O desígnio e imperativo de valorização do conhecimento da história da emigração portuguesa têm impelido, nos últimos anos, o poder político a procurar incrementar estratégias culturais capaz de aglutinar os espaços museológicos ligados ao fenómeno migratório que se encontram disseminados pelo território nacional.
Uma dessas estratégias foi implementada no alvorecer do ano que agora está a findar, através da apresentação por parte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, liderada por Berta Nunes, de um projeto que visa a criação de uma rede museológica digital dedicada à emigração lusa.
Uma rede museológica, cuja principal ambição passa por ligar a história da diáspora portuguesa e suas vias de acesso, via digital e num itinerário real, fisicamente implantado, apto a reconhecer os diferentes fluxos migratórios e capaz de atrair o interesse pelo país e suas gentes. Como sustenta Luís Castro Mendes, embaixador e antigo ministro da Cultura que preside ao conselho de consultores do projeto, pretende-se assim fomentar “uma rede entre espaços museológicos, com vantagens em relação a um museu que concentrasse tudo”.
Precursora de uma visão museológica desconcentrada, esta rede museológica visa, mediante a dinamização de uma plataforma online, disponibilizar os acervos do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, do Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço, e do Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande. Uma plataforma que seguramente também não olvidará projetos e instituições como o Cais da Língua e das Migrações, em Matosinhos, o Museu Português da Migração, no Sabugal, o Espaço Memória e Fronteira, no Fundão, o Museu do Salto, em Vilar Formoso, ou o Museu da Família Teixeira, na Madeira.
Esta plataforma, que pretende ligar os espólios que em Portugal contam a história da emigração portuguesa, pode e deve aglutinar ainda espaços museológicos que têm sido construídos ao longo das últimas décadas por portugueses no estrangeiro. Como, por exemplo, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, em Toronto, impulsionada no presente pelo comendador Manuel DaCosta, e que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá; o Museu da Imigração, em Lausanne, na Suíça, criado pelo português Ernesto Ricou, que depois de quase uma vintena de anos de atividade na Avenida de Tivoli, tem uma nova casa na rua Saint-Martin 36, incluído no centro dedicado aos migrantes, com o apoio das igrejas católicas e protestantes; o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, que tem procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana; ou o Museu Histórico Português em São José, Califórnia, dedicado às tradições lusas, em especial religiosas, neste estado norte-americano.
Uma ligação que pode e deve ainda procurar interligar-se com vários museus nacionais espalhados pela geografia da diáspora portuguesa, e cujos espólios acentuam o contributo marcante da imigração portuguesa no desenvolvimento dessas pátrias de acolhimento. Como, por exemplo, o Museu Nacional da Imigração Canadiano, localizado em Halifax, na província da Nova Escócia, que conserva nas suas variadas coleções inúmeros testemunhos da presença portuguesa no país; o Museu Nacional da História da Imigração em Paris, cujos documentos de arquivo, imagens, obras de arte, objetos da vida diária e testemunhos visuais e sonoros destacam o papel e importância da comunidade portuguesa em França, ou o Museu da Baleação de New Bedford, cuja ala dedicada aos baleeiros dos Açores, presta homenagem aos portugueses, mormente açorianos e o seu significativo contributo para a herança marítima norte-americana.
Estes espaços museológicos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados na pátria de origem ou de acolhimento dos portugueses espalhados pelo mundo, são uma indubitável mais-valia na perpetuação da memória da emigração lusa, e fundamentais para a prossecução da missão descentralizada e polinuclear da rede museológica digital dedicada à emigração portuguesa.