Por António Vale (texto e fotografias)
A cidade de Torres Novas é atravessada pelo rio Almonda, um rio português que nasce na Serra de Aire a 5 km a noroeste de Torres Novas, na vertente da Serra de Aire, perto de Almonda, a que deu o nome, e de Casais Martanes. No seu percurso de cerca de 30 quilómetros atravessa os municípios de Torres Novas e da Golegã, onde depois desagua na margem direita do Tejo. Este rio é também palco de actividades de recreio e turismo (passeios de barco, zonas de lazer junto às margens, nomeadamente na envolvência do Jardim das Rosas em Torres Novas).
À superfície do rio Almonda e no seu subsolo da área envolvente encontra-se a mais extensa rede cársica conhecida em Portugal, de mais de 10 km desde a gruta da nascente do Almonda, considerada um santuário da espeleologia nacional e próxima da gruta da Aroeira onde foi encontrado o mais antigo fóssil humano descoberto em Portugal, um crânio de 400 mil anos, com traços morfológicos únicos e uma datação precisa, o qual se encontra, neste momento, em estudo pelos antropologistas, faltando ainda encontrar o esqueleto.
Junto a Torres Novas é possível avistar a Serra de Aire e na Serra dos Candeeiros que possuem um Parque Natural, numa área protegida que tem por objectivo a protecção dos aspectos naturais assim como a defesa do património arquitectónico existente, com um clima que conta com influências mediterrâneas e atlânticas. A diversidade deste Parque representa um quinto das espécies vegetais de Portugal, sendo uma relíquia da nossa flora.
A rocha é um elemento sempre presente na paisagem do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros que ocupa mais de dois terços do Maciço Calcário Estremenho (no Maciço Calcário Mesozóico) que é a mais importante zona calcária de Portugal.
No concelho de Torres Novas encontramos grande parte da Reserva Natural do Paul do Boquilobo, situada a cerca de 7 km da cidade, a qual também atravessa o concelho da Golegã, situando-se entre a confluência do rio Almonda e o rio Tejo, onde existe um trilho muito interessante denominado de “rota do Almonda”, numa rota pedestre de 23 km ao longo do rio, com muito para desvendar.
Desde 1980 que a Reserva Natural do Paul do Boquilobo com 5600 hectares é considerada pela UNESCO como “Reserva Mundial da Biosfera”. Esta foi a primeira área protegida portuguesa a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera. É reconhecida a importância da Reserva como zona húmida natural e como local de abrigo para um grande número de aves, como local de reprodução, alimentação e repouso nas rotas de migração, em ecossistemas terrestres e aquáticos.
A reserva é um paraíso numa zona húmida rica e pantanal devido ao seu valor ornitológico. O salgueiro e alguma variedade de plantas aquáticas fazem parte dos traços marcantes da sua vegetação, destacando-se também o choupal, freixial, choupal, piltreiro, murta, rosa brava, vide branca, bunho, caniço, erva carapau, funcho, …. Alberga uma colónia de alguns milhares de garças boieiras, é palco de repouso e alimentação de arrábios, zarros, marrequinhas e pato-coelho. É possível verificar a presença de mamíferos como as raposas, javalis, texugos, genetas, lontras. Mas a lista não se fica por aqui face ao que podemos encontrar, como sendo cobras de água de colar, águias pesqueiras, milhafres pretos, maçaricos pretos, aves papa ratos, garças brancas grandes, borboletas, libélulas imperador, diversos anfíbios, e dezenas de cegonhas que acasalam por estas áreas e que começaram a ter uma presença colonial nesta área.
É possível visitar uma parte desta área protegida, com percurso pedestre sinalizado, tendo acesso à reserva através de um caminho a partir da Quinta do Paul ou pela estrada Golegã/Azinhaga, podendo para o efeito contactar previamente o Departamento de Conservação e Natureza e Florestas através do telef.: (+351) 249 820 378, com visitas que podem ser feitas com o acompanhamento de um guia especializado.
Outra das grandes atrações naturais de Torres Novas é Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios da Serra de Aire, mais conhecido apenas por Pegadas da Serra de Aire, numa descoberta a 2 de Julho de 1994, num local de uma antiga pedreira (pedreira do Galinha), a cerca de 16 km da cidade, ocupando uma área de cerca de 20 hectares.
O monumento foi aberto ao público em 1 de Março de 1997 e no mesmo ano é fundado o primeiro circuito autónomo de visita e de interpretação da jazida. Em 2002, foi criado o Jardim Jurássico com o objectivo de mostrar aos visitantes plantas actuais de grupos botânicos característicos no Mesozóico, a “Era dos Dinossáurios”, e o Aramossáurio. O parque possui extensos trilhos de dinossauros contendo várias centenas de pegadas, e com marcas na lage de calcário do Jurássico Médio que ascendem a 175 milhões de anos, com 20 trilhos existentes que os maiores e os mais antigos trilhos de saurópodes de que há conhecimento, sendo este monumento natural considerado o mais extenso e um dos mais antigos registos de rastos de pegadas deixadas por saurópodes, mas também, dos mais bem conservados, sendo compostos por mais de 1000 pegadas.
Possui ainda uma área de animação, um Centro de Animação Ambiental, um parque de merendas, um grande painel ilustrativo da evolução da vida na Terra ao longo do tempo geológico, podendo para o efeito marcar uma visita guiada, mediante marcação prévia, contactando o Departamento do Monumento Natural através do telef.: (+351) 249 530 160; (+351) 937 064 740 ou do e-mail dinossaurios@hotmail.com, para informações mais especializadas.