Por Cristina Andrade Correia
A Madeira tem vindo ao longo da sua história a percorrer um caminho árduo de trabalho, desenvolvimento, crescimento e aprendizagem que tem valido aos madeirenses uma sustentável melhoria na sua qualidade de vida, comparável ao nível das melhores cidades europeias e do mundo.
Desde o longíquo periodo da colonização, durante o século XV, todo o progresso conquistado na Madeira foi conseguido com grande suor de mão de obra humana, que bravou acerramente montes e vales, desafiando o declive acentuado da ilha. A agricultura desenvolvem-se nas encostas ingremes, com difíceis acessos e a um custo avassalador para quem trabalhava. Desenvolveram-se novas técnicas de cultivo, deu-se mote à penosa exploração da cana-de-açúcar, onde cada folha parecia cortar como lâmina a pele de quem trabalha – mas o açúcar era um bem bastante procurado na Europa e assim a sua produção tornou-se no motor da economia da ilha, dando lugar à construção do primeiro engenho na Madeira. Apesar da sua pequenez de ilha no meio do Atlântico, de um mundo ainda tão pouco connectado, a Madeira conseguiu dar o exemplo para outros países que vieram depois a desenvolver o cultivo da cana-de-açúcar, a uma grande escala, como é o caso do Brasil.
Todo o planeamento para construção das modestas vias de comunicação, por forma a ligar as povoações, seguia a regra ditada pela orografia e cada curva era regida pela natureza, levando largos anos a construir cada estrada, cada vereda, cada acesso e longas horas para percorrer curtas distâncias. Identificada a necessidade de trazer a água, das montanhas a norte da ilha onde abundava, até ao sul, por forma a irrigar os cultivos e para consumo doméstico, deu-se início à construção das levadas em meados do séc XVI. Mais uma obra construída a pulso, metro a metro desde as montanhas da Madeira, com difíceis precipícios para contornar, em canais de água que mantêm-se em atividade até aos dias de hoje, onde o barulho da água a correr nas levadas, está bem presente na memória de cada madeirense, esteja ele onde estiver. Atualmente existem cerca de 2.170 km de levadas construidas na Madeira, que continuam a regar os seus cultivos e que deram igualmente lugar a prazerosos roteiros de caminhadas pela natureza, tão apreciado pelos locais e por quem visita a ilha.
O vinho Madeira, que briha nas melhores adegas do mundo, veio colocar a Madeira em evidência apartir do séc XVII. Veio eternizar a importância desta pequena ilha nos melhores roteiros vinícolas do mundo, onde as vinhas desenvolvem-se em harmonia com o duro trabalho humano que ainda hoje é usado neste cultivo – a apanha da uva, o transporte dos cestos nas costas dos corpos magros, mas rijos, o pisar das uvas, o cheiro do mosto que embeleza o fim de mais um Verão neste paraíso que é a Madeira.
A Madeira nunca se deixou intimidar pela sua pequenez, antes pelo contrário, tornou-se numa grande ilha. Valeu-lhe a ousadia dos seus dirigentes, que nas últimas quatro décadas apostaram na segurança das suas infrastruturas e abriram a Madeira para o mundo. Construiram estradas, abriram túneis, construiram portos e marinas, alargaram o aeroporto, encortaram as distâncias, aproximaram as suas gentes às cidades, aos cuidados médicos, apostaram na educação e na preparação das gerações vindouras, abriram uma universidade, apostaram nos transportes públicos e no mundo digital, e com ele a ligação ao segundo com um mundo competitivo, que se adapta a qualquer mudança que a vida nos obriga (como é o caso desta pandemia que vivemos) cuidando dos seus e dos que a visitam.
A Madeira deixou de estar no fim do mundo e passou a estar, para sempre, no centro do mundo.
Artigo original publicado no Jornal da Madeira a 16/08/2021