Estudo quer apurar por que razão uns pinheiros resistem ao nemátodo e outros não

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Investigadores de Portugal, Espanha, EUA e Reino Unido estão a desenvolver um estudo para descobrir a razão pela qual umas espécies de pinheiro resistem à doença provocada pelo nemátodo da madeira do pinheiro e outras não.

A existência de “espécies de pinheiro que resistem e de outras que cedem à doença” provocada pelo nemátodo da madeira do pinheiro (NMP) foi “o ponto de partida para um estudo internacional”, que acaba de obter 240 mil euros de financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia”, afirma a Universidade de Coimbra (UC), numa nota hoje divulgada.

Liderado por investigadores da UC, o projeto, denominado PineWALL, conta também com a participação de especialistas das universidades do Porto, de Gales (Reino Unido) e da Geórgia (Estados Unidos da América), e do Centro de Investigação Florestal de Lourizán (Espanha).

A doença provocada pelo NMP, também identificada por murchidão, é “uma grave ameaça para as florestas de Portugal e do resto do mundo”, com “impacto económico devastador nas regiões afetadas”, pois, “identificada a doença, a única solução é o abate imediato das árvores e a sua destruição”.

A investigação apresenta “uma abordagem inovadora e multidisciplinar, focada na parede celular do hospedeiro do nemátodo (árvore) e não apenas no agente que provoca a doença da murchidão do pinheiro”, refere a UC.

Além disso, “o estudo pretende entender em que medida a suscetibilidade ao nemátodo da madeira do pinheiro é agravada pelas alterações climáticas”.

Tipicamente, realça a UC, “os vários estudos sobre este problema centram-se no inseto vetor e no nemátodo”.

O PineWALL “foca-se, pela primeira vez, na relevância da composição e estrutura da parede celular de pinheiros de diferentes espécies para a resistência ao NMP num cenário de alterações climáticas”.

“Para tal, partimos de estudos prévios realizados por nós, que têm melhorado o conhecimento acerca dos mecanismos de patogenicidade do NMP e das relações biológicas estabelecidas com a árvore hospedeira”, explica Ricardo Costa, coordenador do projeto.

A parede celular vegetal, acrescenta o investigador da Unidade de I & D “Química-Física Molecular” e do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, é uma estrutura altamente complexa e dinâmica, e “o seu estudo é fundamental para desvendar causas de resistência/suscetibilidade variável” ao nemátodo entre diferentes espécies e variedades de pinheiro.

“A parede celular é o que dá forma às células e é a base para muitas funções vitais das plantas, tais como fornecer suporte e resistência, nomeadamente através da formação de barreiras defensivas contra agentes patogénicos, desidratação e outros fatores ambientais”, sustenta Ricardo Costa.

Para descobrir o motivo pelo qual a doença se desenvolve nuns pinheiros e noutros não, os investigadores vão estudar três espécies de pinheiro – o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), que é a espécie mais afetada pela doença e economicamente mais importante, o pinheiro manso (Pinus pinea) e o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), duas espécies menos suscetíveis ou até tolerantes ao ataque do NMP.

“O que nós vamos fazer é estudar do ponto de vista bioquímico, comparar a composição e ultraestrutura molecular entre espécies tolerantes e não tolerantes”, esclarece Ricardo Costa, adiantando que também será feita “uma caracterização celular exaustiva das três espécies, para tentar descobrir se existe alguma propriedade que impeça a propagação da doença nas espécies que não são suscetíveis, ou que promova a sua propagação em espécies suscetíveis”.

Para realizar essa caracterização geral e aprofundada da parede celular de árvores das três espécies de pinheiro, inoculadas e não inoculadas com o NMP, vão ser usados vários métodos de espetroscopia vibracional e de química analítica.

Depois, com base na informação química da parede celular do hospedeiro e em modelos climáticos, os especialistas vão desenvolver modelos que permitam correlacionar fatores e efetuar previsões que consigam indicar as espécies que poderão ser mais suscetíveis à doença face às alterações climáticas, problema que tende a agravar-se, “permitindo trabalhar no melhoramento de espécies, ou seja, criar pinheiros resistentes, contribuindo, assim, para a definição de uma espécie que melhor se adapte a condições climáticas e fitopatológicas em mudança”, adianta Ricardo Costa.

O projeto “providenciará uma compreensão mais ampla desta infeção pelo NMP e dos mecanismos de resposta do hospedeiro e será um recurso de extrema utilidade em futuros projetos que lidem com a mitigação dos efeitos devastadores desta doença”, conclui o investigador da UC.

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