Parti para o Chile com expectativas muito altas.
A história do País, a vivência democrática que sempre existiu, para que muito contribuiu a obediência das Forças Armadas à Constituição e ao Poder Político, postura esta que constituía mesmo um exemplo em termos de América Latina, e que, infelizmente, deixou de se verificar com a feroz ditadura de Augusto Pinochet, iniciada com o sangrento golpe de 11 de Setembro de 1973 (o primeiro 11 de Setembro regado pelo sangue dos homens; anos mais tarde registou-se outro, mas este, o de 2001, teve lugar nos Estados Unidos – a história por vezes é cruel, quase parecendo irónica…), a rica e estimulante literatura Chilena que muito me motivou, os recursos naturais, a assimetria geográfica, uma Capital que se dizia fervilhar de vida, cultura, movimento, diversidade, um apregoado desenvolvimento económico que indiciava um alto, ou, pelo menos, bom nível de vida, e tantas mais características imputáveis à realidade Chilena, fizeram-me pensar ir encontrar o "melhor" nesta viagem.
Acresce que já visitara o vizinho Argentina, que mesmo com graves problemas financeiros e económicos vividos há já alguns anos, me encantou em absoluto, tendo mesmo ficado "fan" de Buenos Aires.
Acontece que não fiquei entusiasmado com o Chile!
Talvez tenha acontecido o que já anteriormente me sucedeu – "coloquei a fasquia demasiado alta"!
Ou seja, criei uma série de expectativas, naturalmente que de sinal positivo, que depois não se vieram a confirmar.
E, o que agora ocorreu, não é novo para mim…
Por exemplo, sucedeu-me o mesmo quando visitei Veneza.
Ao longo dos anos, o que lera, ouvira e me fora proporcionado ver na TV e no cinema, levaram-me a imaginar, a criar uma auréola de beleza, de encanto, de magnificência, mesmo de uma cumplicidade "acolhedora" da cidade.
Mas o que acabei por encontrar ficou aquém do que a minha mente concebera…
Colocara as minhas expectativas muito acima da realidade!
Agora, no caso do Chile, talvez também se tenha verificado um pouco deste sentimento de desencanto, ao confrontar o que encontrei com o que "sonhara".
De notar, todavia, que apesar destas palavras, considerei bastante positiva a deslocação, e, afirmo, sem qualquer rebuço, ainda bem que fui ao Chile!
Destaco, que o que ficou mais longe do que esperava, foi Santiago do Chile!
Dos outros destinos mais importantes por mim visitados, realço que gostei da estadia no sul do País, designadamente na Região de Magalhães e Antárctida; Valparaíso é uma cidade ainda a viver a decadência resultante da perda de importância e de influência do seu porto de mar, mas com diversos aspectos interessantes para o turista; Viña del Mar é o mais significativo local de turismo balnear e de animação de Verão.
Naturalmente, que sendo o Chile tão extenso e pleno de atracções e motivos de interesse para o visitante, mesmo com uma permanência no País de duração ainda apreciável, decidi privilegiar as zonas centro e sul.
Quando deixei Lisboa em direcção a Santiago do Chile, o dia estava cinzento, mas, na capital Chilena, esperava-me um lindo dia de Sol!
Em Portugal estava-se em pleno Inverno, mas lá encontrei outra estação do ano – vivia-se um Verão com características muito idênticas às que por norma acontecem no nosso País, Sol, calor, céu azul, forte luminosidade.
Permaneci dois dias em Santiago, e depois fui para Punta Arenas, na Região de Magalhães e Antárctida.
Já agora e ainda acerca do clima encontrado, mais tarde, quando regressei à Capital, onde ainda fiquei mais meia dúzia de dias, aconteceu algo de muito raro naquela altura do ano – choveu! Durante muito pouco tempo, mas choveu!
Acontece, e foi outra singularidade, mas esta pontual…
Devo desde já afirmar, que gostei muito da minha visita à Região mais ao sul do Chile.
Gostei de tudo!
Da cidade de Punta Arenas, do hotel onde fiquei alojado, e do modo como por todos fui ali tratado, das visitas e passeios que fiz na Província, das pessoas, da comida, do clima, da história e das realidades actuais que encontrei, da segurança com que ali se vive, que me permitiu andar por todos os lados e em qualquer altura, dos preços praticados, nos restaurantes, no artesanato, nos livros, nos CD, nos museus…
Punta Arenas, que se localiza 3.212 km ao sul de Santiago do Chile, é a capital da Região de Magalhães e Antárctida, está situada nas margens do Estreito de Magalhães, na península de Brunswich, e como se poderá concluir pelos apontamentos históricos que seguidamente apresento, é uma cidade relativamente "jovem".
A história da sua fundação remonta ao século XIX, quando, no princípio de 1841, o Presidente Manuel Bulnes decidiu colocar sob jurisdição Chilena, os territórios e as águas da zona do Estreito de Magalhães, evitando assim que a França e a Argentina pudessem estender a respectiva soberania à região.
Deste modo, em Maio de 1843, enviou uma expedição comandada pelo Capitão John Williams, que quatro meses mais tarde, em 21 de Setembro, ancorou num local chamado Puerto del Hambre (Porto da Fome).
Este feito permitiu-lhe, em nome da República do Chile, tomar posse do Estreito de Magalhães e dos territórios envolventes.
Construíram então um pequeno forte, em madeira, a que puseram o nome de Bulnes, em homenagem ao Presidente da República que determinara aquela expedição e os fins a que a mesma se propunha.
Anos mais tarde, perante as dificuldades de sobrevivência que o local apresentava, nomeadamente, no que respeitava à alimentação, daí o nome Puerto del Hambre (conta-se que os índios que habitavam na zona tinham sérias dificuldades em encontrar alimento, morrendo muitos deles à fome), mudaram-se para um lugar mais a norte, abrigado e desabitado, entre o Rio del Carbón e Sandy Point.
Punta Arenas foi fundada em 18 de Dezembro de 1848, tendo ainda recebido o nome de Punta Arenosa, que é a tradução literal do nome inglês Sandy Point, denominação dada ao pequeno local descoberto por J. Byron, no século XVII.
Nos próximos artigos, relatarei com algum detalhe esta minha "expedição" a terras do sul do Chile.
Rui Oliveira e Sousa
Agosto de 2006
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