A buzina da carrinha vermelha do Mercadinho da Guida rompe o silêncio na aldeia de Vila Verde, Alijó, onde os habitantes fazem o confinamento com a possibilidade de comprar praticamente tudo o que precisam à porta de casa.
Para além da mercearia ambulante, pela aldeia do distrito de Vila Real passam semanalmente viaturas de venda de pão, frutas e legumes, carne e também de peixe.
Maria Cristina, 76 anos, apoia-se numa bengala para ir até à carrinha vermelha, que parou perto de sua casa. O marido traz uma carreta de mão (carrinho de mão) para ajudar a carregar as compras.
“Foi uma coisa boa que nos aconteceu (…). Temos as coisinhas à porta todas as semanas”, afirmou a septuagenária.
Desde que começou a pandemia de covid-19 que o casal só sai da aldeia quando é preciso e até mesmo as contas, como de água ou eletricidade, podem ser pagas na Junta de Freguesia de Vila Verde ou ali, no Mercadinho da Guida.
Margarida Cruz, 39 anos, percorre com a sua mercearia ambulante cerca de 50 aldeias dos concelhos de Alijó, Vila Real, Santa Marta de Penaguião, Sabrosa e Vila Pouca de Aguiar, e anda na estrada de segunda-feira a sábado.
Foi uma aposta depois de ter ficado sem trabalho e contou que está a “correr bem”. Aquando do primeiro confinamento a procura aumentou “muito”, no entanto, agora, frisou, os clientes compram apenas o que já costumam levar, desde os mais diversos alimentos a produtos de limpeza e higiene.
Referiu ainda que, nesta fase, foi ganhando alguns clientes novos, pessoas que foram para as aldeias fazer o confinamento ou que estão em teletrabalho.
Foi o caso de Maria Teixeira, 70 anos, que reside no Porto e veio para Vila Verde já no início de outubro, onde faz o confinamento “com mais espaço” e a possibilidade de dar umas caminhadas.
Tornou-se cliente da mercearia e de alguns dos outros vendedores ambulantes e considera que o serviço “é ótimo”. “É tudo muito responsável”, salientou.
“Até as consultas temos feito por telefone. Só nos deslocamos daqui quando tem mesmo de ser”, referiu.
A carrinha vermelha para em diferentes locais da aldeia para ficar o mais próximo possível dos clientes. Luísa Garcia, 56 anos, foi das primeiras clientes conquistadas em Vila Verde e referiu que, com este serviço à porta, evita deslocações de autocarro até Alijó ou a Vila Real.
“Não tenho medo, quando preciso de lá ir vou, mas é mais seguro estar aqui”, frisou.
Luísa Garcia lembrou que a aldeia tinha um pequeno supermercado que, entretanto, fechou.
Margarida Cruz referiu que os clientes podem fazer encomendas quando não tem o que procuraram e explicou que sempre quis “um trabalho assim, que não fosse parado”.
“Não é monótono, temos sempre uma história para contar, todos os dias é diferente e estou a adorar”, frisou.
Portugal continental entrou a 15 de janeiro num novo confinamento geral, devido ao agravamento da pandemia de covid-19, com os portugueses sujeitos ao dever de recolhimento domiciliário.
No país, morreram 14.158 pessoas dos 765.414 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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