A minha estada na Região de Magalhães e Antárctida tem servido de mote aos últimos artigos publicados no “MUNDO PORTUGUÊS”, e, em três deles, já escrevi sobre a sua Capital, designadamente, acerca de história, malha urbana, clima e principais actividades da população.
Nas “NOTAS DE VIAGEM” de hoje, Punta Arenas será novamente tema, visto entender que ainda existem matérias, que justificam abordagem específica.
Já anteriormente afirmei que gostei desta cidade, pois ali se encontra tudo para satisfazer as exigências de um turista – diversificado parque hoteleiro, apreciável quantidade de restaurantes, muito e variado comércio, significativo número de tours, quer na cidade, bem como nos arredores, acesso fácil a outros lugares turísticos na Região, vários pontos de interesse no tecido urbano que importa visitar, tudo isto associado a uma tranquilidade e a um clima de segurança que nos faz sentir bem.
Punta Arenas é a cidade mais povoada e cosmopolita da Patagónia Chilena, tendo grande parte dos seus habitantes raízes Europeias, nomeadamente, com origem nos colonizadores que povoaram a zona até meados do século XIX, que foram da antiga Jugoslávia, especialmente Croatas, e também Galeses. Existe ainda uma boa percentagem de Chiloés, naturais de Chiloé, que é um arquipélago ao sul do Chile, com uma população de cerca de 150 mil pessoas e uma superfície de 9.181 km2, que compreende um grande número de ilhas de pequena dimensão, integrando ainda a Ilha Grande de Chiloé, que, em tamanho, é a quinta da América do Sul, depois da Tierra del Fuego e das ilhas Brasileiras de Marajó, Bananal e Tupinambara.
Antes da abertura do Canal do Panamá em 1914, Punta Arenas, em virtude da sua localização no Estreito de Magalhães, foi o principal ponto de navegação entre os Oceanos Pacífico e Atlântico, o que a tornou o mais moderno e comercial centro do extremo austral da América do Sul.
O seu estilo Europeu, bem como a sua arquitectura, não são comparáveis a qualquer outra cidade no Chile, e, até aquela data, Punta Arenas viveu épocas de glória.
Ainda no que respeita ao seu porto, hoje em dia, é de Punta Arenas que parte a maioria dos cruzeiros que se dirigem à Antárctida, bem como também por lá passa grande parte dos transatlânticos Europeus em viagem de turismo.
Aliás, a este respeito, uma experiência que ficou bem marcada na minha memória, foi quando um dia decidi descer a longa Avenida Colón, que, conforme escrevi em anterior artigo, é a mais larga da cidade e uma das mais importantes e compridas, a fim de ir observar de perto o Estreito de Magalhães.
Perante a extensão de água mesmo à minha frente, de cor algo escura, com uma brisa que não incomodava, mas que provocava uma ondulação bem visível, andando pela areia sob um Sol radioso, que se impunha num céu azul, senti-me nostálgico, procurando imaginar o que há cerca de 500 anos, os homens que ali passaram, e fizeram a ligação entre os Oceanos Atlântico e Pacífico, teriam sentido, perante tão importante descoberta!
E, na altura em que fiz este passeio junto ao Estreito, lá estavam diversos barcos, na sua maioria de cruzeiros turísticos, sediados no porto de Punta Arenas.
Foi realmente uma visão que perdurará por muito tempo na minha memória – ver o Estreito de Magalhães, imponente, ventoso, vasto, com vários barcos ancorados, e pensar que tinha sido um Português que liderara a expedição marítima que, em 1520, descobrira uma ligação entre oceanos que se revelou então, e durante muitos séculos, tão importante para a humanidade!
Naturalmente, que nesta cidade de gente simpática para com os turistas, dotada de todos os serviços e comodidades indispensáveis a uma boa qualidade de vida, a ida até ao Estreito de Magalhães, é somente um dos muitos locais existentes, que justificam uma visita especial, pelo que em seguida, irei “dar uma volta” por alguns desses sítios.
