O ponto de ataque do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, chamado “Ground Zero”, representa agora o valor da liberdade e a tristeza pela perda de 2.753 vidas nesta cidade.
No ritmo apressado de Nova Iorque, o memorial do 11 de Setembro é um sítio calmo, de passo lento e de reflexão. O som das quedas de água torna o ambiente mais pesado e introspetivo, onde muitos visitantes lembram as suas próprias experiências de vida e momentos em que sentiram os seus valores ameaçados.
A tristeza pelo número excessivo de vidas acabadas é um sentimento que pesa sobre todos os que passam pelo parque do memorial.
“É muito triste saber que muitas pessoas perderam a vida só porque, por acaso, estavam aqui, e só por serem americanos. Coisas assim não deviam acontecer em lado nenhum do mundo”, sublinhou Anna Mel, à agência Lusa.
Duas piscinas, em buracos de nove metros de profundidade abaixo do solo, foram construídas no lugar das duas Torres Gémeas, que só terminavam a 415 metros acima do solo e que foram destruídas no atentado terrorista.
Dentro das piscinas existem as maiores cascatas artificiais do país, que ostentam painéis com o nome de 2.977 pessoas mortas nos ataques terroristas perpetrados nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.
Para Anna Mel, que vive em Nova Iorque e trouxe quatro crianças ao memorial, mais do que o aspeto, o que importa é o que se está a representar, que, na sua interpretação, são as “vidas perdidas e a importância da liberdade”.
“Estava a ler alguns dos nomes e a imaginar que tipo de vida teriam tido e nas famílias. É, na verdade, um sítio muito triste de estar”, partilhou.
Por outro lado, acrescentou a emigrante da Albânia, o memorial é o sítio certo para “apreciar a liberdade”, que “não se pode tomar por garantida”.
Nascida e crescida na Albânia, Anna Mel disse que o regime comunista perseguiu e executou vários membros da sua família. “Eu mesma experienciei um certo nível de perseguição por não ser parte de uma certa ideologia”, acrescentou.
“Sei que [o 11 de Setembro] não tem nada a ver com comunismo, mas tem muito a ver com liberdade. Valorizamos de verdade que este seja um país de liberdade e esperamos que assim continue”, declarou a mãe das quatro crianças que aproveitam o passeio pelo Memorial para brincar e se divertir.
Mary Reid, de 82 anos, mãe de uma paramédica fo departamento de bombeiros de outra cidade, expressou à Lusa a sua pena e tristeza pelas pessoas que morreram no atentado: “Rezamos pelas pessoas que perdemos, pelos pais que não mais existem e pelas crianças que ficaram órfãs”.
Lara Moffat, que vive em Dallas, no Texas, admitiu estar um pouco desiludida com a sua primeira visita ao “Ground Zero” em Nova Iorque, por não ter sentido nenhum rasgo de “inspiração”.
Arquiteta paisagista de profissão, Lara Moffat pensava que a experiência seria semelhante à primeira vez que viajou à cidade de Washington e viu o memorial dedicado ao 11 de Setembro, mas em Nova Iorque a sensação ficou perdida na grande “escala” e dimensão que se deu ao monumento.
Ainda assim, afirmou que se trata de um “espaço lindamente desenhado e bem executado” e que a faz pensar no dia fatídico, 11 de setembro de 2001, em que “não podia acreditar” no que estava a ser divulgado na televisão.
“É como se o mundo tivesse parado naquele dia. Eu vivia perto de um aeroporto e não havia aviões, ninguém tinha a certeza do que ia acontecer”, revelou Lara Moffat à Lusa.
“Íamos para a guerra?” – esta era uma das interrogações que estava na mente dos norte-americanos naquele dia, lembrou ainda Lara Moffat.
Passadas duas décadas, é impossível falar do “Ground Zero” sem se fazer uma correlação com a guerra lançada pelos EUA contra a organização terrorista Al-Qaida, que tinha base no Afeganistão.
Uma das opiniões mais apoiadas é a de que os EUA passaram demasiados anos a lutar sem sentido no Afeganistão antes da retirada das forças militares norte-americanas do país, no final de agosto por decisão do atual Presidente, Joe Biden.
A retirada das tropas pôs fim a uma guerra de 20 anos desencadeada pela intervenção de uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos para expulsar os talibãs no poder, na sequência dos ataques de 11 de Setembro em solo norte-americano.
Lara Moffat considerou que os Estados Unidos não tiveram uma boa saída da situação.
“Não sinto que tenhamos feito muito progresso. Da perspetiva dos direitos humanos, acho que se gastou demasiado dinheiro para lutar numa guerra para a qual não houve boa solução e tenho muita pena das mulheres no Afeganistão”, concluiu.