A diretora do Mestrado em Português como Língua Estrangeira da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Margarita Correia, defende que os luso-venezuelanos devem ultrapassar os complexos sobre o modo como pronunciam e falam a língua portuguesa.
“Um dos grandes desafios é as pessoas ultrapassarem os seus complexos em relação à língua portuguesa, perceberem que se não pronunciam exatamente como as pessoas de Lisboa ou do Brasil isso não tem problema nenhum”, disse a docente.
Margarita Correia falava à agência Lusa à margem da conferência virtual “Percursos do português nos últimos 50 anos”, organizada pela Coordenação do Ensino da Língua Portuguesa na Venezuela e que assinalou, localmente, o 25.º aniversário da CPLP.
“Importa é de facto o conteúdo, a estrutura da língua, a forma e a capacidade que têm de usar português em contextos formais e também mostrar que o português é uma porta de saída da Venezuela, mas também pode vir a ser uma porta de entrada (…) muita gente que saiu, um dia vai regressar e vai querer ensinar português na Venezuela”, disse.
A catedrática explicou que tem um aluno nigeriano que fez uma investigação de mestrado para saber se falar português dava para viver na Nigéria e levantou a questão do português de Portugal e do Brasil, concluindo que “dá para viver” e que “os empregadores na Nigéria não querem saber se é português europeu ou do Brasil, é português e ponto final “, disse.
Sobre o portunhol (mistura de português e espanhol), explicou que essa foi a sua língua materna porque nasceu na Venezuela e quando as línguas são próximas as misturas acontecem. Acrescentou que esse fenómeno se tem desenvolvido sobretudo no sul do Brasil, na fronteira, com o Paraguai, a Argentina e o Uruguai.
“O final do século XX trouxe às sociedades a consciência da diversidade e o respeito à diversidade e a aceitação das variedades de mistura (…) as línguas mudam, ganham, se enriquecem”, acrescentou.
Margarita Correia pediu aos portugueses emigrados que falem sempre a nossa língua, sublinhando que “o facto de uma criança ser exposta a várias línguas não lhe faz mal”. “É enriquecedor, não cria confusão e, portanto, deveriam continuar a insistir em falar português”, disse.
Insistiu na importância de os pais, comunidades e associações mostrarem aos filhos que “a cultura portuguesa é (também) a cultura brasileira, a moçambicana, a cultura dos países da CPLP, mas não a cultura dos velhos”.
“Sobretudo que vejam manifestações culturais recentes (…) que temos, em língua portuguesa, cantores, músicos, artistas de teatro e atores em Hollywood, a nível internacional e que entendam que a cultura de língua portuguesa não é só aquela chatice de vir à casa dos avós e depois toda a gente falar português e comer bacalhau e chouriço e couves”.
Aos venezuelanos explica que “saber várias línguas é uma grande mais-valia, uma vantagem pessoal” que permite ver o mundo de diferentes maneiras, mas “também do ponto de vista económico e profissional”.
“Há muitas pessoas que conseguem empregos ótimos porque falam português. Há pessoas que saem de Portugal e conseguem empregos muito bem remunerados e posições ótimas porque falam português”, disse.
Explicou que se “um venezuelano souber espanhol e português pode falar com grande parte da população mundial, fazer parte desta comunidade que pode chegar aos mil milhões de falantes para o fim do século, de português e do espanhol”, disse.
Concluiu frisando que para si, que nasceu na Venezuela em 1960 e deixou o país em 1971, “é reconfortante e emocionante ver a importância, o respeito e o reconhecimento que a língua portuguesa tem vindo a assumir na sociedade venezuelana.