O encerramento dos postos de distribuição dos jornais portugueses na diáspora durante o confinamento devido à Covid-19 agravaram a situação destes órgãos de comunicação social e o apoio que receberam do Estado português não chegou para garantir a sobrevivência.
Em França, o ‘LusoJornal’ sentiu o agudizar desta crise de duas formas: a quebra abrupta das campanhas publicitárias, receita fundamental para o jornal, e o fecho dos locais onde este órgão de comunicação social é distribuído gratuitamente, como cafés, restaurantes, mercados, igrejas e escolas.
O diretor do ‘LusoJornal’ afirmou à agência Lusa que, antes da pandemia, este semanário franco-português tinha uma tiragem de 10 mil exemplares e que, durante o confinamento, que encerrou os postos de distribuição, teve de limitar-se à sua edição online.
Carlos Pereira disse que a edição conseguiu superar os 80 mil leitores online esperados para 2020, atingindo as 150 mil, mas não tem dúvidas de que se deveu ao período de confinamento em França, tal como em grande parte do mundo.
Em setembro, o jornal voltou ao formato papel, mas com uma periodicidade quinzenal e ainda não tem prazos para voltar a ser semanário.
Do Estado português, o ‘LusoJornal’ recebeu um apoio extraordinário de 9.500 euros, através da compra de publicidade institucional. Foram “bem-vindos” mas insuficientes lamento Carlos Pereira, defendendo que esta aquisição de publicidade aos órgãos de comunicação social portugueses, prevista na lei, passe a incluir os media na diáspora.
Brexit e Covid: duas pandemias juntas
No Reino Unido, o jornal português ‘As Notícias’ andava às voltas com a crise que o Brexit trouxe, como o fim dos contratos publicitários de grandes empresas que optaram por deixar este país, quando a Covid-19 chegou.
Com uma tiragem habitual de 20 mil a 25 mil exemplares, distribuídos gratuitamente em postos frequentados por portugueses, o jornal teve de parar quando o confinamento ditou o fecho destes espaços.
“Vivemos uma crise devido a duas pandemias: a do Brexit e a da Covid-19”, disse à agência Lusa o diretor do jornal, João Noronha.
Em outubro o jornal voltou às ruas, mas em novembro já não conseguiu e, às vésperas do Natal, a grande incógnita era a distribuição no final do mês.
“Primeiro ficámos sem parte importante da publicidade, pois as grandes empresas, como bancos e companhias de seguros que também trabalhavam com as comunidades optaram por sair do Reino Unido, em virtude do Brexit. E, depois, a Covid-19 deixou-nos sem espaços para o jornal ser distribuído”, lamentou João Noronha.
Os 6.500 euros recebidos pela ajuda extraordinária do Estado português também não foram suficientes e o diretor ao jornal não tem dúvida que este órgão de comunicação social é completamente dependente dos seus proprietários, que são dois empresários.
Antes com uma periodicidade quinzenal, passou a mensário e a edição online tem tido uma boa aceitação, tendo atingido os 150 mil leitores diários em julho, graças ao confinamento. Hoje em dia, contabiliza entre os 40 e os 50 mil leitores diários.
Sobreviver por “teimosia”
Na África do Sul existe o mais antigo jornal português na diáspora, o ‘Século de Joanesburgo’, propriedade de Paula Caetano, que reconheceu à Lusa que a sobrevivência deste órgão de comunicação social se deve apenas à sua “teimosia”.
Com 57 anos de história, o ‘Século do Joanesburgo’ ia para os postos de distribuição duas vezes por mês, mas “muitos deles fecharam – como cafés, restaurantes, mercados e lojas de e frequentadas por portugueses – e alguns nunca mais voltarão a abrir”, disse.
Paula Caetano, presidente da Século Investment holding, a gestora de participações sociais do grupo que detém o jornal, disse que, aquando do confinamento na África do Sul, o país com mais casos de covi-19 do continente, as gráficas encerraram e nessa altura não foi possível a sua impressão.
A solução foi uma edição online, que continua a ter bons resultados: “Conseguimos milhares de visualizações, mas o mais importante é que chegamos a países de todo o mundo”, afirmou.
Atualmente, o jornal voltou a ter edições em papel, distribuídas principalmente junto dos que não acedem às edições online, como os portugueses que estão em lares, que são cada vez em maior número naquele país.
Sem avançar prognósticos sobre a sobrevivência do jornal, Paula Caetano garante que vai continuar “a fazer o melhor possível”.