A zona histórica da vila de Alpedrinha, no concelho do Fundão, foi classificada como conjunto de interesse público.
A classificação teve como base o “interesse como testemunho notável de vivências e factos históricos, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco”, para além da “conceção arquitetónica, urbanística e paisagística” do centro histórico da vila, a sua extensão e o que “nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva”, refere o diploma assinado pela secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira.
A portaria também fixa a respetiva zona especial de proteção, que apresenta as regras para cada uma das áreas abrangidas, tendo “em consideração a situação geográfica da vila e o seu enquadramento paisagístico, indissociável da leitura de conjunto, bem como a existência de uma área urbana que, embora não integrada na classificação, conserva património histórico, arquitetónico e artístico relevante”.
Com o objetivo de “proteger a envolvente do conjunto”, são igualmente fixadas restrições, nomeadamente ao nível da “volumetria, morfologia, alinhamentos e cérceas, cromatismo e revestimento exterior dos edifícios”, estando ainda definida a área de sensibilidade arqueológica, os bens imóveis que devem ser preservados integralmente e os que podem ser objeto de obras de alteração.
A zona Histórica de Alpedrinha, especifica o texto, constitui o núcleo fundamental desta vila, e “possui ainda um notável conjunto edificado, que inclui a capela renascentista de Santa Catarina ou do Leão, com um grandioso portal afiliado nos traçados arquitetónicos de Nicolau de Chanterene, o pelourinho seiscentista e um monumental chafariz barroco”.
“Da época de esplendor da vila, entre meados do século XV e a centúria de Seiscentos, ficaram diversas casas de cronologia e ornamentação manuelina, a par de outros exemplos de arquitetura vernacular, e de muitos edifícios de feição mais nobre, como os Paços do Concelho ou a Casa do Cardeal de Alpedrinha, bem como muitos templos, a maior parte dos quais teve reconstruções ou alterações posteriores”, acrescenta.
A classificação patrimonial desta localidade tinha sido solicitada pela Câmara do Fundão, depois de, em 2014, a tutela ter deixado caducar um outro processo.
Na encosta da Serra da Gardunha
Alpedrinha, fica situada na encosta da Serra da Gardunha, a cerca de 556 metros de altitude, e envolta numa zona de beleza única.
A paisagem de serra, as ruas sinuosas, as casas típicas recuperadas, fazem da bonita vila um local com muito interesse turístico, sem esquecer o forte património histórico, arquitectónico e social.
Em Alpedrinha são de destacar as muitas casas senhoriais, muitas delas hoje transformadas em unidades turísticas de qualidade, atestando o valor destas terras ao longo dos séculos.
As igrejas Matriz e da Misericórdia (século XVII), as Capelas de São Sebastião, de Santo António, do Espírito Santo, de Santa Catarina, do Menino Deus ou a do Senhor da Oliveira, são paragem obrigatória.
As ruas típicas, com traçado medieval e casas de cantaria com bonitas varandas e recantos floridos, são outro dos importantes patrimónios de Alpedrinha, sem esquecer as suas muitas fontes e chafarizes como o chafariz do Espírito Santo, e o do de D. João V, a Fonte do Leão ou o Chafariz novo.
O Museu de Arte Sacra, na Igreja Matriz, no Museu da Liga dos Amigos de Alpedrinha, situado no edifício dos Antigos Paços do Concelho e o Salão de Arte José Parente Pinto, com uma interessante oficina de móveis embutidos, reúnem um espólio museológico rico.
Outro ponto de interesse é o Palácio do Picadeiro: um edifício construído nos finais do século XVIII que se aprensenta no alto da calçada romana.
Um traçado praticamente inalterado
As origens da vila são remotas, existindo vestígios de ocupações ainda pré-históricas.
Mas o foi constituído durante a ocupação romana, e chamava-se, então ‘Petratinia’ e, dessa época, a vila conserva ainda a estrada romana, que atravessa todo o seu perímetro longitudinalmente.
Durante a Idade Média, a povoação era administrada por donatários, e em 1266 Diogo Lopes e Urraca Afonso doaram as terras de Alpedrinha à Ordem do Templo. Nesse mesmo ano terá sido iniciada a edificação da primitiva matriz de Alpedrinha, a Capela do Espírito Santo, cujas obras foram terminadas no ano de 1301.
Nos dois séculos seguintes a povoação foi conhecendo um crescimento progressivo, e na segunda metade do século XV inicia-se, segundo Jaime Cortesão, o “período de esplendor da vila”, que se prolongaria até ao século XVII, escreve a historiadora Catarina Oliveira, do Instituto Português do Património Arquitetónico.
“Este período áureo da vila beirã deveu-se sem dúvida à atividade mecenática de D. Jorge da Costa, o conhecido Cardeal Alpedrinha, bem como da sua família. Exemplos disso são a fundação da Misericórdia local e a edificação da Capela de Santa Catarina”, escreve.
A irmandade da Misericórdia de Alpedrinha foi uma das primeiras a ser instituídas no país, depois da fundação da Misericórdia de Lisboa, o que se explica pelo papel que teve D. Jorge da Costa na constituição desta última. O templo da irmandade terá sido construído nessa mesma época, mas o que atualmente subsiste no centro da vila é uma obra da segunda metade do século XVIII.
Na século XV a vila continuou a crescer, e são dessa época a designada Casa do Cardeal Alpedrinha, uma edificação da primeira metade do século, e os Paços do Concelho, um grande edifício dividido em três pisos edificado em 1680. A povoação foi elevada a sede de concelho em 1675 pelo regente D. Pedro, tendo sido construído de imediato o pelourinho local, situado na praça central da vila.
O século XVIII testemunhou a construção de um majestoso fontanário público num dos extremos da vila. “Mandado edificar por D. João V em 1714, este chafariz barroco, designado como um dos maiores do país, foi traçado sobre a calçada romana, segundo um projeto da autoria de Valentim da Costa Castelo Branco, um engenheiro do Exército natural de Alpedrinha”, revela o texto de Catarina Oliveira.
No final desse século foi construído, nos arredores da povoação, o Palácio do Picadeiro, um solar barroco edificado sobre uma antiga residência da Companhia de Jesus.
“É curioso verificar que a renovação do seu centro histórico foi feita, sobretudo, através de uma constante atualização dos seus modelos arquitetónicos, uma vez que o traçado urbano medieval, desenvolvido em torno da estrada romana, se foi mantendo praticamente inalterado”, conclui a historiadora.