográfica “O Boi do Povo” foi criada em 1999, por um grupo de amigos apaixonados pelas tradicionais chegas de bois e, desde que nasceu, tem organizado estas lutas entre animais.
Pelo terceiro ano consecutivo a associação, em colaboração com a Câmara de Montalegre, promove um campeonato de chegas de bois de raça barrosã entre sábado e 09 de Agosto. O primeiro “round” entre os bois do Barroso ocorreu às 16:00 de sábado, no já chamado “chegódromo”, no recinto da Senhora da Piedade, em Montalegre. Como já vem sendo hábito, também no sábado, Fernando Moura vai para o meio do recinto, para perto dos bois, para relatar o confronto entre os animais. “Explico a forma como os bois se enfrentam, a violência com que o fazem ou a estratégia que adoptam. Às vezes os animais nem se pegam e outras vezes as chegas chegam a durar entre 30 a 45 minutos”, salientou. Fernando Moura diz que até já fez relatos em directo, mas a maior parte das vezes opta por gravar o relato num gravador, sendo este depois transmitido pela Rádio Montalegre. Para além de querer transformar a iniciativa numa “atracção turística” da região, a organização diz que o campeonato pretende “apoiar o fomento desta espécie que sofreu uma forte decadência nas últimas décadas”. Segundo Fernando Moura, estão inscritos no evento deste ano 16 bois barrosões, uma raça que considera mesmo estar em “vias de extinção”. Para contrariar esta tendência, a organização oferece 500 euros a animal por cada confronto e, o prémio final, é de 750 euros. Muitos os emigrantes e turistas que se deslocam propositadamente à região do Barroso para assistir às chegas de bois. Mas diz que, os espectadores muitas vezes desconhecem o longo trabalho de “mimo” de que os bois são alvo antes de entrarem no recinto.
Segundo Fernando Moura, hoje este “mimo” é feito por particulares, mas há uns anos atrás era um trabalho comunitário, que envolvia toda a aldeia nos trabalhos com o animal e por isso mesmo era denominado o “boi do povo”. Depois de colocados frente a frente, os bois concorrentes iniciam “uma dança” que se prolonga mais ou menos no tempo, dependendo da força de cada animal, e durante a qual investem, enfrentam-se com violência, entrelaçam os chifres, afastam-se e voltam ao confronto. A luta termina quando um dos bois foge, assumindo a derrota, ou quando é ferido pelo outro animal.
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