As tradicionais touradas à corda da ilha Terceira vão poder ser retomadas assim que os Açores atinjam 85% de população vacinada contra a covid-19 ou números consolidados de incidência, internamentos e óbitos, adiantou o Governo Regional.
“Foi consensualizado o fim da limitação de realização de touradas à corda, logo que se alcance o nível de 85% de população vacinada na região ou percentagem inferior, desde que a ponderação consolidada dos fatores da incidência, número de internados e número de óbitos assim o sustentem”, disse o titular da pasta da Saúde nos Açores, Clélio Meneses, sem adiantar previsões quanto à data para atingir aquele percentagem de vacinação no arquipélago.
O governante falava, em Angra do Heroísmo, na leitura de um comunicado conjunto assinado pelo próprio, pelo diretor regional da Saúde, pelos presidentes dos dois municípios da ilha Terceira (Angra do Heroísmo e Praia da Vitória) e pela direção da Associação Regional de Criadores de Toiros de Touradas à Corda, no final de uma reunião de quase duas horas.
Entre 01 de maio e 15 de outubro, realizam-se habitualmente mais de duas centenas de touradas à corda na ilha Terceira, aquela em que a tradição tem maior expressão nos Açores.
Nas touradas à corda, ao contrário do que acontece nas de praça, os touros correm nas ruas, amarrados por uma corda, num percurso delimitado, enquanto a população assiste, de forma gratuita, nas varandas ou nas estradas.
Desde o início da pandemia, que apenas foi autorizada a realização de touradas de praça, com entradas controladas e limitação da lotação.
Na leitura do comunicado conjunto, Clélio Meneses realçou que “nos termos legais em vigor, a realização de eventos de cariz cultural, desportivo ou recreativo obedece à limitação de três quartos da lotação máxima do respetivo espaço, bem como à obrigatoriedade de se efetuar o controlo de entradas e das regras de comportamento social dos presentes”.
O governante disse que todos os participantes na reunião “reconhecem e aceitam” que “a própria natureza dos espetáculos em apreço não permite o cumprimento das normas de controlo do vírus SARS-CoV-2”, que provoca a covid-19.
Segundo dados atualizados pela Autoridade de Saúde Regional dos Açores na segunda-feira, a região tem 177.122 pessoas com vacinação completa contra a covid-19, correspondentes a 74,8% da população do arquipélago.
Questionado pelos jornalistas, Clélio Meneses não quis avançar com uma data previsível para que seja atingida a meta dos 85%.
“Não é possível prever com rigor essa data, tendo em conta a evolução variável do processo de vacinação. Há períodos em que a vacinação decorreu de forma mais célere do que outros. Estamos a assistir neste momento a um decréscimo da vacinação”, afirmou.
“Estamos a sentir que isso está em vias de acontecer. Logo que aconteça, a vida volta ao normal, deixam de haver normas restritivas, sendo certo que há que ter sempre alguns cuidados”, acrescentou.
A época taurina termina em 15 de outubro, mas o comunicado conjunto prevê que as diferentes entidades desenvolvam “esforços no sentido de serem revistos e alterados os critérios regulamentares relativos a estes eventos, nomeadamente os que estabelecem o período da temporada taurina”.
A realização de touradas fora desse período obriga a uma alteração da legislação no Parlamento açoriano.
Questionado sobre se havia expectativas de serem realizadas touradas à corda ainda durante 2021, o secretário regional da Saúde rejeitou igualmente dar garantias.
“Penso que seria irresponsável apontar datas, pelas expectativas que criaria nas pessoas. Estamos a lidar com uma pandemia, com impactos emocionais intensos e com o cansaço que já criou em todos, desde os responsáveis decisórios até a toda a população. Ao estarmos criar expectativas, estamos a pôr no processo ainda mais carga emocional”, justificou.
Os Açores têm atualmente 118 casos ativos de infeção pelo novo coronavírus que provoca a doença covid-19, dos quais 83 em São Miguel, 20 no Pico, 12 na Terceira e três no Faial.
Desde o início da pandemia, foram diagnosticados na região 8.785 casos de infeção, tendo ocorrido 8.453 recuperações e 42 mortes. Saíram do arquipélago sem terem sido dadas como curadas 94 pessoas e 78 apresentaram comprovativo de cura anterior.