A feira internacional Fine Arts, em Paris, recebeu obras de Aurélia de Sousa e de Maria Luísa de Sousa Holstein quando tudo “ainda está por descobrir” em relação à arte portuguesa em França.
Um retrato de uma jovem ruiva de Aurélia de Sousa e um alto-relevo de um rosto feminino da 3.ª Duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein, foram as principais apostas de Philippe Mendes, antiquário lusodescendente e proprietário da Galeria Mendes, em Paris.
Até dia 11 de novembro, a Galeria Mendes e mais de 50 galerias francesas, britânicas ou italianas estão reunidas no salão Fine Arts, no Carroussel du Louvre, um espaço de exposições no Museu do Louvre, num dos encontros mais prestigiados do calendário das antiguidades a nível mundial.
No seu espaço, Philippe Mendes, especialista em arte portuguesa, mistura obras de artistas portugueses com artistas franceses ou italianos, surpreendendo muitas vezes os visitantes quando estes se apercebem que se trata de obras lusas.
“Adorei a obra [de Maria Luísa de Sousa Holstein], quando a vi pela primeira vez, achei que tinha um aspeto muito internacional. Todos tentam encontrar nomes franceses ou italianos, alemães, mas acabam sempre por ter uma grande surpresa quando chegam ao lado da obra e veem que é uma escultora portuguesa”, afirmou o galerista, em declarações à agência Lusa.
Philippe Mendes revelou que estas duas obras foram localizadas por si durante o período do confinamento, que, apesar de ter fechado as galerias, lhe permitiu encontrar obras e ficar mais tempo em Portugal.
Sem encontro presencial em 2020 devido à pandemia, a Fine Arts regressa este ano com a sua quinta edição e os colecionadores, diretores de museus franceses e curadores não faltaram à chamada, com uma abertura movimentada na noite de sexta-feira.
“A maior parte das pessoas estava com um apetite imenso de voltar às feiras, de voltar a ver obras, ao prazer de adquirir obras. A feira está cheia e não parou. Grandes colecionadores, diretores de museus. Com um grande dinamismo”, relatou o galerista.
Muitas das obras portuguesas trazidas pela Galeria Mendes a esta feira internacional foram vendidas, entre elas a escultura de Maria Luísa de Sousa Holstein, o quadro de Aurélia de Sousa, assim como o quadro “Boca do Inferno”, da autoria de João Cristino da Silva, que foi destacado no percurso escolhido pela organização para os visitantes.
Philippe Mendes, que também ensina arte portuguesa na Escola do Louvre, uma escola especializada em História da Arte, considera que ainda falta descobrir tudo da arte portuguesa em França.
“Era importante mostrar tudo. A arte portuguesa é completamente desconhecida cá. Uma ou duas coisas são conhecidas, alguns artistas contemporâneos, mas o resto não. E não falo do grande público, estou a falar dos profissionais da arte: diretores de museus, conservadores. De repente, descobrem que é tudo novo. É um novo sopro esta descoberta em Paris, com grande entusiasmo”, garantiu.
Já na Temporada Cruzada entre Portugal e França, que vai começar em fevereiro de 2022, Mendes lamenta que a aposta não se vá centrar em todos os períodos da arte portuguesa.
“Vai haver algumas exposições, mas não aquelas grandes exposições que estávamos à espera. Era importante apostar na História de Portugal, na arte medieval, nas Descobertas, a arte do século XVII e XVIII e tenho pena. É o que estão à espera aqui. Portugal não se pode resumir ao presente”, lamentou.
Uma exposição já confirmada para esta Temporada Cruzada é a mostra de mais de 10 obras portuguesas dos pintores apelidados como ‘primitivos portugueses’ numa sala do Museu do Louvre com inauguração prevista para junho de 2022.