O ator norte-americano Sidney Poitier, primeiro ator negro a receber um Óscar, pela participação no filme “Os Lírios do Campo” (1963), morreu aos 94 anos, anunciou hoje o vice-primeiro-ministro das Bahamas, Chester Cooper.
“Perdemos um ícone, um herói, um mentor, um combatente e um tesouro nacional”, escreveu o governante na sua página da rede social Facebook, sem mencionar mais detalhes sobre a morte.
Protagonista de filmes como “Adivinha Quem Vem Jantar” ou “No Calor da Noite”, na década de 1960, Sidney Poitier também se tornou o primeiro artista negro a receber um Óscar honorário pelo conjunto da obra, em 2002.
Nascido em Miami, nos Estados Unidos, em 1927, cresceu em Cat Island, nas Bahamas, de onde era originária a família.
Sidney Poitier participou em mais de meia centena de filmes, alguns criados para televisão, e também realizou uma dezena de longas-metragens, entre 1970 e 1990, como “Direito por Linhas Tortas” (1972), “Dois Amigos em Apuros” (1980) e “O Papá Fantasma” (1990).
Nascido a 20 de fevereiro de 1927, viveu nas Bahamas até aos 13 anos, e abandonou os estudos para regressar aos Estados Unidos, onde trabalhou em vários empregos, acabando recrutado para o exército norte-americano durante a II Guerra Mundial.
Depois do fim do conflito foi viver para Nova Iorque e tentou fazer carreira no teatro, onde fez várias figurações.
Acabou por ser notado pelo realizador Joseph L. Mankiewicz, que o convidou para o papel de um médico no policial “Falsa Acusação” (1950), destacando-se depois no filme “Sementes de Violência” (1955), de Richard Brooks, sobre o romance homónimo de Evan Hunter, onde interpretou um jovem aluno rebelde.
A primeira nomeação para Melhor Ator surgiu em 1958 pelo seu papel de evadido ao lado do ator Tony Curtis, em “Os Audaciosos”, de Stanley Kramer.
Mesmo com a discriminação racial que se vivia na época, em Hollywood, conseguiu finalmente a distinção em 1963, pelo desempenho em “Os Lírios do Campo”, de Ralph Nelson, onde interpretou um pedreiro que auxiliava um grupo de freiras a construir uma capela no deserto do Arizona.
Para trás ficara outro desempenho de relevo, como coprotagonista de “Porgy & Bess”, que Otto Preminger adaptara ao cinema, em 1959.
As interpretações permitiram-lhe ascender a estrela de Hollywood, começando a receber convites para papéis sobre questões polémicas, como em “Adivinha Quem Vem Jantar”, novamente de Stanley Kramer, o primeiro filme a explorar abertamente a questão do amor inter-racial, em 1967, contracenando de igual para igual com atores como Katharine Hepburn e Spencer Tracy.
Em “No Calor da Noite”, o filme de Norman Jewison do mesmo ano, vencedor de cinco Óscares em 1968, coliderou um elenco com Rod Steiger e Warren Oates, no papel de um detetive nova-iorquino chamado a investigar um homicídio numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos, em pleno clima de luta anti-segregacionista.
A partir de 1971 lançou-se na realização, com “Direito por Linhas Tortas”, a que se seguiram títulos como “Um Dezembro Quente”, “Amigos em Apuros”, “Casal Trapalhão” e “O Papá Fantasma”.
Produtor, argumentista de “Um Homem para Ivy” (1968), Sidney Poitier continuou no grande ecrá, até ao final da década de 1990, em filmes como “Os Caminhos da Liberdade”, de Ralph Nelson, “Atirar a Matar”, de Roger Spottiswoode, “O Pequeno Nikita”, de Richard Benjamin, “Heróis por Acaso”, de Phil Alden Robinson, e “O Chacal”, de Michael Caton-Jones.
Foi também presença regular em produções televisivas como “Um Heroi do Nosso Tempo” e “David e Lisa”.
Um dos seus últimos desempenhos foi o de Nelson Mandela em “À Margem da Lei”, que Joseph Sargent dirigiu para a televisão, em 1997.