Um estudo exploratório desenvolvido pelo Conselho de Liderança Luso-Americano (PALCUS) mostra que os luso-americanos votam em maior número no partido Democrata, apesar de haver tendências contrárias nalgumas regiões, como New Haven e vale central da Califórnia.
“Antes desta sondagem, imaginámos que os portugueses votavam mais republicano do que votam na realidade”, disse à Lusa a investigadora Dulce Maria Scott, da Anderson University, responsável pela pesquisa intitulada “Voting trends among Portuguese Americans: An Exploratory Survey”.
“Esperávamos ver mais pessoas a votar em Trump por oposição a Biden que as que tivemos no estudo”, referiu a responsável
Nas eleições presidenciais de 2016 e 2020, houve uma maior percentagem de inquiridos a votar nos candidatos democratas: 59,4% votaram em Hillary Clinton em 2016 e 63,2% votam em Joe Biden em 2020, contra 33,5% e 34,5% em Donald Trump, respetivamente.
Os números da sondagem, apresentada esta segunda-feira, mostram que mulheres, pessoas solteiras, jovens e eleitores com níveis de educação mais elevados da comunidade portuguesa tenderam a votar em Joe Biden. Estes dados seguem os mesmos padrões da população americana em geral.
No entanto, não há dados sobre tendências de voto dos portugueses nas décadas de setenta, oitenta ou noventa para fazer comparações. Um estudo da investigadora em 2010, feito junto de lusodescendentes, revelou que a maioria (40,6%) se identificava no centro político, com tendência para a esquerda, mas com uma percentagem relevante (23%) de conservadores.
Sublinhando que o presente estudo não seguiu uma amostra representativa e por isso é apenas exploratório, Dulce Maria Scott indicou que o trabalho será útil na definição das variáveis relevantes para um estudo representativo, tais como idade, género, educação e estado civil. Todos estes indicadores têm correlação com a escolha de candidatos e partidos.
“Nas zonas industriais onde os portugueses trabalhavam em fábricas, os seus votos foram mobilizados pelos sindicatos, que estavam associados ao partido Democrata”, explicou a académica.
No entanto, nas zonas interiores e no vale central da Califórnia, onde há uma grande concentração de emigração portuguesa, a comunidade foi mobilizada pelo partido Republicano, o que é visível no facto de continuar a eleger os republicanos lusodescendentes David Valadão e Devin Nunes.
“No vale central, faz sentido que a comunidade portuguesa siga o partido que é dominante na região, será o partido que dá mais oportunidades aos luso-americanos de correrem a um lugar”, disse Dulce Maria Scott. “Se uma área é 90% republicana, alguém que se candidate pelos democratas nunca terá hipóteses de ser eleito”.
A investigadora explicitou que, historicamente, as zonas rurais têm sido dominadas pela política republicana e as zonas urbanas pela máquina política democrata, e as tendências de voto dos luso-americanos seguem esse padrão. A política dominante nos estados onde os portugueses se concentram também é relevante.
Conhecer o perfil eleitoral da comunidade será importante para os luso-americanos que queiram ser eleitos, podendo ajudar a decidir onde devem fazer campanha para obter votos.
“Quando luso-americanos se candidatam procuram mobilizar o voto dos portugueses. E se são republicanos, vão motivar pessoas deste grupo étnico a votar republicano”, ou vice-versa, afirmou a investigadora, reiterando que “os políticos de grupos étnicos têm um papel tremendo”.
No futuro, Dulce Maria Scott gostaria de ver reunidas as condições, com o financiamento necessário, para conduzir um estudo mais abrangente.
“É muito difícil fazer um estudo representativo dos luso-americanos baseado na teoria probabilística”, frisou. “Um estudo representativo deve ter a colaboração de universidades e funcionar com amostras representativas”.