José Carlos Costa Barros venceu o Prémio Leya 2021, por unanimidade do júri, com a obra “As Pessoas Invisíveis”, anunciou hoje a organização.
À edição deste ano concorreram 732 originais, dos quais foram selecionados 14 para apreciação do júri, presidido pelo escritor Manuel Alegre, que anunciou José Carlos Barros como vencedor.
“As Pessoas Invisíveis” é uma viagem por vários tempos da história recente de Portugal, desde a década de 40 do século XX, narrada a partir de uma personagem ambígua, Xavier, que age como se tivesse um dom ou como se precisasse de acreditar que tem um dom, revelou o júri.
“Dos anos 40 do século XX, com a ambição do ouro, a posição de Salazar face à guerra, a guerra colonial com todas as questões que hoje levanta, o nascimento e os primeiros anos da democracia. Em todas estas paisagens e em todos os tempos que o romance toca, a palavra é de quem não a costuma ter. Dramática, velada, fugaz, lapidar, tocada pelo sobrenatural”.
Ainda segundo a descrição do júri, “os habitantes do mundo rural ou os negros das colónias são seres quase diáfanos que sublinham uma sensação de quase perdição que atravessa todo o livro e constitui um dos seus pontos mais magnéticos. Em ‘As Pessoas Invisíveis’, o leitor é convocado para preencher com a sua imaginação o não dito, os silêncios, o invisível”.
Outro aspeto salientado na escolha desta obra foi o trabalho de linguagem, o domínio de uma “oralidade telúrica a contrastar com a riqueza de vocabulário e de referências histórico-sociais”.
Esta não foi a primeira vez que José Carlos Barros concorreu ao Prémio Leya, já que em 2012 foi finalista com o romance “Um Amigo para o Inverno”, editado no ano seguinte pela chancela Casa das Letras.
Autor de vasta obra poética, a sua estreia na prosa aconteceu com “O Prazer e o Tédio”, romance que o cineasta André Graça Gomes adaptou ao grande ecrã, em 2012, sem financiamento e com atores amadores. A longa-metragem foi rodada em Boticas, onde o escritor nasceu, em 1963, e aborda a angústia do mundo rural.
Licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora, José Carlos Barros vive em Vila Nova de Cacela, no Algarve.
Tem exercido atividade profissional no âmbito do ordenamento do território e da conservação da natureza, e foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa. Foi também técnico superior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e da Direção Regional do Ambiente do Algarve.
Antigo deputado do PSD, José Carlos Barros foi vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e presidente da Assembleia Municipal da mesma cidade. É vereador, sem pelouro, naquela câmara.
Entre os vários livros de poesia que escreveu destacam-se “uma abstração inútil”, “Todos os náufragos”, “Teoria do esquecimento”, “Pequenas depressões” (com Otília Monteiro Fernandes) e “As leis do povoamento” (editado também em castelhano).
Com “Sete epígonos de Tebas” venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2009.
Os seus livros de poesia mais recentes são “O uso dos venenos”, “A educação das crianças”, “Estação – Os poemas do DN Jovem”, e “Penélope escreve a Ulisses”.
Antes de anunciar o vencedor, Manuel Alegre fez saber que no início da reunião, Lourenço do Rosário – um dos membros do júri, professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo – fez uma declaração de protesto contra as medidas da União Europeia, de proibição dos voos para Moçambique e outros países da África Austral.
“Os membros do júri associaram-se a esta tomada de posição”, afirmou o presidente.
Além de Manuel Alegre e de Lourenço do Rosário, fizeram também parte do júri da edição deste ano a poetisa angolana Ana Paula Tavares, a jornalista portuguesa Isabel Lucas, o professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, o escritor Nuno Júdice e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck.
O Prémio LeYa tem um valor de 50 mil euros e é o maior prémio literário para romances inéditos de todo o mundo de língua portuguesa.
Atribuído por prova cega, a autoria dos romances é desconhecida ao longo de todo o processo de leitura e avaliação: “A autoria do romance vencedor, selada em sobrescrito, apenas é conhecida depois de tomada a decisão do júri”, explica o grupo editorial.
Em 2010, 2016 e em 2019 o júri não atribuiu o galardão, justificando “falta de qualidade” das obras candidatas. No ano passado, o prémio foi suspenso por causa da pandemia.
O último vencedor, em 2018, tinha sido o escritor brasileiro Itamar Vieira Junior, com “Torto Arado”, romance que posteriormente viria a ganhar também os prémios Jabuti e Oceanos.
Os anteriores vencedores foram João Pinto Coelho, António Tavares, Afonso Reis Cabral, Gabriela Ruivo Trindade, Nuno Camarneiro, João Ricardo Pedro, João Paulo Borges Coelho e Murilo Carvalho.