Para além da tradicional reunião familiar, o Natal dos portugueses onde quer que estejam, é sempre um renovar de esperança, em especial para aqueles que tiveram que partir para melhorar as condições de vida, e dar um futuro mais digno aos seus descendentes.
A imagem do Natal foi sempre uma constante no pensamento dos nossos emigrantes; a reunião familiar nestes dias tão marcantes da nossa cultura Cristã, constituiu um grande alento para os que tiveram que enfrentar grandes dificuldades, até se integrarem nos países de acolhimento.
Recordo também, o Natal dos nossos marinheiros dentro das Caravelas no meio dos Oceanos; e das saudades que tinham da humilde casa onde nasceram, dos pais irmãos e avós, (muitos eram ainda crianças com idades a partir dos 12 anos), levados para servir de grumetes; é por isso que eu faço sempre uma viagem de centenas de anos no tempo, nesta quadra tão marcante na memória dos portugueses.
Os nossos emigrantes são os que mais intensamente vivem o Natal; muitos não se deslocam ao seu país de origem há muitos anos, e outros perderam as suas raízes familiares ao ligarem as suas vidas a famílias dos países de acolhimento.
É um custo dramático do fenómeno emigratório, com tremendas repercussões na taxa demográfica do país; cujos efeitos não têm sido seriamente contabilizados; é por isso que o próximo governo saído das eleições de 30 de janeiro, tem que criar condições para travar a emigração qualificada imprescindível, na recuperação do nosso país a todos níveis.
Os portugueses são um povo generoso, que têm exercido a solidariedade entre si quase ao limite nos últimos anos; sendo precisamente nesta quadra natalícia que a colocam à prova, na ajuda aos mais de dois milhões de pobres que vivem no limiar da pobreza extrema.
No entanto é ao Estado, que cabe assumir o papel fundamental na ajuda aos mais carenciados o que não tem acontecido; e as instituições particulares estão em grandes dificuldades para dar resposta a esta tragédia, que também está a atingir uma faixa da população, que há poucos anos pertencia à classe média em Portugal.
A pobreza chegou a Portugal disfarçada de democracia e veio para ficar; a fuga de centenas de milhares dos nossos cérebros, não ajuda a inverter esta situação que se agravará nos próximos anos; é o futuro que espera os mais carenciados e parte do que resta da classe média, onde mais de 40 por cento não terão possibilidades para educar os seus filhos; onde apenas um em cada 10 terá condições económicas para frequentar numa Universidade, com a agravante de que o futuro do ensino em Portugal será a privatização.
Reconhecidamente um círculo vicioso porque nos empobrece a sua saída, os emigrantes portugueses são hoje a elite da migração Mundial, o que muito dignifica o nosso país; é a eles que o “Mundo Português” dedica esta minha crónica de Natal.
Joaquim Vitorino
Ex-emigrante no Reino Unido