As oliveiras carregadas de fruto faziam antever uma boa safra de azeite no Centro de Portugal, em 2021, mas a instabilidade climática defraudou em parte a expectativa de vários produtores ouvidos pela agência Lusa.
A presidente da Associação de Olivicultores da Serra de Sicó (OLIVISICÓ), Isabel Guiomar, admitiu que “a rendibilidade do fruto é este ano um bocadinho inferior” e que a qualidade em geral “também baixou um pouco”.
“O azeite, com uma acidez entre 0,8% e 0,9%, não tem aquela qualidade que devia ter. Não é mau, mas hoje em dia já conseguiríamos 03% ou 04%”, adiantou à agência Lusa.
A dirigente da OLIVISICÓ, com sede no concelho de Ansião, norte do distrito de Leiria, explicou que, para evitar a podridão da azeitona, devido ao ataque da mosca, “houve muitas pessoas que começaram a apanhar mais cedo”.
“Depois da picada da mosca da azeitona, vem a gafa e corriam o risco de perder um pouco da colheita”, referiu, para explicar que, nos municípios ligados à Serra de Sicó – Pombal, Alvaiázere, Ansião (distrito de Leiria), Penela, Condeixa-a-Nova e Soure (distrito de Coimbra) – “mais de 65% da azeitona já está colhida”.
Isabel Guiomar frisou, contudo, que “este foi um ano abundante”, ao contrário de 2020, que registou uma produção “muito mais baixa”.
“As novas práticas de poda e cultivo da oliveira têm dado melhores resultados nos últimos anos”, congratulou-se a presidente da OLIVISICÓ.
Junto à Serra da Lousã, mas no município de Miranda do Corvo, Luís Pereira continua empenhado, ano após ano, na colheita da azeitona da família, um trabalho que faz habitualmente nos dias de folga da profissão de motorista.
“Este não foi um ano muito favorável. Perdeu-se metade da azeitona mais ou menos”, declarou à Lusa, confirmando que “muita azeitona gafada” caiu das árvores no início do outono.
Luís Pereira assume-se com pequeno produtor, com algumas dezenas de oliveiras mais antigas e outras jovens que ainda não frutificam, que apenas poda, não aplicando qualquer tratamento químico.
Apanhou desta vez 1.200 quilos de azeitona, contra cerca de duas toneladas em média nos anos anteriores.
“Este ano, as minhas oliveiras estão carregadíssimas”, descreveu Ermindo Dias, que em 2018 fez uma plantação de dois hectares, também no concelho de Miranda do Corvo.
É dono de um restaurante, em Coimbra, e em breve abre um segundo estabelecimento na aldeia natal, Rio de Vide, onde produz azeite em lagar próprio, além de vinho, dois produtos certificados.
“Espero colher 10 a 12 toneladas. O meu olival tem só dois anos e meio e está a produzir pela primeira vez”, realçou.
Tanto o azeite como o vinho, para já, destinam-se a consumo nos dois restaurantes e para vender a clientes de diversos países.
“É um ano de muito azeite. Qualquer variedade está a produzir bem, já que com o tratamento fitossanitário temos poucas perdas”, esclareceu.
No Rabaçal, concelho de Penela, o engenheiro alimentar Paulo Duarte dirige o Ouro de Sicó, um lagar de azeite da família que labora desde 2009 e que agora emprega 11 a 12 trabalhadores.
“Após concluir a licenciatura na Escola Superior Agrária de Coimbra, tive de arregaçar as mangas para pagar dívidas. Tenho trabalhado muito, mas a nossa margem de lucro é muito pequena”, lamentou.
Com o modelo de funcionamento desta unidade, o bagaço da azeitona, misturado com a água ruça, é transportado para uma empresa de Monforte, no distrito de Portalegre, que procede ao aproveitamento dos subprodutos.
“É um encargo que encarece muito a nossa produção e este bagaço não é valorizado”, frisou Paulo Costa.
O Ouro de Sicó está há quase três semanas em laboração contínua, 24 horas por dia.
“Há muito azeite, mas não tem qualidade. A azeitona chega muito estragada devido ao clima”, disse.
Em 2020, a unidade fabril do Rabaçal funcionou apenas seis a sete horas durante alguns dias: “Foi a pior campanha desde 2009”.
Paulo Costa prevê que o seu lagar esteja ainda mais duas semanas em atividade na presente campanha.