Eles despertaram, e fizeram tremer o mundo; em menos de duas décadas conseguiram colocar os seus países na frente da produção, ultrapassando empresas ocidentais que ainda há pouco tempo eram consideradas impenetráveis; e inundaram os mercados com preços, que a produção do ocidente não tem possibilidade de competir.
Os novos gigantes já dominam 80 das 120 maiores empresas mundiais, e controlam mais de 55% do PIB global; estando estrategicamente colocados em todo o Planeta pelo que nestas condições, a concorrência é praticamente nula.
A seguir ao segundo conflito mundial, beneficiaram de uma política de globalização lançada pelo ocidente, quando a procura de mão de obra barata ditou a deslocalização do melhor que existia em tecnologia para os países asiáticos, e inicialmente também para o sul da Europa.
Estados Unidos e União Europeia, não têm condições para concorrer com estes novos monstros da produção, dentro do contexto económico que ao longo dos anos acompanhou o nosso crescimento; que foi sempre baseado em salários minimamente justos, dos quais resultou o surgimento das classes média e alta e também de muitos milionários.
Eles nunca vão ceder em favor das suas congeneres ocidentais; é que, para além de um elevado consumo interno têm o suporte dos seus governos, e nos quadros das empresas estão muitos dos membros de topo dos partidos como é o caso da China, que não tem qualquer problema para as alimentar, porque tem os cofres do país a abarrotar de divisas, que foram acomuladas ao longo de anos, fruto de uma severa restrição ao consumo, e liberdade do povo severamente condicionada.
Enquanto que os ocidentais fizeram exatamente o contrário; consumiram em grande escala o que os outros produziam, e agora aparece o reverso da medalha; é que, para competirmos com eles teríamos que reduzir drasticamente o nosso estilo de vida, e para impor a esses países os nossos produtos era preciso que a nossa produção fosse mais barata que a deles, e aceitarmos o padrão de vida que eles tinham há 25 anos atrás; uma situação que é de todo impossível, porque nunca seria tolerada pelas democracias ocidentais.
Na Índia onde se produz mais de 50% da micro tecnologia de ponta, é feita uma seleção rigorosa nas suas universidades, onde os cérebros mais brilhantes, são depois enviados a custas do Estado para as melhores Universidades dos EUA e Reino Unido, e regressam à India com (know how) saber como, dirigir as grandes empresas do país.
Não tenho espaço para detalhadamente mencionar todas as gigantes que as concorrentes ocidentais têm que enfrentar, mas vou deixar alguns exemplos: China é a responsável por 30% do crescimento do PIB mundial nos últimos 20 anos: algumas das suas grandes empresas mais conhecidas: Geely International, Johnson Eletronic, Wanxiang Group, Aviation Industry Corporation, China National Offshore Oil Corp, Goldwind, Petrochina, Shanghai Eletric Group, Sinopec, e Trina Solar: Japão, Toyota Motor, SoftBank Group Corp, NTT Docomo Inc, Nippon Telegraph & Telephone Corp NTT, Keyence Eyence, Sony. India, 20% do boom do crescimento também nas últimas duas décadas: Bajaj Auto, Mahindra & Mahindra, Motherson Sumi Systems, Tata Motors, Reliance Industrie, Sun Pharmaceutical Industries, Dr. Reddy’s Lupin Pharmaceuticals. Brasil, Marcopolo está entre os três maiores construtores de autocarros do mundo, Iochpe-Maxion, WEG, Embraer, Petrobras, Votarantim Group. Ainda na linha dos emergentes a Russia, Gazprom Lukoil. Malásia, Air Ásia e Petronas. África Sul, Aspen Pharmacare. México, Alfa. Argentina, Tenaris. Chile Latam Group. Turquia, Koc Holding e Turkish Airlines. Egito, El Sewedy Eletric. Qatar, Thailandia, Emirados Unidos, Colômbia, Arábia Saudita e Indonésia pertencem ao grupo dos que saltaram para o palco do crescimento e serão os novos ricos do Planeta.
Em menos de duas décadas os ocidentais que foram os seus mentores do desenvolvimento, colocando todo o conhecimento e tecnologia ao seu dispor, ficaram numa situação difícil de ultrapassar em ambos os lados do Atlântico; com o empobrecimento a atingir fortemente alguns países em particular os do sul da Europa, mas que vai com toda a certeza estender-se aos povos do norte.
Os países emergentes, ainda sentem alguma apetência por alguns dos nossos tradicionais bens de qualidade; mas o orgulho que sentem pelos seus países e os ainda 1500 milhões dos seus que vivem em pobreza, vão brevemente determinar as preferências no seu próprio produto e marca.
Para os novos gigantes da produção, chegou o momento de apresentarem a fatura do colonialismo 500 anos depois; como punição, o ocidente está a ser confrontado com um terrível paradigma; num curto espaço de tempo, americanos e europeus vão inverter o ciclo; de ricos passam para pobres, e de globalizantes a globalizados.
Joaquim Vitorino