O Presidente da República condecorou esta terça-feira postumamente José Saramago com o grande-colar da Ordem de Camões, pelos “serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas”, no arranque das comemorações do centenário do nascimento do escritor.
Marcelo Rebelo de Sousa entregou a condecoração à presidente da Fundação José Saramago e viúva do escritor, Pilar del Río, no Teatro Nacional São Luiz, em Lisboa, antes do concerto de abertura oficial das comemorações deste centenário.
“José Saramago, Prémio Nobel e Prémio Camões, bem merece que lhe seja conferida, a título póstumo, outra distinção que evoca o nosso poeta quinhentista: a Ordem de Camões, definitivamente institucionalizada neste ano, e que se destina a galardoar serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas”, afirmou o chefe de Estado.
“E estou certo de que essa definição e o grande-colar que vou entregar a Pilar del Río contêm, em si mesmos, a justificação deste gesto tão merecido e tão simbólico, em nome de Portugal”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
Na assistência estavam, entre outros, o primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.
José Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, na aldeia ribatejana de Azinhaga, e morreu em 18 de junho de 2010, na ilha espanhola de Lanzarote. O centenário do seu nascimento começou a ser celebrado, um ano antes, com uma programação cultural internacional.
O Presidente da República referiu que “a Fundação [José Saramago], as escolas, as bibliotecas, os teatros, os poderes públicos e a sociedade, em Portugal e por todo o mundo”, irão comemorar esta data e que, “desse vasto programa, este é um dos momentos marcantes e mais institucionais”.
Numa intervenção de cerca de cinco minutos, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que José Saramago seria o primeiro a reconhecer “que as palavras fazem coisas, levantam as pessoas da opressão, mudam-lhes o destino, mudam o que acontece, reveem a história, permitem o futuro”.
“A um escritor, e a um escritor como Saramago, é dado fazer acontecer o seu próprio destino, que é contrário de um destino: pertencer ao sítio onde se nasceu, mas ir mais longe, trabalhar a palavra dos outros como tradutor ou a atualidade como jornalista e escrever textos seus que vão muito além da circunstância, chegar aparentemente tarde ao cânone e nele se integrar com uma força indesmentível e irresistível, escrever para os portugueses e atingir todo o mundo”, prosseguiu.
O chefe de Estado assinalou o alcance da “palavra do escritor” que, “sendo individual, dirige-se a todos, e chega a muitos, muitos, muitos milhões”, e realçou depois que a “palavra do Presidente”, por sua vez, “representa muitos, alguns milhões”, em nome dos quais atribuiu a Saramago a distinção póstuma com o mais alto grau da Ordem de Camões.