A (in)visibilidade dos emigrantes trasmontanos nas fotografias de Eduardo Perez Sanchez

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No decurso do mês de setembro, o fotógrafo autodidata Eduardo Perez Sanchez, nascido em Barcelona, mas há mais de meio século a viver na cidade invicta, apresentou na Cooperativa Árvore, no Porto, o seu primeiro livro, intitulado Trás-os-Montes, Uma Visão a Preto e Branco sobre as Gentes e o seu Viver na Década de 1980.

A obra, resultado de incursões fotográficas que Eduardo Perez Sanchez realizou na década de 1980 em aldeias de Trás-os-Montes, no Nordeste de Portugal continental, como Agordela, Calvo, Sá, Santa Valha e Vilarandelo, destaca-se não só pelo sentido estético, mas também, pelos detalhes descritivos que traduzem a realidade socio-histórica de uma das regiões mais periféricas e deprimidas do país.

Uma realidade de profundo ambiente rural, ainda muito marcante no limiar dos anos 80, um período de consolidação da democracia portuguesa, onde se praticava ainda uma agricultura de subsistência e as estruturas de habitação rural em pedra possuíam diminutas condições de habitabilidade e de conforto, designadamente falta de luz elétrica, água canalizada e saneamento básico.

Nesses “lugares de memória” transmontanos, captados há cerca de 40 anos pelo fotógrafo luso-catalão, que veem agora a luz dia, abundam essencialmente rostos, expressões, sentimentos e experiências da vida quotidiana de carências e dureza, por que passaram as povoações rurais do interior do país.

A presença constante de mulheres, crianças e idosos nas fotografias realizadas pelo fotógrafo septuagenário autodidata,  na região transmontana na década de 1980, recorda o fenómeno maciço da emigração portuguesa da segunda metade do séc. XX para os países industrializados da Europa Ocidental, especialmente para França, que esvaziou as aldeias do interior nortenho de homens na força na idade.

Um fenómeno marcante na sociedade portuguesa, sobretudo nos anos 60 e 70 durante a ditadura salazarista, quando mais de um milhão de portugueses partiram a “salto” motivados pela procura de melhores condições de vida ou em fuga à Guerra Colonial, e que foi particularmente incisivo em Trás-os-Montes, uma região fronteiriça onde o fardo da ruralidade e a estreiteza de horizontes impeliu uma forte vaga migratória.

A (in)visibilidade dos emigrantes trasmontanos nas fotografias de Eduardo Perez Sanchez, acentua a importância destes na história e identidade da região. A comparação do tempo transcorrido nas imagens a preto e branco do fotógrafo luso-catalão, com a realidade do presente, permite, quarenta anos depois apreender que o fenómeno migratório, malgrado a ligação ao processo de desertificação do interior, possibilitou a canalização de remessas para o sustento das famílias dos emigrantes que permaneceram nas terras de origem, e incrementou o desenvolvimento destes lugares desfavorecidos, ao nível da construção de casas, da aquisição de propriedades ou de estabelecimentos comerciais.

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