A Cerealis, empresa detentora das marcas Nacional e Milaneza sediada na Maia, no distrito do Porto, admitiu ser “previsível” que o impacto das consequências da guerra na Ucrânia no preço dos alimentos seja “inevitável” durante “as próximas semanas”.
“É previsível que durante as próximas semanas (curto prazo) o impacto nos preços dos alimentos em geral seja inevitável”, disse à Lusa João Paulo Rocha, diretor de comunicação da empresa sediada na Maia, e que no Norte conta com instalações na Trofa e no Porto e, no resto do país, em Coimbra e Lisboa.
Em resposta a questões colocadas pela Lusa, esta fonte oficial da empresa disse que no caso da Cerealis, também devido ao efeito da guerra na Ucrânia e aos impactos adjacentes, poderá haver subidas “nas massas, nas farinhas, nos cereais de pequeno-almoço e nas bolachas”, áreas de atividade da empresa.
“Em termos de impacto direto nos preços aos consumidores, é algo que nós não dominamos pois estamos no início da cadeia de abastecimento ao mercado”, ressalva, no entanto, João Paulo Rocha, já que a Cerealis não vende diretamente ao público.
Quanto às subidas de preços verificadas diretamente pela empresa, estas são “são transversais por efeitos diversos – das matérias-primas (cereais, óleos), dos materiais de embalagem, da logística (petróleo) e, muito importante, do custo da energia (gás e eletricidade)”.
Apesar da Cerealis não importar diretamente da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, mas sobretudo da União Europeia (UE), o responsável assinala que dada a importância dos mercados de leste, “os efeitos do atual quadro de guerra, sanções e bloqueio da atividade nos portos da região, são de fortíssimas subidas de preços e dificuldades de abastecimento pelo acréscimo de procura de importadores normalmente abastecidos por estes países”.
Segundo a Cerealis, no trigo “a Rússia é o primeiro exportador mundial” e, juntamente com a Ucrânia, os dois países “representam 29% do total das exportações”; no milho “a Ucrânia é o principal fornecedor da UE e quarto exportador mundial”; e nos óleos vegetais “Rússia e Ucrânia são responsáveis por 80% das exportações mundiais de óleo de girassol”, a que se adicionam as subidas no petróleo e gás natural também agudizadas pela guerra.
“Os principais mercados de futuros sobre estas ‘commodities’ [matérias-primas] registaram, em poucos dias, subidas muito expressivas de preços”, assinala João Paulo Rocha, dando como exemplo que desde o início da guerra o trigo encareceu 33% e o gás natural 100%.
Segundo o responsável da Cerealis, “o indexante do trigo, que é referência base do mercado europeu, que é o MATIF, está a cotar no seu nível máximo de sempre”.
Quanto aos óleos, a dependência dos mercados russo e ucraniano a nível mundial no girassol, leva a que existam “impactos de contágio em diferentes tipos de óleos, que são óleos que são utilizados em vez do girassol”.
“Nós neste momento estamos a gerir ‘stocks’ [existências], abastecimento, e de facto garantir que toda a nossa cadeia funcione, toda a cadeia de abasecimento desde o fornecimento ao abastecimento ao mercado, independentemente do custo”, disse João Paulo Rocha à Lusa.
Na quinta-feira, os preços do trigo e do milho subiram mais de 20 euros nos mercados europeus, enquanto a invasão da Ucrânia pela Rússia impede Kiev de exportar os grãos de cereais que permanecem nos silos.
A moagem de trigo e milho registou uma nova alta de preços no mercado europeu, encerrando nos 381,75 euros e 379 euros por tonelada nos prazos de março, respetivamente, com a guerra na Ucrânia a provocar receios quanto à oferta de grãos.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades.
As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de um milhão de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.