A secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, realiza a partir de quinta-feira, 19 de novembro, a sua primeira visita à África do Sul, para se inteirar das “dificuldades e ansiedades” dos portugueses e lusodescendentes no país africano, foi hoje anunciado.
Do programa da visita de quatro dias constam encontros com representantes das comunidades portuguesas em Joanesburgo, Pretória e Cidade do Cabo, com regresso previsto a Portugal no domingo.
Berta Nunes vai reunir-se com representantes da comunidade portuguesa local, entre os quais conselheiros das Comunidades Portuguesas e responsáveis do movimento associativo.
No âmbito da colaboração entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) para apoiar instituições de assistência social no país, a governante, acompanhada pela diretora de Ação Social da SCML, Maria da Luz Cabral, visitará a Escola do Lusito e os Lares de S. Francisco de Assis, de Nossa Senhora de Fátima e de Santa Isabel, onde decorrem intervenções de requalificação nas respetivas instalações.
O programa inclui igualmente uma visita à Embaixada e aos serviços consulares portugueses e uma reunião com professores da Rede de Ensino Português na África do Sul.
Dar a conhecer “as nossas dificuldades”
Em Joanesburgo, Berta Nunes irá dialogar com líderes da comunidade portuguesa de áreas como o associativismo, o setor social e o empresariado, estando também previsto um almoço na sexta-feira organizado pela União Cultural, Recreativa e Desportiva Portuguesa (UCRDP), disse à Lusa o dirigente da coletividade, José Contente.
“A nossa expectativa é dar a conhecer no início do mandato que assumiu no ano passado, uma vez que é a primeira vez que se desloca a este continente, as nossas dificuldades, fazer ver que esta comunidade que tem sido pobremente acompanhada merece um bocadinho mais, e ver se pelo menos motiva um investimento qualquer na nossa juventude aqui na região”, adiantou Contente à Lusa.
O dirigente da coletividade portuguesa mais antiga na África do Sul, criada em 1961, sublinhou à Lusa que as medidas de confinamento da covid-19 agravaram a sustentabilidade financeira do movimento associativo imigrante.
No mesmo dia, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas irá participar, também, num jantar em Pretória, sede da presidência sul-africana, com a comunidade lusa, da responsabilidade da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória (ACPP), segundo a coletividade local.
O número de portugueses e lusodescendentes na África do Sul estima-se em 500 mil, sendo considerada uma das maiores comunidades imigrantes fora de Portugal que passou por dificuldades extraordinárias em Angola e Moçambique com o processo de descolonização.
Cerca de 125 mil portugueses tem registo consular na África do Sul, dos quais cerca de 75 mil em Joanesburgo, o motor da economia do país, e cerca de 20 mil na Cidade do Cabo, disse à Lusa fonte consular.
Com uma taxa recorde de desemprego de 43,1%, no terceiro trimestre deste ano, a economia mais industrializada de África, que está em recessão desde o ano passado, debate-se também com problemas estruturais, corrupção galopante na administração pública e elevados níveis de criminalidade, com 652.726 crimes reportados entre julho e setembro, um acréscimo de 33.9%, segundo a polícia sul-africana.
Dados da organização não-governamental luso-sul-africana Fórum Português, consultados pela Lusa, indicam que desde março deste ano foram assassinados sete portugueses na África do Sul, dos quais dois este mês, em Gauteng, província envolvente a Joanesburgo.