A entrada do Verão leva a que todos os portugueses espalhados pelo mundo, lembrem-se com alegria dos dias quentes passados nas suas terras de origem, sob o calor que se faz sentir em cada vila e cidade de Portugal.
Os longos dias e noites quentes, que enchem a alegria dos mais pequenos, que vibram em correrias e gritarias entre primos e irmãos, em calçadas ou terra batida, em brincadeiras incansáveis, numa linguagem própria de crianças, quando o português deixou de ser a língua mais falada em casa e passou a ser o inglês, o francês, o espanhol, outra língua ou língua nenhuma, mas sim uma mistura de línguas. Mesmo assim, não deixam de criar memórias e laços que lhes irão acompanhar ao longo da vida e que lhes irão confortar o coração, nos maiores momentos de saudade.
Assim é a vida de um emigrante português pelo mundo, que numa luta de trabalho ao longo do ano, sonha com o regresso a casa, para assim passar os seus melhores momentos de lazer e descanso com os seus, com a família que a vida separou quando decidiram rumar a uma vida melhor, num outro país.
A alegria desse regresso começa logo com a marcação dos voos ou itenerários da viagem de carro, numa contagem de quilómetros que parece não ter fim. O fazer as malas com as melhores roupas, para os momentos que irão ser eternizados em álbuns de fotografias de familia, no baptizado do mais pequeno, ou no casamento de um familiar ou amigo, a fatiota para a festa da aldeia, para o arraial da freguesia, ou simplesmente numa saída depois do jantar para esticar as pernas, trocar dois dedos de conversa com o vizinho que já não viam há algum tempo, beber um café ou comer um gelado, porque a noite está quente – cada peça é escolhida na ânsia de ser usada para viver momentos de muita alegria.
Cada dia que passa até ao dia da viagem de regresso a casa, é vivido com júbilo pelas férias que se aproximam, onde os pensamentos se misturam com os cheiros e paladares do que a terra lhes guarda – o cheiro da sardinha assada, a espetada na brasa, o sabor da broa de milho, o bolo do caco, o milho frito, a francesinha, o presunto e o vinho, parecem guardar os seus melhores sabores para esses tão ansiados dias em Portugal.
Vem à lembrança os dias passados na praia, ou junto ao rio, com as águas a banharem os corpos que flutuam numa calma que nos refresca a alma. O sentir a força do sol a secar todas as gotas do corpo e pensar o quanto gostamos de estar de volta, o quanto gostamos do nosso país, o quanto sentimos saudades de cada momento, de cada sabor, de cada cheiro.
Vem à lembrança os assíduos encontros com as autoridades locais, em longas tardes de Verão, sempre prontos para um aperto de mão ou uma palmadinha nas costas, mas que nos seus longos planos de campanha eleitoral, continuam a esquecer os filhos da terra, que partiram em busca de melhores condições de vida. Para quando esta mudança? Para quando uma política acertiva, que permita às próximas gerações, encontrarem boas condições de vida, nas suas terras e não sintam a necessidade de partir – que a necessidade de partir, possa ser uma opção e não uma obrigação, como tem sido imposta a tantos portugueses.
Ser emigrante é gostar de Portugal a uma distância que dói, é dar mais valor ao que nos faz falta quando enfrentamos a luta do trabalho num país que não é o nosso, é adiar os momentos de felicidade e alegria plena para o encontro com a família, no tão ansiado regresso a casa. Ser emigrante é crescer à força e não olhar para trás, porque há muito trabalho para fazer, contas para pagar e temos que amealhar o suficiente para um dia poder voltar.
Boas férias a todos.
Artigo original publicado no Jornal da Madeira a 04/08/2021