Naquela macia manhã de domingo, fui com meu pai, à missa, na igreja de Santíssima Trindade. Era meio-dia quando descíamos a ampla escada de granito, que dá acesso à ádito do templo.
Avizinhou-se de nós homem alto, elegante, bem trajado, de óculos reluzentes de cor doirada, cabelo grisalho e rosto risonho, de braços abertos, que euforicamente, cumprimentou meu pai. Sem mais delonga, disse-lhe em afetuosa jovialidade:
– “Ainda ontem falamos de si! …”
– “Sim?!” – respondeu meu pai, segurando, com firmeza, os longos e finos dedos morenos do álacre cavalheiro.
Soube, mais tarde, que se tratava de insigne causídico da nossa cidade.
– “Pois é verdade! Você é um jornalista genial! Escreve com estatura dos grandes prosadores; tem cultura invulgar; e é notável perito da História da cidade. Minha mulher, que é formada em Letras, até me perguntou: “Que curso terá esse Pinho da Silva, para ter tanto talento, e possuir admirável estilo?!”
Meu pai, surpreso, agradeceu o inesperado elogio e após breve pausa, declarou galhofeiramente:
– “ Não tenho curso algum…”
Disse a verdade, omitindo, porém, que cursara as Belas-Artes, e fora discípulo de ilustres e conhecidos mestres.
O famoso jurisconsulto, mirou-o num relance, estupefacto, de cima a baixo, de olhos esbugalhados de espanto. Depois… tartamudeando palavras ininteligíveis, acabou asseverando, com sorriso compulsivo, nos descorados lábios:
– “Pois não parece! …. Para quem não tem diploma superior, escreve bem. Muito bem… Continue…continue…que irá longe…mesmo sem curso! … “E eu a pensar, que tinha cursado Letras!”
O conhecido causídico, estampou expressão de espanto, e certamente pensou com seus bonitos botões doirados: “como é que consegue, sem ter frequentado os bancos universitários?! …”
As Belas-Artes, no tempo da juventude de meu pai, não pertenciam ao ensino superior.
O bom jurisconsulto, pensava, que para se ser bom escritor e bom jornalista, era preciso frequentar a Faculdade de Letras! … Como se as Letras estivessem lá! …
Compreendo, assim, perfeitamente, porque pretendentes a deputado, inventem cursos e diplomas, que não possuem, para serem respeitados.
Quando realizei, numa publicação local, dezenas de entrevistas (quase duas centenas) a figuras públicas, um jovem deputado, confidenciou-me: que ia cursar Faculdade, para poder impor-se, no parlamento…
Vivemos num mundo de “canudos”.
Marden, asseverou: dava-se mais valor ao diploma, que ao verdadeiro conhecimento.
E continua a ser verdade…
O bom jurisconsulto, pensava, que para se ser bom escritor e bom jornalista, era preciso frequentar a Faculdade de Letras! … Como se as Letras estivessem lá! … Compreendo, assim, perfeitamente, porque pretendentes a deputado, inventem cursos e diplomas, que não possuem, para serem respeitados.