O movimento SOS Serra d’Arga, no Alto Minho, e associações da Galiza instalaram recentemente faixas de protesto nas duas margens do rio Minho, em Vila Nova de Cerveira e Tomiño, contra a eventual exploração lítio naquela região portuguesa.
“Vamos instalar duas lonas pretas e amarelas, com seis metros de comprimento e 1,6 metros de largura, onde ser poderá ler a frase Minho unido contra as Minas”, escrita em português e galego. Uma das faixas ficará instalada do lado português do rio Minho, em Vila Nova de Cerveira, e a outra, no lado espanhol, em Tomiño”, disse Ludovina Sousa do movimento cívico SOS Serra d’Arga.
A ação “simbólica” que decorreu no sábado, na ponte da Amizade, que liga Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo, a Tomiño, na província de Pontevedra, pretende “mostrar publicamente a união das duas regiões na defesa de um património comum, o rio Minho, que poderá estar em causa se o projeto de mineração que o Governo português pretende implementar fora para a frente”.
Queremos mostrar que a luta contra o lítio está aí e que os movimentos e associações que o contestam não estão parados”, sublinhou Ludovina Sousa.
O “ato simbólico de união das populações e autarquias das margens do Rio Minho” pretende ainda mostrar “a consternação e rejeição que assola os portugueses perante um projeto de fomento mineiro altamente lesivo para as gerações presentes e futuras é comum a milhares – senão milhões – de cidadãos galegos, cuja vida económica, social e cultural é construída em torno deste eixo de conexão transfronteiriça”.
O movimento SOS Serra d’Arga tem vindo a promover, desde agosto, “contatos diretos com várias associações galegas, no sentido de delinear ações de sensibilização e apelo popular para o envolvimento numa causa que é comum”.
A iniciativa realizada no sábado, decorreu “sobre o Minho, o rio que une” as duas regiões, foi promovida pelo movimento SOS Serra d’Arga, em parceria com a Asociación Naturalista do Baixo Miño (ANABAM), Centro Social Fuscallo e a A Jalleira (Asociación Forestal e de Educación Ambiental), com o apoio das autarquias de Vila Nova de Cerveira e Tomiño.
Recorde-se que a serra d’Arga abrange uma área de 10 mil hectares, nos concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura, Viana do Castelo e Ponte de Lima, dos quais 4.280 se encontram classificados como Sítio de Importância Comunitária.
Aqueles cinco municípios têm em curso o projeto “Da Serra d’Arga à Foz do Âncora”, liderado pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, que visa a classificação da Serra d’Arga como Área de Paisagem Protegida de Interesse Municipal.
Em julho de 2019, o Governo decidiu “excecionar” o sítio Rede Natura 2000 Serra d’Arga do conjunto de áreas a integrar no concurso para a prospeção de lítio, mas o porta-voz do movimento SOS Serra d’Arga, Carlos Seixas, assegurou em janeiro que se mantém a pretensão de exploração mineira naquela serra.
Segundo a proposta de Orçamento do Estado, o Governo quer criar em 2020 um ‘cluster’ do lítio e da indústria das baterias e vai lançar um concurso público para atribuição de direitos de prospeção de lítio e minerais associados em nove zonas do país.
Devem ser abrangidas as áreas de Serra d’Arga, Barro/Alvão, Seixo/Vieira, Almendra, Barca Dalva/Canhão, Argemela, Guarda, Segura e Maçoeira.
temperatura vai aquecer
Contudo o tema da exploração do lítio promete, aquecer a temperatura nos próximos tempos, já que a “Quercus” já fez saber que estará na primeira linha da contestação.
Esta organização ambientalista consiedera “completamente inaceitável a ameaça atual que as explorações mineiras a céu-aberto preconizam” para o ambiente, tendo organizado já um forum para desmistificar aquilo que diz ser “o papel do lítio na descarbonização e na mobilidade sustentável”.
A Quercus entende que, sob a ameaça de exploração de lítio pelos projectos mineiros de Ampliação da Mina do Barroso e Exploração Mineira de Sepeda – Montalegre, “é imperioso um esclarecimento por parte da UNESCO, relativo à manutenção da designação de Património Agrícola Mundial do Sistema Agro-Silvo-Pastoril da Região do Barroso, caso se verifique a instalação das explorações mineiras referidas”.
Para os responsáveis da Quercus este movimento é “em tudo semelhante a uma onda de ‘garimpagem’, que em séculos passados caracterizou movimentos de mineração em outras regiões do globo”. A associação ambientalista apresentou, por isso, já uma denúncia à UNESCO relativa à ameaça que representa a intenção de instalação de duas minas de lítio a céu-aberto em Boticas e Montalegre.