O cônsul-honorário de Portugal em Mbabane, capital do Essuatíni, Carlos Lopes, afirmou esta quarta-feira que a situação no país “está péssima”, acrescentando que a comunidade portuguesa está preocupada com a violência em manifestações, assaltos e pilhagens nos últimos dias.
“A situação está péssima. De há dois dias para cá que tem havido manifestações, assaltos, pilhagens”, disse Carlos Lopes à Lusa, por telefone.
O cônsul-honorário referiu que “não se pode andar de cidade em cidade” e que “há destruição em todas as partes do país”.
Várias pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em novos confrontos entre a polícia e manifestantes no reino de Essuatíni, segundo ativistas pró-democracia, que registaram pelo menos oito mortos. Ainda assim, os números não foram confirmados pelas autoridades.
Os protestos são raros no Essuatíni, um pequeno Estado na fronteira entre Moçambique e África do Sul que até há poucos anos tinha o nome de Suazilândia. Os partidos políticos estão proibidos há décadas, e nas últimas semanas irromperam protestos violentos em partes do território contra aquela que é a última monarquia absoluta de África.
“Disseram-me hoje que iam fazer distúrbios em Simunye, a caminho da fronteira com Moçambique”, relatou o cônsul-honorário.
O Governo do Essuatíni declarou lei marcial a nível nacional, assim como um recolher obrigatório entre as 18:00 e as 05:00 locais. Da mesma forma, as autoridades suspenderam de forma indefinida todos os voos para o aeroporto internacional King Mswati III.
O acesso a serviços telefónicos continua a ser permitido, mas serviços como a aplicação de troca de mensagens WhatsApp apresentam algumas limitações, segundo uma nota da embaixada norte-americana no país, uma limitação confirmada pelo cônsul-honorário português.
Carlos Lopes acrescentou que a comunidade portuguesa tem manifestado alguma preocupação com a violência dos protestos, apontando que “não está habituada a que demore muito tempo”.
“Já vai no terceiro dia e as pessoas agora estão muito preocupadas, porque as coisas estão a escalar de uma maneira inconcebível, então estão a mostrar uma certa preocupação”, apontou o cônsul-honorário.
Carlos Lopes deixou um apelo à comunidade portuguesa, que, segundo este, conta com cerca de mil pessoas, pedindo que se mantenha calma e em casa.
“Peço à comunidade que tenha calma, que se mantenha em casa, evite sair e ver o que sucederá amanhã [quinta-feira] e depois”, afirmou o diplomata.
Vitor Oliveira, gerente numa empresa de camiões que trabalha com marcas internacionais, descreveu que a situação na capital é “muito calma”.
“A situação está muito calma hoje. Não se vê movimento. Agora vamos ver à noite, porque isto costuma acontecer muito à noite”, contou, também por telefone, à Lusa.
“Lá fora não sei exatamente o que se está a passar, porque somos obrigados a ficar em casa, já que não podemos usar as estradas, que estão bloqueadas, e torna-se um bocadinho perigoso. Certos negócios foram queimados, outros fecharam, mas, em geral, atacam mais locais de comércio para roubar a mercadoria”, disse, referindo-se aos autores das pilhagens.
Vitor Oliveira acrescentou que “ninguém gosta de ver estes acontecimentos” e que os elementos da comunidade portuguesa que contactou estão à espera da normalização da situação.
“Em geral, ninguém gosta de ver estes acontecimentos, mas estão em casa, à espera que normalize a situação, para que então possamos ir para os nossos negócios. Todos com quem falei estão bem. Alguns ainda conseguiram ir trabalhar hoje”, registou.
Vitor Oliveira disse que por agora “não há alarme” e mostrou-se otimista quanto ao cessar da violência.
“Para já não há alarme. Acho que isto vai mudar entre amanhã [quinta-feira] e sexta e que vamos retornar à naturalidade”, concluiu.
No seu Portal das Comunidades, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português emitiu um aviso na passada segunda-feira sobre o número de casos positivos neste país da África Austral, que “tem vindo a aumentar ligeiramente ao longo do último mês”, e também sobre as condições de segurança.
No aviso, o departamento governamental português recorda que “o Reino de Essuatíni é um país relativamente seguro, quer nas principais cidades e na capital (Mbabane), quer no interior e estradas”, mas refere que, “atendendo, por outro lado, às recentes greves e manifestações em diferentes áreas do país, aconselha-se reforçados cuidados de segurança e vigilância”.
Na semana passada, o Governo proibiu manifestações e o comissário da polícia nacional, William Dlamini, alertou que os seus homens iriam adotar uma política de “tolerância zero”.
No poder desde 1986, Mswati III, que tem 14 mulheres e mais de 25 filhos, é alvo de críticas pelo seu punho de ferro e pelo seu estilo de vida luxoso num país em que dois terços dos 1,3 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza.