Assinalam-se esta sexta-feira cinco anos da morte de Mário Soares, combatente pela democracia contra o Estado Novo, fundador e primeiro líder do PS, antigo primeiro-ministro e Presidente da República, considerado a figura central da democracia portuguesa.
Nascido em 7 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, escritor e historiador, cuja vida se confunde com a própria história contemporânea portuguesa, morreu no dia 07 de janeiro de 2017, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha.
O primeiro Governo liderado pelo secretário-geral do PS, António Costa, decretou três dias de luto nacional.
“Perdemos aquele que foi tantas vezes o rosto e a voz da nossa liberdade. Mário Soares foi um homem que durante toda a sua vida se bateu pela liberdade. Fê-lo contra a ditadura, sofrendo a prisão, a deportação e o exílio”, afirmou António Costa a partir de Nova Deli, onde então se encontrava em visita de Estado à Índia.
O presidente da Assembleia da República, o socialista Ferro Rodrigues, considerou que tinha morrido “o militante número um da democracia portuguesa”, enquanto o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou Mário Soares como um “singular humanista e construtor de portugalidade”.
Três dias após a morte do fundador do PS, antigo primeiro-ministro (1976/1978 e 183/1985) e Presidente da República (1986/1996), em 10 de dezembro de 2017, milhares de pessoas, entre as quais 500 convidados, marcaram presença no funeral de Estado, que começou nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos e terminou com um cortejo fúnebre até ao Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, realizou-se a sessão solene evocativa de homenagem, que contou com diversas interpretações musicais e em que se escutaram uma mensagem de vídeo do primeiro-ministro, discursos emotivos dos filhos, João e Isabel Soares, e intervenções de Ferro Rodrigues e de Marcelo Rebelo de Sousa.
A coragem de Mário Soares nos momentos difíceis da sua vida foi recordada com emoção pelos filhos e ouviu-se também a voz de Maria de Jesus Barroso, mulher do antigo chefe de Estado, que falecera um ano e meio antes, em julho de 2015, a declamar “Os dois sonetos de amor da hora triste”, de Álvaro Feijó.
Para o primeiro funeral de Estado realizado em Portugal depois do 25 de Abril, deslocaram-se a Lisboa diversas entidades estrangeiras que estiveram também presentes da cerimónia de evocação, entre os quais o rei Felipe VI de Espanha e os Presidentes do Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau, o presidente do Parlamento Europeu, o presidente da Assembleia Nacional angolana e o vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba.
Após a cerimónia, que durou pouco mais de uma hora, à saída do Mosteiro dos Jerónimos, seis F-16 da Força Aérea sobrevoaram os céus da zona de Belém sob aplausos de centenas de pessoas.
Durante o funeral, de acordo com a reportagem da agência Lusa, o silêncio foi quase absoluto. Nem os passos dos militares que transportaram a urna se ouviram no meio do silêncio na alameda de entrada do Cemitério dos Prazeres.
A urna ficou junto à capela, decorada com uma foto gigante de Mário Soares e uma faixa preta com a frase “Unir os portugueses, servir Portugal”.
Pelos altifalantes, ouviu-se a voz de Mário Alberto Nobre Lopes Soares, no seu primeiro tempo de antena para as eleições presidenciais de 1986. Foi uma espécie de legado, dito pelo próprio: “Nasci num país intolerante e pobre, com fome nos campos e nas cidades”.
Foi depois lembrada a ditadura e a luta contra “o fascismo”, o 25 de Abril e a libertação do país.
E uma das últimas frases, que Soares proferiu no dia em que venceu a segunda volta das presidenciais, em 1986, em que reclamou para si a “vitória da tolerância”, a “vitória da liberdade”: “A verdade não pertence em exclusivo a ninguém e não há nada que substitua a tolerância”.