Já em anteriores “NOTAS DE VIAGEM” referi a Praça Muñoz Gamero, a tradicional Plaza de Armas nos territórios colonizados por Espanha, local de visita imprescindível, situado na zona central da cidade.
Aqui se pode encontrar o famoso monumento homenageando Fernando Magalhães, da autoria do escultor Chileno Guillermo Córdova, que foi inaugurado em 16 de Dezembro de 1920, por ocasião do quarto centenário da descoberta do Estreito.
A praça está rodeada por belos edifícios, que remontam ao início do século XX, nomeadamente, ao período dos grandes comerciantes e criadores de gado, entre os quais se destacam, a Mansão de José Menéndez, a Catedral e as instalações do Governo Provincial, é muito arborizada, possui um interessante quiosque na zona central e largas zonas pedonais.
É um local que dá gosto visitar, e, com calma, observar tudo o que ali existe e se passa – os edifícios, o movimento das pessoas, o monumento, onde se lê claramente que Fernando Magalhães era Português, as crianças a brincar na zona central da Praça, o sentir os fortíssimos ventos austrais, ou então, entrar na Casa de Espanha, que se localiza num dos lados da Praça, e beber uma caña acompanhando umas tapas…
A meio quarteirão da Praça Muñoz Gamero encontra-se o Museu Regional de Magalhães, já por mim mencionado em anterior artigo, que está instalado no que foi a residência de uma das famílias pioneiras mais importantes da Patagónia, a Braun-Menéndez, que era então a maior fortuna da Região, tendo sido doada à cidade com todos os seus móveis, quadros, tapeçarias e utensílios, constituindo hoje em dia, um importante testemunho do que foram aqueles tempos de opulência dos mais ricos comerciantes da zona.
Vale a pena ir até lá – fica-se com uma noção muito precisa do que eram aqueles tempos…para os ricos!
Relembro que, como escrevi em outras “NOTAS DE VIAGEM”, foi também neste Museu, que encontrei mais uma alusão ao nosso País, quando num quadro, semelhante a um planisfério, na legenda se podia ler “…as nações mais importantes do séc.XV na Europa e no Mundo, os reinos de Castela e de Portugal…”.
Para um Português que está no estrangeiro, este é o tipo de situação que sabe sempre muito bem!
Continuando no tema dos museus, devo também mencionar a ida ao Museu Salesiano Maggiorino Borgatello.
Trata-se de um dos mais importantes museus da Patagónia, criado em 1893 por missionários Salesianos, e que adoptou o nome do seu fundador.
Sendo um dos mais antigos museus em todo o Chile, conta com quatro andares de exposição, abarcando diversas áreas da cultura e do conhecimento, como história, religião, missões, etnografia, fauna, flora, numismática, mineralogia, aviação, paleontologia, indústria e comércio da Região Magalhânica.
Do que vi, permito-me destacar as matérias relacionadas com as etnias e a história da Patagónia, temáticas que me conquistaram quando tempos atrás visitei a Argentina, e, pela primeira vez, contactei com as realidades da Patagónia, e, em especial, da Tierra del Fuego.
Face ao que já conheço, à informação que fui recolhendo, através da internet e de livros, fiquei encantado com o que encontrei neste Museu, particularmente, no respeitante às etnias que habitavam a região, aquando da chegada dos Espanhóis – os índios Tehuelches, Onas, Alakalufes e Yámanas.
Lamentavelmente, com a presença dos colonizadores, estas etnias pouco mais tempo duraram…
A “caça ao índio” e as doenças que o Europeu levou, foram as principais causas para que estes povos fossem rapidamente dizimados!
Gostaria de deixar bem sublinhado, que a impressionante mostra etnográfica e antropológica existente sobre os índios que povoaram a região, bem como acerca dos imigrantes Europeus que a colonizaram, é motivo mais do que suficiente para uma cuidada e muito interessante visita ao Museu Salesiano Maggiorino Borgatello.
No próximo artigo continuarei este passeio por Punta Arenas.
Rui Oliveira e Sousa
Outubro de 2006
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