Abram alas para o Pai da Pátria, D. Afonso Henriques (1109-1185). O fundador é o primeiro por mérito próprio: a bravura, capacidade de liderança e sagacidade diplomática consagraram-no como cabo-de-guerra e chefe político.
À frente de um grupo de cavaleiros minhotos, o filho de Henrique de Borgonha e neto de Afonso VI venceu os apoiantes de sua mãe, D. Teresa, e tomou o poder no Condado Portucalense, em 1128. Passou o resto dos seus longos dias (morreu com 76 anos, caso raro numa época em que a esperança média de vida era inferior a 30 anos) a alargar as fronteiras do território à custa do primo leonês e do inimigo muçulmano, até ver Portugal reconhecido como reino independente (por Afonso VII de Leão e Castela em 1143 e pelo papa Alexandre III em 1179, pela bula Manifestis probatum).
Casou-se em 1146 com D. Mafalda, filha de Amadeu III, conde de Saboia. Além dos sete filhos que teve com a rainha, incluindo o sucessor, D. Sancho I, D. Afonso Henriques foi pai de pelo menos dois bastardos: Fernando Afonso, que chegou alferes-mor do Reino e grão-mestre dos Hospitalários, filho de Chamôa Gomes; e Pedro Afonso, de mãe desconhecida.
Afonso correspondeu-se com S. Bernardo, que interveio de forma decisiva para persuadir os cruzados a tomarem parte na conquista de Lisboa aos mouros, em 1147, e foi amigo de S. Teotónio, do arcebispo de Braga D. João Peculiar — seu braço direito para as questões diplomáticas –, e do templário Gualdim Pais, mestre da Ordem em Portugal.
À sua volta teceram-se mitos que, de tão coloridos, continuam a concorrer com a realidade histórica, apesar de haver muito desmentidos: nasceu com as pernas tortas e foi curado por milagre ou trocado por outro menino pelo aio Egas Moniz que, anos mais tarde, poria uma corda ao pescoço para o defender; bateu na mãe, que lhe rogou uma praga, cumprida quando partiu uma perna durante o cerco de Badajoz; teve uma visão sobrenatural que o ajudou a ganhar a batalha de Ourique, em 1139; foi aclamado rei nas Cortes de Lamego; impôs a nomeação de um bispo negro…
Ainda hoje D. Afonso Henriques provoca discussões — a tese que aponta Viseu em vez de Guimarães ou Coimbra como o lugar onde nasceu tem alimentado uma polémica apaixonada.