Fado volta a ouvir-se em Cabo Verde pela voz de Cuca Roseta

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A portuguesa Cuca Roseta atua este fim de semana em Cabo Verde, um dos primeiros espetáculos musicais que o arquipélago recebe desde o início da pandemia de covid-19, o que deixa a fadista expectante.

“Fico muito feliz e surpreendida porque eu adorei vir a Cabo Verde, marcou-me imenso (…) acho que [este convite] tem a ver com o facto de terem gostado da minha música nessa altura, que foi a primeira vez que eu vim”, explica Cuca Roseta, em entrevista à agência Lusa, na cidade da Praia.

A fadista atua no sábado no Cabo Verde Music Awards, é mesmo a única convidada internacional, e na noite seguinte realiza um concerto num hotel da capital cabo-verdiana, regressando ao arquipélago após a presença no Kriolo Jazz Festival, em 11 de abril de 2019, que foi então também a última edição presencial, devido à pandemia.

Com a situação epidemiológica em mínimos de casos desde o início da pandemia, em março de 2020, o Governo cabo-verdiano já levantou várias restrições, nomeadamente a possibilidade de lotação máxima em salas de espetáculos, mantendo a exigência de máscara apenas em locais fechados como das últimas restrições ainda em vigor e quando mais de 80% da população também já recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19.

“Fico feliz que aqui estejam a começar os primeiros passos e que eu tenha sido um dos primeiros nomes a ser chamada”, confessa a artista portuguesa.

Sobre o regresso a Cabo Verde, recorda desde logo o concerto anterior, de 2019, como o que “um dos que mais gostou” na carreira, pela vibração “única” transmitida pelo público cabo-verdiano: “Foi espetacular (…) eu nunca tinha visto o público dançar o fado, incrível. Os cabo-verdianos têm mesmo a música dentro deles”.

No último ano, em plena pandemia, Cuca Roseta editou dois discos – sete em toda a carreira -, um deles de homenagem a Amália Rodrigues, “Amália por Cuca Roseta”, e mais recentemente “Meu”, um trabalho em que assume a totalidade da escrita e composição de todos os temas.

Reconhece “influências” do Brasil e proximidade à morna cabo-verdiana no seu fado, desde logo no “timbre doce”.

“Acaba por ser mais parecido com a morna”, conta, embora assuma ser também “nostálgico e muito profundo”.

“Aqui a morna é igual, há uma doçura”, diz, sem esconder o desejo de, como já fez com um trabalho mais próximo ao Brasil, dedicar-se à morna, género musical cabo-verdiano que desde dezembro de 2019 é Património Imaterial da Humanidade.

“Fazer mesmo um disco? Eu adorava (…) Para mim seria interessantíssimo poder fazer um encontro entre a morna e o fado. Deve ser uma coisa lindíssima e não há muita gente que o tenha feito”, assume.

A fadista admite ter “expectativas altíssimas” para os concertos deste fim de semana, incluindo no domingo um espetáculo intimista no Hotel Trópico, na Praia, e recorda ter ainda “na memoria o calor do público cabo-verdiano”

“E fiquei muito feliz por ter sido convidada para os prémios”, diz ainda, referindo-se ao Cabo Verde Music Awards 2021.

No último ano recorda que já realizou cerca de meia centena de espetáculos, apesar do contexto da pandemia, numa atividade que aumentou no verão.

“Nós em Portugal já andamos num ritmo fantástica neste momento. Nos últimos três meses tivemos muito, muito trabalho, e até mais trabalho do que num ano normal (…) é esta vontade que as pessoas tinham, e saudade, da música”, assume.

Contudo, admite as dificuldades que a pandemia representou: “Reinventámo-nos e acabamos por ser elogiados e seguidos. Pensamos que se as pessoas não vêm ao palco, nós levamos o palco às pessoas”.

Com concertos à janela em Lisboa, projeto que depois alargou ao país, Cuca Roseta manteve a música nas fases mais complicadas da pandemia, incluindo com concertos nos hospitais, para os profissionais de saúde.

“Foi das experiências mais incríveis da minha vida. Estávamos todos emocionados”, confessa.

Apesar de preferir sublinhar as lições e reinvenções proporcionadas pelos últimos meses, Cuca Roseta não esconde a preocupação com o impacto que a pandemia provocou na atividade.

“Foi muito complicado para o nosso setor, mesmo muito. E não só para os artistas, mas acima de tudo para os músicos, os produtores, os técnicos de luzes, os técnicos de palco, viu-se muitas pessoas mudarem de vida e foi muito triste. Ver músicos inacreditáveis a mudar de vida”, lamenta.

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