A inteligência artificial e o trabalho através de plataformas online têm potencial para melhorar a igualdade de género na economia, mas o Instituto Europeu para a Igualdade de Género alerta para o risco de aumento do sexismo e discriminação.
Um estudo do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês) divulgado hoje destaca que homens e mulheres enfrentam riscos diferentes na economia do futuro, onde se inclui o trabalho desenvolvido através de plataformas online ou aplicações nos telemóveis e inteligência artificial.
“Novas informações mostram que a inteligência artificial e o trabalho em plataforma online têm o potencial de melhorar a igualdade de género na economia. Contudo, há também o perigo de reforçarem o sexismo e a discriminação, ao mesmo tempo que enraízam o trabalho inseguro e a falta de proteção social”, alerta o EIGE.
Em comunicado sobre o estudo, o EIGE revela ter entrevistado quase cinco mil trabalhadores de plataformas online para compreender quem são, por que razão fazem este tipo de trabalho e que desafios enfrentam e concluiu que para muitas mulheres esta é uma forma de melhor combinar trabalho com as tarefas domésticas e compromissos familiares, uma realidade assumida por 36% das mulheres, contra 28% dos homens.
“No entanto, esta flexibilidade é uma prática limitada, com muitas mulheres a trabalhar à noite, ao fim de semana, e a horas que não podem escolher”, alerta o EIGE.
Por outro lado, segundo o EIGE, estes trabalhadores podem ser controlados através de software de monitorização do tempo, que deduz o “tempo de baixa produtividade” do salário.
Ferramentas como esta podem “representar uma ameaça particular para aqueles que cuidam de crianças pequenas”, salienta o instituto europeu.
No entanto, “no trabalho em plataforma, há uma maior percentagem de homens que fazem trabalhos tradicionalmente feitos por mulheres do que no mercado de trabalho tradicional”.
Isto inclui trabalho doméstico (mulheres: 54%, homens: 46%), cuidados infantis (mulheres: 61%, homens: 39%) e introdução de dados (mulheres: 47%, homens: 53%).
Na análise do EIGE, “embora isto possa ajudar a desafiar os estereótipos sobre o tipo de trabalho realizado por mulheres e homens, o inquérito mostra que as mulheres com elevado nível de instrução têm mais probabilidades de realizar trabalhos que não correspondem ao seu nível de instrução, o que as coloca em maior risco de perderem as suas competências”.
No que diz respeito à inteligência artificial, o EIGE defende que são necessárias mais mulheres, dando como exemplo que na União Europeia e no Reino Unido apenas 16% das pessoas que trabalham em inteligência artificial (AI) são mulheres.
Esta percentagem ainda diminui mais à medida que há uma progressão na carreira, já que as mulheres com mais de 10 anos de carreira constituem apenas 12% dos profissionais no setor, algo que para o EIGE pode ser justificado com os “ambientes dominados pelos homens e a falta de acesso ao financiamento”, que levam a que as mulheres abandonem a indústria.
“Os algoritmos também podem replicar preconceitos e discriminação do ‘mundo real’. Um exemplo é a formação de algoritmos com dados tendenciosos para perpetuar as práticas discriminatórias de contratação. Isto pode levar a que os currículos das mulheres sejam automaticamente descartados porque o seu perfil não se encaixa no de pessoas que foram contratadas antes – um problema numa organização composta principalmente por homens”, alerta o EIGE.
No entanto, admite que a AI pode ajudar a resolver problemas como a violência baseada no género e dá como exemplo o reconhecimento facial que deteta fotografias de vítimas de tráfico humano em anúncios de serviços sexuais.
Para o EIGE, para garantir que esta ferramenta funciona tanto para homens como mulheres, a União Europeia e os diferentes estados-membro deveriam fazer avaliações de impacto das novas tecnologias no género, exigir que os projetos financiados por dinheiros públicos tenham números equilibrados de homens e mulheres e formem engenheiros e cientistas informáticos sobre como evitar preconceitos.
Para o EIGE, a UE “está particularmente empenhada” em garantir que as suas políticas protejam mulheres e homens, dando como exemplo o facto de o EIGE ter desenvolvido uma série de ferramentas para ajudar os decisores políticos a alcançar esse objetivo.
Citada no comunicado, a diretora do EIGE, Carlien Scheele, que hoje irá falar na conferência ministerial da presidência francesa da UE, sobre a capacitação económica das mulheres, defendeu que a AI e o trabalho em plataformas online, apesar de fazerem parte da economia do futuro, têm de ser concebidos e regulados de maneira a proteger os trabalhadores.
“Esta é a nossa oportunidade de editar os estereótipos seculares, sexismo e discriminação do mercado de trabalho, e de criar uma realidade moderna que sirva tanto as necessidades das mulheres como dos homens”, sublinhou.
Segundo o EIGE, mais de 28 milhões de pessoas na UE trabalham atualmente através de plataformas de trabalho digitais. Em 2025, espera-se que o seu número atinja 43 milhões de pessoas. Entre 2016 e 2020, as receitas na economia das plataformas online quase quintuplicaram de um valor estimado em 3 mil milhões de euros para cerca de 14 mil milhões de euros.