O Natal está à porta. Estamos, com efeito, num período do ano em que muitas palavras alusivas se dizem e multiplicam quando o assunto é o Natal.
Não obstante o significado bíblico e afetivo, a verdade é que, atualmente, se estará a valorizar em demasia, o Natal comercial, o Natal do Folclore e da Gastronomia, sempre com muitos e exuberantes enfeites, lâmpadas de inúmeras formas e diversa cor, ao invés do Natal da Luz, das Divinas Estrelas Celestes, do Natal do Amor.
Este período festivo, em que deveriam ser considerados e vividos, ao mais alto nível, os valores da solidariedade e da família, acaba por se tornar grande motivo de azáfama invulgar, da vontade de comprar e receber, de comer e beber, percebendo-se que o desejo de beijar ou falar no Menino Jesus, sem igual, foi “trocado” pelo imaginário do Pai-Natal.
Fala-se do que se comprou, do que se comeu, das festas que se fizeram, mas não do que generosamente se doou e nas Celebrações Religiosas em que se esteve presente.
De alguma forma poderá considerar-se que se está a aumentar o Natal do desejo consumista e a diminuir o da humildade, da generosidade, do altruísmo…
Alimenta-se a desmedida satisfação do prazer… de adquirir bens materiais supérfluos, não raras vezes, como forma de compensar afetos vencidos e tantos momentos de partilha perdidos.
Ora essa prática acentua o espírito da indiferença, que importa combater, valorizando os afetos e a ação fraterna, no exercício efetivo de uma interação verdadeiramente dinâmica.
Dessa “crise” social e de valores que nos aflige, resulta também a falta de amor, fraternidade e de sentido de justiça, num contexto de interação aproximativa e construtiva entre pessoas, instituições, estados e nações.
Por isso, importará compreender, não só o que é o Natal, na sua genuína essência, mas sobretudo o que deve significar no coração das pessoas.
Para além da vertente festiva, o período natalício deve ser um tempo de reflexão, de promoção da consciência da fraternidade, seriamente ameaçada pelo individualismo, egocentrismo e consumismo, o que leva ao enfraquecimento dos laços sociais e familiares, alimentando a mentalidade do descartável que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos e desprotegidos, ou mesmo considerados inúteis, como os doentes, os deficientes e os idosos.
E quanto a estes últimos, falo com o saber da experiência. Isto, sem esquecer os reclusos.
Perante as evidentes situações de desigualdade, urge promover o Natal da partilha, do desejo de afetos e sorrisos sinceros, de calorosos apertos de mão, de olhares amistosos, potenciadores de aproximação e de luz nos caminhos cinzentos.
Desejar que Natal nos transforme e conduza a um caminho que se percorre com alegria e entusiasmo, partilhando a vida com alguém que nos ajude no processo de discernimento, realização, felicidade e verdade.
Um caminho sustentado no desejo de um verdadeiro sentido de vida, para que nos podermos manter vivos e plenamente ativos, tendo sempre em conta que é urgente combater a apatia perante o mal, a resignação, o “lavar das mãos” perante as injustiças, a inoperância como satisfação do bem-estar egocêntrico.
Todos em conjunto e cada um de nós em particular, somos chamados a refletir sobre a realidade que nos rodeia, banindo atitudes acomodadinhas, silenciosas e passivas.
É imperioso evitar a tentação de virar os olhos para o lado, onde as necessidades imateriais e materiais existem, encurtando distâncias afetivas, nomeadamente em relação aqueles que ocupam os mesmos territórios e se movimentam nos mesmos espaços, sem nos tornamos bilateralmente indiferentes, demonstrando até a nossa frontalidade e desprendimento em situações que merecem o nosso “repensamento” e a disponibilidade para a reconciliação e alívio do sofrimento.
Se esse for o nosso desejo, aquém da indiferença e da materialidade, ajudaremos a construir um mundo melhor e mais feliz para todos, tornando-nos testemunhos vivos, imersos numa verdadeira comunhão de vida.
Natal da indiferença…
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