Segundo o jornal ‘A Verdade’, foi aprovada em Assembleia da República esta quinta-feira, dia 14 de janeiro, a resolução do PS que pretende “conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”.
A proposta partiu do deputado baionense José Luís Carneiro, que é também presidente da Assembleia Municipal de Baião, e visa de igual modo constituir um grupo de trabalho incumbido de “determinar a data a definir e orientar o programa de transladação, em articulação com as demais entidades públicas envolvidas, bem como um representante da Fundação Eça de Queiroz”.
Recorde-se que os restos mortais do célebre romancista do século XIX repousam atualmente na União das Freguesias de Santa Cruz do Douro e São Tomé de Covelas, no concelho de Baião. No mesmo local, está sediada a Fundação Eça de Queiroz, da qual partiu a iniciativa agora aprovada.
Na sessão parlamentar, José Luís Carneiro defendeu que Eça de Queiroz “é superiormente singular e um dos maiores vultos da literatura e cultura nacional”, sendo que, na função diplomática, “defendeu com superior inteligência e com coragem a dignificação do ser humano”.
Ainda de acordo com o JN, depois de saudar a “abertura mostrada por todos os grupos parlamentares” para com esta proposta, o baionense considerou que este é o momento de mostrar o “apreço por Eça de Queiroz”.
PS e PSD de Baião com opiniões divergentes
Num comunicado enviado á redação do Jornal A VERDADE, a comissão política do PSD de Baião manifestou o seu “desagrado e estupefação” para com a referida proposta, bem como pelo facto de esta “tenha partido do único deputado baionense na Assembleia da República, que conhece a importância da permanência deste para o futuro da nossa terra, do nosso turismo e da nossa cultura”.
“Eça dedicou algum do seu tempo a descrever e a mostrar o seu encanto pelas paisagens da nossa terra. Foi também ele levado pela família de Lisboa para Baião. Haverá maior honra do que descansar no paraíso que a sua escrita eternizou?”, questiona o PSD Baião.
Em alusão a José Luís Carneiro, o núcleo partidário refere também “não poder compactuar que toda a influência e peso política do deputado, secretário geral adjunto do PS, vice-presidente da bancada parlamentar do PS e presidente da Assembleia Municipal de Baião possui, não tenha sido usado para a concretização efetiva das obras estruturais que há tanto tempo são prometidas ao nosso concelho, tal como a ligação de Baião à Ponte da Ermida ou os efetivos descontos nas portagens do interior ao qual Baião foi vergonhosamente esquecido”.
O que o PSD Baião não pode compactuar é que muitos daqueles que tanto erguem a bandeira da descentralização, não entendam que isto por si só, é também uma forma de centralismo.
Por sua vez, Paulo Pereira, presidente da comissão política do PS de Baião, vê com bons olhos a notícia da aprovação da trasladação do romancista. “No Panteão Nacional, temos homenagens a figuras como Luís de Camões, Pedro Álvares Cabral ou Vasco da Gama – figuras maiores da nossa nação. Dando este enfoque inicial, para que se perceba do que estamos a falar, haverá melhor maneira de homenagear Eça de Queiroz do que lhe conceder honras de Panteão? Penso que dificilmente – e que até a própria fundação sairá homenageada”, antecipa.
Por estas razões, “enquanto baionense, presidente do PS de Baião e até da câmara municipal”, confessa-se “muito satisfeito por esta honra à figura de Eça de Queiroz. É uma honra para a fundação, para Baião, para a região e para o país”, defende.
Em declarações proferidas ao jornal ‘A Verdade’, o dirigente partidário pede que “este assunto seja olhado com serenidade, elevação, razão” e ainda com “o distanciamento necessário. Temos de nos focar no que é verdadeiramente importante – honrar a figura do Eça de Queiroz, assunto que mereceu a aprovação e aplauso de todas as forças políticas da Assembleia da República, incluindo do PSD”.
Ainda assim, Paulo Pereira admite que “poderia ter havido uma maior articulação e envolvimento com a junta de freguesia e com a câmara municipal”, embora acredite que “a rapidez da aprovação da Assembleia da República” tenha dificultado esse passo. “Não nos podemos esquecer que o presidente da fundação e bisneto do escritor deu o pontapé de saída. O José Luís Carneiro deu uma ajuda e penso que ele tinha em mente articular a nível mais local, mas o projeto andou rápido e penso que até o terá surpreendido um bocadinho”, considera, para finalizar.