Na sequência do prometido nas últimas “NOTAS DE VIAGEM”, vou então “iniciar” o meu passeio até um dos locais mais espectaculares onde estive nesta recente viagem à América do Sul.
Ainda era noite, quando, cerca das 5.30h da manhã, deixei La Paz num pequeno autocarro a caminho de Huatajata, localidade situada na margem mais panorâmica do Lago Titicaca.
Quando cheguei a Huatajata já era dia, mas o Sol, que depois sempre me acompanhou, ainda não tinha aparecido.
Antes de entrar no hidrofoil, a fim de começar a visita ao Lago e sua envolvente mais significativa, Copacabana e ilhas do Sol e da Lua, ainda visitei um pequeno museu, que permitiu alguma identificação com o que iria conhecer nesse dia.
Depois de uma agradável navegação, a primeira paragem foi em Copacabana, cidade que se situa a 158 quilómetros de La Paz e a 3.841 metros acima do nível do mar, cuja principal atracção é o Santuário da Virgem Morena, a padroeira das gentes das terras altas da Bolívia, onde as pessoas prestam culto à Virgem de Copacabana, imagem talhada em madeira, obra de um descendente dos Incas, Francisco Tito Yupanqui, em 1592.
A Basílica de Copacanana foi construída mais tarde, entre 1610 e 1619, por Francisco Siguenza.
Nesta visita gostei particularmente de percorrer o mercado local.
Mercado tipicamente terceiro-mundista!
Encontra-se à venda de tudo um pouco, e quase sempre em condições precárias.
Muitos habitantes locais, adquirem os bens de primeira necessidade, alguns sendo comercializados sem as mínimas condições de higiene (por exemplo, peças de carne em cima de bancadas semi-improvisadas, ao ar livre, sem qualquer tipo de protecção…), e, paralelamente, inúmeros visitantes, destacando-se entre estes os turistas, que vagueiam pelas ruas e diferentes pontos de venda, observando, mexendo, interrogando sobre os produtos que se encontram à venda.
Comprei trigo “assado” (??), que até então nunca comera, tinha algumas semelhanças com as pipocas e era muito bom!
Aconteceu, que perante a minha falta de conhecimento sobre esta iguaria, o seu aspecto “guloso” e o reduzido custo, comprei a mais do que era capaz de comer!
Assim, apesar de ir comendo durante a visita a Copacabana, bem como no percurso que se seguiu pelo Titicaca, quando cheguei à Ilha do Sol, dei o que tinha (mais de metade do comprado!), a três meninas que se encontravam no molhe, à espera de turistas, para vender peças de artesanato.
Ainda em Copacabana, tive oportunidade de presenciar uma cerimónia deveras singular!
Em frente ao principal acesso do Santuário, estacionavam diversos veículos automóvel, que estavam a ser benzidos!…
Carros novos, cobertos por flores, recebiam a benção de um padre católico, que assim apelava à protecção divina para aqueles veículos, que iniciavam agora uma “vida” nas vias de circulação e nas povoações da Bolívia, e também do Peru, pois alguns destes automóveis tinham vindo do País vizinho!
Soube então, que este é um ritual que se faz periodicamente com os automóveis…
Novamente no barco, fui até à Ilha da Lua, local onde, durante o Império Inca, no templo das Virgens do Sol “Iñak Uyu”, viviam as mais belas Mulheres, que depois eram oferecidas aos Deuses em sacrifício.
As ruínas Incas existentes num ponto elevado da ilha, o Sol, com toda a luminosidade que podia proporcionar, as águas azul-esverdeadas do lago, que se expunham aos meus olhos por uma vastidão incomensurável, fizeram com que usufruísse de um dos mais assombrosos momentos de beleza que tive durante esta viagem à América do Sul.
Depois de visitar a Ilha da Lua, a embarcação rumou à Ilha do Sol, situada no meio do Lago Titicaca, e que durante o período pré-hispânico foi um importante lugar religioso.
Também aqui tudo é belo, permitindo-me destacar a Escalinata Inca que conduz à Fonte Sagrada dos Incas, onde, diz a lenda, se se beber ou lavar o rosto com a sua água, é assegurada a eterna juventude.
Só para experimentar se o que a lenda diz é verdade, lavei o rosto com a água da Fonte…
Pelo menos, na altura, fiquei mais refrescado!
Foi também na Ilha do Sol que, num restaurante com uma soberba localização, visto que, de um ponto bem elevado, se tinha uma vista panorâmica do Lago, das suas esplendorosas águas, com um magnífico tom azul-esverdeado, de outras ilhas próximas, tudo “cheio” de um Sol que teimava em mostrar como era belo o local onde nos encontrávamos!
O almoço foi diferente…
Eu, que não sou apreciador de sopa, comi sopa!
E ainda bem que comi, pois desta sopa do Lago Titicaca, gostei!
A sopa foi quinua, que é o cereal da realeza, dizem ser super nutritivo (não percebi bem se este “nutritivo” também tinha algo de afrodisíaco, pois deram-me a informação com alguma malícia….) e só existe nos Andes.
Seguiu-se peixe (“pejerrey” do Titicaca) com batatas e verdura, que não justifica qualquer comentário em particular.
Do que também gostei muito foi do pão.
Chamavam-se marraquetas e são típicos de La Paz.
Foi um saboroso almoço, diferente, fundamentalmente, pelo local e por ter comido sopa, mas uma sopa da realeza, que só poderia comer nos Andes…
Nas próximas “NOTAS DE VIAGEM” concluirei a abordagem a este dia bem passado no Lago Titicaca.
Rui Oliveira e Sousa
Junho de 2006
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