O emigrante português acusado de matar a mulher e o filho mais velho com 30 tiros em abril de 2018 disse hoje, em tribunal, que “nunca quis magoar ninguém” e que o crime não foi premeditado.
O homem, agora com 53 anos, teve hoje de manhã a primeira sessão no Tribunal Criminal de Northern Vaud, onde está a ser ouvido pela morte da mulher, então com 42 anos, e do filho mais velho, que a costumava defender de agressões do progenitor.
A sua defesa, citada pelo diário suíço 24Heures, referiu, na sessão da manhã, que “num caso como este” é preciso “compreender como este homem funciona”.
O homem reconheceu haver “desentendimentos” com a sua mulher, mas disse que não entende como algo se transformou numa “barbaridade”.
O arguido negou ter ido até ao apartamento da mulher para a matar, mas não explicou porque levou uma arma carregada e um segundo carregador, segundo a agência noticiosa suíça (ATS).
O português alegou que apontou a arma ao teto. Ao deixar o apartamento, o seu filho mais velho correu contra ele e este disparou o primeiro tiro. O arguido disse não se lembrar do que aconteceu a seguir.
“Tudo isto durou alguns segundos. Não me lembro e faço questão de não me lembrar”, acrescentou, citado pela ATS.
O homem disse também estar “100% certo” de que nunca tinha agredido a mulher nos anos anteriores ao crime, afirmações negadas pelo filho mais novo, que esteve presente na audiência e que disse ter visto a sua mãe ser agredida com frequência, de acordo com a mesma fonte.
Segundo os factos descritos na acusação, divulgada pelo mesmo diário, os homicídios culminaram um longo período de discussões e agressões aparentemente ditadas por ciúme do pedreiro em relação à mulher, empregada de limpeza.
O casal português mudou-se para Payerne, na Suíça, em 2006, com os seus dois filhos pequenos.
O relacionamento deteriorou-se a partir de 2012, com insultos, agressões e ameaças de morte, que levaram à saída de casa da mulher com os dois filhos, de 18 e 13 anos, em setembro de 2017, para um apartamento junto à estação ferroviária de Payerne.
O emigrante, então com 49 anos, continuou a assediar a mulher, enviando-lhe poucos dias antes do crime, cerca de 70 mensagens de texto chamando-lhe “mentirosa” e “vadia” na noite de 22 para 23 de abril.
Em 25 de abril, depois do trabalho, o homem dirigiu-se à casa da antiga companheira e, segundo o jornal suíço-francês, disparou mais de 30 tiros de pistola sobre o filho e a mulher.
Depois de atingir o jovem, o homicida esvaziou um carregador na mulher, voltando a recarregar a arma, executando a antiga companheira e o filho, que se tinha refugiado gravemente ferido noutra zona da residência.
De acordo com a Gazeta Lusófona, o homem entregou-se à polícia durante a madrugada, após uma negociação que se estendeu por cinco horas, e tinha licença de porte de arma na Suíça.
O português rendeu-se às autoridades policiais sem ter oferecido resistência, noticiou então o jornal suíço 20 Minutes.
O julgamento continua durante a tarde e na terça-feira. Se a acusação se mantiver, refere o 24Heures, o português pode ser condenado numa pena de 10 anos até prisão perpétua.