O músico brasileiro Gilberto Gil, de 79 anos, foi eleito para o quadro de membros efetivos da Academia Brasileira de Letras (ABL), passando a ocupar a cadeira 20, anteriormente pertencente ao jornalista Murilo Melo Filho.
Gilberto Gil tornou-se assim um “imortal” da ABL, num evento que decorreu no palacete Petit Trianon, no Rio de Janeiro, uma semana após a atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, ter sido eleita, sem concorrência, para a cadeira 17.
”Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo. Nós o recebemos com afeto e alegria”, declarou o presidente da ABL, Marco Lucchesi, citado em comunicado.
Além de Gil, concorreram também para a cadeira 20 o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daun, mas o músico brasileiro saiu vencedor com 21 votos.
“Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha”, agradeceu o artista lusófono na rede social Twitter.
Seguindo o modelo da Academia Francesa, a ABL é constituída por 40 membros efetivos e perpétuos, apelidados de “imortais”. Além deste quadro composto por brasileiros, existem 20 membros correspondentes estrangeiros.
Quando um membro da ABL morre, a cadeira é declarada vaga numa sessão denominada “Saudade”, tendo os interessados em ocupar a vaga dois meses para se candidatarem.
A cadeira 20 tem como patrono o médico e jornalista Joaquim Manuel de Macedo e já pertenceu a um dos fundadores da ABL, Salvador de Mendonça.
Participaram na votação 34 académicos de forma presencial ou virtual, sendo que um não votou por motivos de saúde.
Gilberto Gil iniciou a sua carreira no acordeão, ainda nos anos 1950, inspirado por Luiz Gonzaga, pelo som do rádio e pela sonoridade do nordeste brasileiro.
Com a ascensão da bossa nova, o músico deixou de lado esse instrumento e passou a usar o violão e, em seguida, a guitarra elétrica, presentes na sua obra até hoje.
“A suas canções desde cedo retratavam seu país, e sua musicalidade tomou formas rítmicas e melódicas muito pessoais. Seu primeiro disco, ‘Louvação’, lançado em 1967, concentrava a sua forma particular de musicar elementos regionais, como nas conhecidas canções ‘Louvação’, ‘Procissão’, ‘Roda’ e ‘Viramundo'”, detalhou a ABL em comunicado.
Em 1963, iniciou com Caetano Veloso uma parceria e um movimento, denominado “Tropicália”, que contemplava e internacionalizava a música, o cinema, as artes plásticas, o teatro e toda a arte brasileira.
“O movimento gerou descontentamento da ditadura vigente, que o considerava nocivo à sociedade com os seus gestos e criações libertárias, e acabou por exilar os parceiros. O exílio em Londres contribui para a influência do mundo pop na obra de Gil, que gravou inclusive um disco” na capital britânica, “com canções em português e inglês”, acrescentou a Academia.
Ao regressar ao Brasil, Gil deu continuidade à sua produção musical, que dura até aos dias de hoje e que acumula quase 60 discos e cerca de quatro milhões de cópias vendidas, tendo sido premiado com noves ‘Grammys’.
Em 2002, após a sua nomeação como ministro da Cultura, o agora académico da ABL passou a circular também pelo universo sociopolítico, ambiental e cultural internacional.
Gilberto Gil terminou no último domingo a sua digressão europeia, que passou por cinco cidades portuguesas (Vila Real, Castelo Branco, Lisboa, Braga e Santarém), acompanhado pela cantora Adriana Calcanhotto.