Memórias do nosso passado, D. Afonso Henriques

Data:

O primeiro Rei de Portugal nasceu a 25 de julho de 1109 em Guimarães, e faleceu na Galiza a 6 de dezembro de 1185.

Aquele que foi o mais Ilustre dos portugueses, que conquistou arquitetou e deu corpo e alma à Nação portuguesa, deixou a sua marca indelével em todos os episódios seguintes da nossa história; sendo sempre uma referência, de coragem e amor à Pátria que ele próprio fundou. 

Afonso Henriques foi o filho primogénito do Conde Henrique da Borgonha, um cruzado que veio ajudar seu avô D. Afonso VI de Leão, na conquista de Toledo aos mouros, e de Dona Teresa filha bastada do Rei; tendo sido criado por Soeiro Mendes de Sousa e sua mulher, no Condado Portucalense. 

Ainda uma criança, foi sujeito a uma educação nobre sobretudo na vertente política, que viria a ser um elemento legitimador da Nação.

No ano de 1120 (note-se que tinha apenas 11 anos de idade), D. Afonso juntamente com D. Paio Arcebispo de Braga, assumiu uma posição política contrária à de sua mãe que apoiava os Travas na disputa do Condado; em consequência dessa sua posição, foi obrigado a emigrar com Dom Paio, que o armou cavaleiro aos 13 anos de idade.

Já com 19 anos e no seu regresso ao Condado em 1128, defrontou e venceu as hostes de Fernão Peres de Trava na conhecida Batalha de São Mamede; assumindo de imediato e com firmeza o governo do Condado, com o objetivo de mais tarde ver a independência confirmada pelo Papa.

Para tal; definiu uma política baseada na defesa do território já conquistado contra Leão e Castela a norte e leste, e os mouros ao sul; negociou com a Santa Sé no sentido de ver reconhecida a independência do seu Reino, e a autonomia plena da Igreja portuguesa.

Afonso Henriques fundou o mosteiro de Santa Cruz em Coimbra no ano de 1131, erigiu vários castelos onde se destaca o de Leiria no ano de 1135; que viria a ser um dos pontos estratégicos, para o desenvolvimento e consolidação da reconquista.

Em 1137 vence os leoneses em Cerneja, e no ano de 1139 venceu a Batalha de Ourique contra os mouros; vitória que marcou o caminho da expansão para Sul; na verdade é com a vitória na batalha de Ourique, que Portugal começa a delinear o projeto de vir a ser uma grande Nação.

Quando em 1143 passou a intitular-se Rei, prestou de imediato vassalagem à Santa Sé; e na reunião de Zamora, o Condado é definitivamente reconhecido por Dom Afonso VII de Leão.

Porém; é preciso esperar até 1179 pela Bula Manifesto Probatório do Papa Alexandre III, para ser designado Rei tinha então 70 anos de idade; sendo-lhe concedido o direito de conquistar mais territórios aos mouros para alargamento do território, o que ele na prática já tinha feito.

Recuando no tempo; às conquistas de Santarém e Lisboa em 1147 com a ajuda dos cruzados, seguiram-se Almada e Palmela que se entregaram sem lutar.

12 anos mais tarde em 1159 conquista Évora e Beja, as quais viria a perder pouco depois a favor dos mouros, tendo-as reconquistado em 1162 com a ajuda de Geraldo sem Pavor.

Quando da sua morte, o Rei guerreiro deixou para o seu filho D. Sancho I, um território definido e independente.

Afonso VI Rei de Leão e Castela que conquistou Toledo aos mouros, e o seu neto Afonso Henriques nunca se chegaram a conhecer; porque ele nasceu no ano em que o avô faleceu 1109, mas teria tido muito orgulho no seu neto Afonso porque também ele a seu exemplo, deixou marcas e feitos que impressionaram a imaginação dos seus contemporâneos.

Sobretudo as gerações que se seguiram, com grande enfase na época quinhentista; em que Portugal se assume como a primeira Nação globalizante, que deu a conhecer a Civilização ocidental e o Cristianismo a um Mundo desconhecido.

Existe muita deformação nas crónicas castelhanas e portuguesas dos fins do século XIII, uma centena de anos depois da sua morte; em que muitos dos seus feitos, foram omitidos por conveniência política de Espanha. 

A verdadeira história de Dom Afonso Henriques impressionava quem a ouvisse; filho de um Conde vassalo do Rei de Leão que morreu em 1112, quando ele era uma criança com três anos de idade. 

Antes de atingir a maioridade, já tinha retirado o Condado a sua mãe e ao seu amante Fernão Peres de Trava, que foi um dos maiores senhores da época com o qual ela vivia desde a morte do seu pai; sendo a partir desse momento, que tem que combater em três frentes; leoneses, galegos e mouros, que aparte alguns reveses sairia quase sempre vitorioso.

Em 11391140 decide adotar o título de Rei dos portugueses, e em 1143 conseguiu que D. Afonso VII de Leão e Castela, reconhecesse o seu direito de assim se intitular.

Entre 1140/1169 toda a sua história é baseada numa série de vitórias sobre os mouros, que lhe permitiu deslocar a fronteira do rio Mondego até ao interior do Alentejo; muito mais a Sul da linha do Tejo, como a história de Portugal documenta.

Mesmo que os contra-ataques dos mouros no fim do seu reinado, lhe tenham feito perder uma parte do território meridional já reconquistado, a linha do Tejo nunca mais viria a ser atravessada pelos mouros; e as duas grandes cidades de Lisboa e Santarém, nunca mais deixaram se ser portuguesas.

Toda esta sucessão de vitórias, não podia deixar de impressionar os seus contemporâneos; e também pelo acidente inesperado que provocou em 1169 em Badajoz a sua prisão aos 60 anos de idade, pelo seu genro Dom Fernando de Leão.

Afonso Henriques ficou prisioneiro, depois do ferrolho de uma das portas da cidade lhe partir a perna direita, quando saía montado no seu cavalo.

O acidente, encontra-se mencionado nas fórmulas que servem para datar alguns documentos leoneses; neles se fala do ano em que o Rei de Portugal foi feito prisioneiro em Badajoz. 

Posto em liberdade pelo seu genro em troca de algumas cidades que ainda possuía na Galiza, D. Afonso Henriques reinou até ao ano de 1185, tinha 76 anos de idade.

O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, em frente ao do seu filho D. Sancho I.

Afonso Henriques, conquistou o seu território com a força da espada, mas foi um Homem condescendente com os povos que subjugou ao seu Reino; onde muitos optaram por ficar a viver, centenas de anos pacificamente. 

Disso é testemunho, os milhares de nomes de Vilas e Aldeias de Norte a Sul de Portugal, que ainda hoje ostentam os mesmos nomes mouros, que tinham antes da reconquista.

O homem que conquistou aquela que chegou a ser uma grande Nação, será sempre lembrado por aqueles que conhecem a nossa história e amam Portugal; que com toda a certeza vão transmitir às gerações futuras, o legado que o melhor de todos nós nos deixou.

OBS: Um povo que ignora a sua história, será inevitavelmente sempre pobre.

Joaquim Vitorino

 

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