A CP vai dar nova vida a comboios a gasóleo com 55 anos. A transportadora vai modernizar as automotoras da série 450, que circulam nas linhas não eletrificadas do Alentejo e do Algarve, anunciou esta terça-feira o presidente da CP, Nuno Freitas. A medida faz parte do plano a 10 anos para a empresa reconquistar os utentes até ao final desta década, segundo noticia o Diário de Notícias.
As 19 unidades da série 450 começaram a circular em Portugal em 1965 e 1966. Na ‘primeira vida’, as automotoras pertenciam à série 400, também conhecida como Rolls Royce na gíria ferroviária. Perto da viragem do século, estes veículos foram modernizados nas oficinas de Guifões. Na ‘segunda vida’, a série passou a ter o número 450.
A partir do segundo trimestre deste ano, vai começar a ‘terceira vida’ destas unidades, anunciou o presidente da CP no painel sobre os planos de investimento portugueses no âmbito da cimeira remota da Plataforma Ferroviária Portuguesa.
A empresa teme que nos próximos anos haja um “grande aumento de procura nas áreas urbanas” e que o material ao serviço se revele insuficiente. A contar com a chegada das 22 novas automotoras a partir de 2024, algumas destas unidades poderão ser usadas nas linhas urbanas, antecipou Nuno Freitas.
Das 22 novas automotoras para o serviço regional, 12 são híbridas (podem funcionar a diesel e a eletricidade); as restantes 10 são apenas elétricas. Um desvio do material do serviço regional para o urbano tem de ser compensado pelas renovadas automotoras da série 450, que vão ter um “novo conjunto motor-caixa” para reduzir as emissões.
Também será iniciado em 2021 o processo de modernização de 20 carruagens Corail, para reforçar a oferta no serviço Intercidades.
Mais recuperações em 2021
Ainda em 2021 a CP vai aumentar o ritmo das recuperações de comboios. Segundo fonte oficial da empresa, serão repostas em circulação 47 unidades, desde os serviços urbanos até aos comboios históricos.
Guifões será o epicentro destes trabalhos, com a recuperação de 15 carruagens do tipo Arco – que pertencem ao lote de 50 carruagens compradas à espanhola Renfe por 1,6 milhões de euros em 2020 -, 7 carruagens Schindler, 3 carruagens Sorefame e ainda 1 automotora a gasóleo Allan.
Contumil vai voltar a pôr em marcha 8 locomotivas elétricas da série 2600, 2 carruagens Napolitanas de via estreita, 1 automotora a gasóleo Allan, da década de 1950, e ainda duas automotoras Nohab de via estreita.
No Entroncamento, serão recuperadas as restantes cinco automotoras elétricas para os serviços urbanos de Lisboa; no Barreiro, ficarão como novas três locomotivas a gasóleo.
Reconquista numa década
A CP tem um plano a 10 anos para voltar a conquistar os portugueses. A recuperação e renovação de comboios e a compra de novo material circulante são as duas principais apostas da empresa ferroviária até ao final desta década. A ideia é preparar a transportadora para viver depois do contrato de serviço público, no final de 2029, e que a vai expor à concorrência, assumiu esta terça-feira o presidente da empresa, Nuno Freitas.
“Queremos dar 10 anos à CP para preparar o futuro do setor ferroviário em Portugal”, referiu o gestor.
Nuno Freitas entende que é preciso “construir uma relação de afetividade” dos portugueses com a empresa. Será “muito mais difícil a CP cair se houver ligação forte com a população portuguesa”, acredita o engenheiro.
À frente da empresa há ano e meio, Nuno Freitas liderou o plano de recuperação de um total de 27 unidades em 2020. Locomotivas e carruagens que estavam encostadas ganharam nova vida nas oficinas de Guifões, Contumil, Entroncamento e Barreiro, conforme o Dinheiro Vivo escreveu no início deste ano.
Estas oficinas, que pertenciam à EMEF, foram integradas na CP também no início de 2020. “Dominar a manutenção de material circulante é fundamental para um operador e é isso que se faz em todo o lado”, recordou o gestor. Nuno Freitas deu o exemplo da Fertagus, “um operador privado que também internalizou a manutenção do material circulante”.
No curto prazo, este plano foi fundamental para reduzir fortemente as supressões de comboios, que afetaram sobretudo o serviço regional no Oeste, Alentejo e no Douro durante 2018.
A recuperação destes comboios terá custado 6,5 milhões de euros. Este valor representa menos de 10% dos “70 a 80 milhões de euros que seriam necessários para o caso de termos de comprar este material no mercado. Os comboios são como aviões: se forem bem mantidos, podem durar muitos anos.”
Em ano de pandemia, a CP passou a contar com um contrato de serviço público. O Estado vai compensar os serviços desempenhados pela empresa até ao final de 2029. “Apesar de termo feito algumas cedências, assinar este contrato foi uma das melhores decisões que tomámos, sobretudo em tempo de pandemia”, reconheceu Nuno Freitas.
A empresa teve prejuízos de 145 milhões de euros por causa da covid-19 mas poderá ser compensada graças àquele documento.
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