Uma reportagem no País Regiões da RTP, mostrou que em Portimão, no Algarve, a Aldeia de São José de Alcalar funciona como um grande lar residencial. Perto de uma centena de pensionistas que não podem viver sozinhos encontram lá uma casa. Aí percebe-se que essas aldeias podem funcionar como ferramenta contra o despovoamento.
Não há jornal nenhum ou revista ou canal televisivo que não tenha já feito reportagens desta aposta pioneira, já com alguns anos e que contrasta com os lares que por vezes são considerados“ depósitos de idosos”. Este modelo de funcionamento até já chegou ao conhecimento dos japoneses, que vieram a Alcalar para ver e instalar nos subúrbios de uma cidade japonesa, este modelo. cidade. Já em 17 de Outubro de 2010 uma reportagem do jornal “Público” assinada por Idálio Revez, dava conta que este projeto resulta da teimosia de um padre que, dizem, teria jeito para empreiteiro, administrador ou político e que já ali está colocado há meio século. A reportagem referia “ Por ali, as portas das casas estão abertas dia e noite, o que não é certamente um hábito português, mas esta aldeia, na freguesia de Mexilhoeira Grande, não é uma terra portuguesa normal. As 52 casas de Alcalar (26 de tipologia T1 e 26 T3) foram construídas em dois blocos circulares, em volta de uma eira. Foram pensadas para gente que está na idade da reforma e não pode viver sozinha. Não é um lar e também não é um resort, para reformados endinheirados. É uma utopia de portas abertas que nasceu da teimosia do padre jesuíta Domingos Costa. Um homem obstinado, sem papas na língua nem paciência para leis que não servem as pessoas.
A aldeia é necessariamente diferente da de um lar em que os utentes têm um quarto individual e salas colectivas. Aqui, toda a gente tem direito a uma vivenda, sem cozinha. Há uma área de apoio parecida com kitchnette, com coisas básicas, mas as refeições são servidas no refeitório, onde se confecciona alimentos cultivados e criados aqui mesmo. “Procuramos que todos os que podem venham pelo seu próprio pé, nem que seja a coxear – o movimento é indispensável”, diz Sara Duarte. Este foi o seu primeiro emprego, desde que saiu da universidade, há cinco anos. Sente-se realizada a ajudar o padre Domingos, para quem Alcalar deve proporcionar um ambiente em que as pessoas possam ter a sua “intimidade, sentirem-se autónomas mas ao mesmo tempo acompanhadas”.
A aldeia nasceu em 1989, numa altura em que os “cidadãos se podiam organizar e ter iniciativas próprias”, diz o padre. Mais tarde, chegaram leis, “burocracia”, e “regras para a certificação”. “A qualidade de vida passou a ser medida a régua e esquadro”.
As pequenas moradias têm porta aberta ou a chave disponível para quem quiser entrar a qualquer hora. Lá dentro, um quarto, uma casa de banho e uma sala. As visitas são sempre bem-vindas, de dia ou de noite. Os utentes saem e entram à vontade, ajudam-se mutuamente em espírito de boa vizinhança.
Os projectos das casas ainda hoje não estão aprovados pelos serviços autárquicos. O processo de legalização está agora a ser iniciado “como se estivesse no zero”. E se à luz da actual legislação as casas vierem a ser consideradas clandestinas? “Já disseram que tinha de fazer alterações – construir uma rampa, mas enquanto eu estiver vivo não se faz.” O pároco, que vive de uma reforma refere” se o Estado está habituado a deitar fora o dinheiro de todos nós, eu não.” Socorrendo-se das sagradas escrituras, cita São Paulo: “A lei mata, o espírito é que vivifica – e esta é uma obra do espírito.”
Quando abraçou esta causa, em 1988, o arquitecto pergunto-lhe: “Sabe onde vai meter-se? Sabe quanto vai custar?” A resposta, recorda, desarmou o autarca: “Não sei, nem me interessa.” Martim Garcias avançou com um número: “Pelo menos 2,5 milhões de euros.” O padre respondeu que tinha 15 mil contos (75 mil euros), deixando a promessa de que não iria desistir. Aos poucos, com donativos e trabalho voluntário, a obra fez-se. “Isto é bonito, o Evangelho funciona mesmo.”
Preço igual para todos
A administração desta aldeia fica com 85 por cento desse valor. A percentagem, diz o pároco, “é igual para todos, independentemente do valor”.
As inspecções da segurança social, diz, falam da necessidade de existir certificação de qualidade, “mas não olham para as pessoas, nem falam com elas”. O que os preocupa, acrescenta, “é a altura das portas, se existe ou não extintor e a pintura das paredes, a isso é que chamam qualidade”.
Quando uma Misericórdia gasta 100 mil euros para obter um certificado de qualidade isso é dinheiro mal gasto, comenta. “Tanta gente à procura de uma cama, e o que lhes interessa são os papéis e um carimbo.”
Registe-se que nesta aldeia o Covid 19 não entrou