Compra de garrafas ou rótulos é cada vez mais difícil para produtores do Douro

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Os produtores de vinho do Douro queixaram-se hoje de “grandes dificuldades” na compra de garrafas, rótulos ou caixas, por escassez no mercado ou pelo aumento “exagerado” dos preços, e mostraram-se preocupados com “a incerteza” nos mercados.

Na região fala-se de uma “bola de neve” devido ao aumento dos preços dos combustíveis, à crise energética, à guerra na Ucrânia e à falta de matéria-prima.

“Quero engarrafar vinho e não tenho garrafas. Queria seis mil garrafas e não tenho. Isto não está fácil”, afirmou à agência Lusa Faustino Moreira, da Quinta do Jalloto, em Casal de Loivos, Alijó.

Esta empresa familiar tem sete hectares de vinha e olival, possui uma unidade de turismo e, por ano, produz 15 a 20 mil garrafas de vinho.

Faustino Moreira destacou o problema com a aquisição das garrafas, mas referiu ter em ‘stock’ as rolhas e caixas, adquiridas já há alguns meses.

“Encomendamos por exemplo 10 paletes de garrafas e só nos dão três ou quatro, temos alguns rótulos encomendados e não há papel e é tudo a aumentar. Produtos enológicos há, mas estão mais caros”, resumiu Celeste Marques, enóloga e diretora da Adega de Sabrosa.

O trabalho nesta cooperativa está, por estes dias, reduzido porque, para além da escassez de materiais para engarrafamento de vinhos, a “incerteza do que está para vir retrai também muito as encomendas”.

Na zona industrial de Sabrosa estão instaladas várias empresas ligadas aos vinhos e, nesta altura, a palavra de ordem tem sido a entreajuda.

“Vamo-nos desenrascando, eu peço a uns, eles pedem-me a mim. Ajudamo-nos uns aos outros”, afirmou Tiago Morais, da empresa Epordouro, que produz cerca de 120.000 garrafas de vinho por ano.

Os vizinhos emprestaram garrafas, a Epordouro cedeu outras e, segundo o responsável, há mesmo um modelo específico de garrafa que usavam para um vinho que vai ser descontinuado e, por isso, têm de encontrar uma outra solução.

Tiago Morais não encontra argumentos para os “aumentos absurdos” e fala também “em alguma especulação”, exemplificando com uma encomenda de garrafas que não lhe foi entregue na semana passada porque está previsto um “aumento de 18%” naquele produto e quiserem imputar esse custo ao cliente.

Sérgio Alves, da Quinta de Rio Pequeno, em Cabeda, Alijó, disse que conseguiu adquirir algumas garrafas, em número suficiente porque só vai encher uma pequena quantidade de vinhos brancos nesta fase. A propriedade tem 12 hectares de vinha e produz 14 mil garrafas de vinho por ano.

“Estou a ter algum atraso na entrega dos rótulos e também com uma subida dos preços. Aliás, recebi uma comunicação de uma gráfica a dar conta de nova subida de preços e a avisar que não dão garantia de preços mais do que um mês”, referiu o produtor e enólogo.

Para além disso, apontou ainda uma subida do preço das caixas de cartão e referiu que, neste momento, “é impensável para as empresas compraram mais inox (cubas) para armazenar vinhos, porque o próprio inox também subiu”.

Se os vinhos não forem engarrafados, as empresas não vendem, não faturam, e, na sua opinião, estão a acumular ‘stocks’ na adega que podem comprometer a vindima seguinte.

“A pandemia complicou um bocadinho, mas parece que agora, com a guerra, complicou muito mais”, afirmou, referindo-se à invasão da Rússia à Ucrânia.

Na vinha também são grandes as preocupações com os custos de mão de obra, os adubos, fertilizantes, fitofármacos ou os combustíveis usados nos tratores e máquinas agrícolas.

Sérgio Alves disse estar, sobretudo, preocupado “com o aumento na produção primária” e apontou “aumentos exagerados dos herbicidas, exemplificando com um produto que custava “70 euros e agora custa 180 euros” e o gasóleo agrícola que “custava 80 a 90 cêntimos e agora está a 1,5 euros”.

“E o seguro de colheita para a campanha que se avizinha vai custar quase o dobro do que custava no ano passado”, acrescentou.

Concluiu que “tudo custa mais”, desde a garrafa, a rolha, a cápsula, a caixa e a uva que se vai produzir na próxima campanha também vai ficar mais cara.

“Por muito que os produtores não queiram subir os vinhos porque isso traz, certamente, retração no consumo eu acho que é inevitável, até para salvaguardar a campanha que se avizinha”, sustentou.

Celeste Marques falou também num novo aumento nos preços dos vinhos, depois do já concretizado em janeiro, até para a adega ter “dinheiro para pagar aos associados”.

Por sua vez, Tiago Morais disse que as empresas vão ser obrigadas a aumentar o preço porque, neste momento, “já não têm margem”, pois esta “foi toda gasta nos aumentos da matéria-prima”.

“Tem que haver uma intervenção do Estado ou o pequeno lavrador deixa tudo a monte”, sublinhou Celeste Marques.

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