O novo adido social português na África do Sul prevê que “vêm aí sinais no futuro” de pedidos de apoio para os quais o Governo, os portugueses e lusodescendentes devem estar preparados para ajudar e aproveitar melhor as oportunidades.
Segundo Diogo Franco, nomeado em junho em regime de comissão de serviço por um período de três anos, referiu, em declarações à Lusa, que um dos principais objetivos do novo posto é “enquadrar” as necessidades de apoio para que os portugueses e lusodescendentes na África do Sul sejam assistidos, em articulação com as associações no terreno.
“O que pretendo nesses três anos é que esse movimento seja enquadrado, seja assistido e esteja disponível para, num diálogo com as autoridades portuguesas e com as autoridades sul-africanas, também nos vários momentos pelos quais a comunidade passa, possa ter uma presença que dê mais apoio, esteja mais disponível para ajudar quem mais precise, por um lado, e a representar o orgulho que os portugueses todos têm na comunidade portuguesa, por outro, que continue”, afirmou Franco.
O técnico português chegou recentemente ao país para trabalhar a partir do consulado-geral em Joanesburgo, a maior área de jurisdição consular portuguesa no país.
O consulado-geral em Joanesburgo, capital económica do país, serve uma vasta área de jurisdição que se estende, na África do Sul, às províncias de Gauteng (excluindo Pretória), Limpopo, North West, Mpumalanga, Free State e KwaZulu-Natal, e ainda aos países vizinhos Lesoto e Botsuana.
Estima-se em cerca de 450.000 o número de portugueses e lusodescendentes na África do Sul, dos quais pelo menos 200 mil em Joanesburgo e Gauteng, e cerca de 20.000 no KwaZulu-Natal, leste do país.
Na Cidade do Cabo, sede do segundo maior posto consular português, residem pelo menos 20.000 cidadãos nacionais.
A maioria dos portugueses e lusodescendentes tem ligações à Madeira há mais de duas gerações, e a descolonização portuguesa dos territórios de Angola e Moçambique obrigou milhares de concidadãos a procurar refúgio na vizinha África do Sul, onde também se adaptaram durante o ‘apartheid’ e após a democratização do país desde 1994.
Enquanto minoria, enfrentam problemas económicos, de exclusão social, racismo, xenofobia, violência politicamente motivada, assaltos e vandalismo dos seus negócios, entre outros desafios.
Nesse sentido, o novo adido social português sublinhou que o Governo reconhece “algum envelhecimento” da comunidade imigrante na África do Sul, o que “também acontece em Portugal”, e que isso representa uma série de “necessidades novas”.
“Vêm necessidades com o envelhecimento de uma população que está mais a retirar-se da vida ativa do que propriamente a entrar nela. Isso sugere que temos pelo menos de ser previdentes e compreender que vêm aí sinais no futuro de pedidos ou de solicitação de um suporte, de um apoio quer da comunidade quer das autoridades portuguesas, para as quais nós deveremos estar preparados, e durante esses três anos em que cá estarei também era isso que eu gostava”, explicou Diogo Franco.
“Que fossemos pró-ativos, e não estivéssemos só à espera, que depois déssemos com uma comunidade portuguesa mais envelhecida e a necessitar de apoio emergente”, acrescentou.
Em termos de apoio social, sem ser para os idosos, Diogo Franco avançou que o Governo quer “muito rapidamente um diagnóstico”, sabendo que “há pessoas em carência, não apenas pela idade, mas em outras situações também”.
“Esse é um diagnostico rápido que queremos promover para poder promover todos os mecanismos que haja de apoio, como digo, de Portugal e também da África do Sul e da própria comunidade e esses são os mecanismos que preciso de aprender melhor, mas um dado que já apreendi é que a comunidade é muito solidária desde que saiba o que se passa”, declarou.
O novo adido social apontou que “é uma comunidade que está a evoluir, até a população portuguesa tem as suas características demográficas, as suas necessidades, os seus desafios”.
“E é por isso que cá estou para ajudar a acompanhar”, adiantou Diogo Franco.
Em 2020, o Governo português ajudou com um apoio extraordinário 78 portugueses em situação de carência devido à pandemia de covid-19, sendo a maioria residente na África do Sul (49), seguindo-se o Peru (nove), Brasil (oito), Moçambique (cinco), Panamá (cinco) e Venezuela (dois), segundo a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.
As províncias de Gauteng, o motor da economia do país, e KwaZulu-Natal foram as mais afetadas pela onda de tumultos violentos que sacudiu a África do Sul em julho, provocando 354 mortos e pelo menos 40.000 empresas sul-africanas saqueadas, queimadas ou vandalizadas, segundo o Governo sul-africano.
Cerca de uma centena de negócios de grandes empresários portugueses, incluindo filhos de madeirenses, no setor alimentar e de bebidas, foram saqueados e vandalizados, disse à Lusa um conselheiro da diáspora madeirense na África do Sul.
Nesse sentido, o embaixador Manuel Carvalho divulgou na sexta-feira que a embaixada de Portugal, em Pretória, em articulação com os consulados, em Joanesburgo e Durban, está a realizar um “levantamento exaustivo” das empresas e negócios portugueses afetados, sem avançar detalhes.
De acordo com os conselheiros das comunidades, a recente “agitação” no seio do partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) – que fez eclodir os violentos tumultos sem precedentes no país desde a queda do ‘apartheid’, em 1994 – agravada pela covid-19, os problemas económicos e as atuais políticas de exclusão de minorias no mercado de trabalho, fazem referenciar nova saída para outras geografias de muitos portugueses e lusodescendentes, nomeadamente jovens licenciados.