“Não se fazem acordos com partidos xenófobos, racistas, extremistas e populistas. Com partidos que, por ignorância ou perversidade moral, propalam propostas incompatíveis com a dignidade humana. Ponto!”, escreveu o ex-ministro do Ambiente num artigo publicado no jornal Público.
Fazer acordos com um partido como o Chega, que defende “propostas grotescas”, é uma “alteração radical do posicionamento ideológico e programático” do partido que é uma “traição” aos “valores e princípios” do PSD, acrescenta.
Os valores, insistiu, do “personalismo, primado da dignidade da pessoa, igualdade de oportunidades, combate à exclusão, tolerância, garantia de integridade física e mental, e não discriminação étnica e social — não são, de modo algum, compatíveis com quaisquer vizinhanças políticas com o Chega e com as suas grotescas propostas”.
Moreira da Silva alerta, no artigo, para as eventuais consequências eleitorais para o PSD de um acordo como o dos Açores e para as dúvidas de poder ser repetido nas próximas eleições nacionais, autárquicas e legislativas.
“A simples circunstância de existir essa dúvida – inteiramente legítima por parte de quem vota – terá um efeito devastador no eleitorado moderado de centro e no eleitorado jovem”, escreveu o ex-vice-presidente de Pedro Passos Coelho no PSD, que sublinha a “magna e irredutível questão dos princípios”.
O atual diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE afirmou ainda que “não deixa de ser surpreendente que, no plano tático, o PSD tenha, com esta opção, entregado o centro ao PS, oferecido a direita moderada ao Chega e branqueado a operação de derrube do Governo que em 2015 venceu as eleições”.
Por fim, Moreira da Silva considerou “necessária a realização de um congresso extraordinário do PSD para definição”, antes das próximas eleições autárquicas e legislativas, de uma “política de coligações e entendimentos”, que qualifica de “imprescindível” para “clarificar esta questão de identidade, não do PSD, mas da sua atual direção”.
O PS venceu as eleições legislativas regionais em 25 de outubro, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, alcançando 25 dos 57 lugares da Assembleia Legislativa Regional.
PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representam 26 deputados, anunciaram um acordo de governação, tendo alcançado acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal (IL).
Com o apoio dos dois deputados do Chega e do deputado único do IL, a coligação de direita soma 29 deputados na Assembleia Legislativa dos Açores, um número suficiente para atingir a maioria absoluta.