CARLOS Alberto Gonçalves dos REIS, nasceu a 16 de fevereiro de 1942 em Viana do Castelo. Aos 19 anos foi até França gozar uma
licença militar de três meses que duraria 55 anos (até hoje). Casou com Anne Marie Girard e teve dois filhos, o Emmanuel e a Nadia.
O resto da história conta-a aqui na primeira pessoa…
Como foi o principio da sua vida em Viana do Castelo?
Em Portugal, estudei na escola do Carmo – escola primária, da qual guardo uma excelente recordação, lembro-me ainda hoje do director da época “o Senhor Arga”. Seguidamente, estudei na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, curso noturno, 6 anos, obtendo o respetivo diploma. Encontrava-me então com 19 anos, e o serviço militar à porta.
Graças ao meu irmão “Jaime” ainda hoje felizmente vivo, oficial nas forças armadas, que me obteve uma autorização militar para viajar de 3 meses, 3 meses que irão durar 55 anos (para já)…
E foi desta maneira que chegou a França…
Foi desta maneira que cheguei a França, Vésines, Chalette-sur-Loing no Loiret no dia 7 de Setembro 1962, com um amigo, e sem dizer nada à minha querida Mãe, que tanto me ajudou e ainda me ajuda hoje onde se encontra.
Quando cheguei a França num dia de inverno e de neve, nunca pensei que ia passar tanto frio e fome. Em Vésines, na fábrica de Borracha Hutchinson Chalette-sur-Loing, trabalhei durante 3 anos, a dormir no chão, encontrei, um ex-colega da escola comercial, de Alvarães, “o Cesário” que, muito me ajudou, assim como a familia Pereira também de Alvarães. Com esta família, tive a sorte de poder comer todos os dias uma sopa. Ainda hoje penso nela. Tinha um filho chamado João ao qual eu dava “explicações” de matemática. Ele queria ser engenheiro.
Foi a partir daqui que tudo começou a mudar para mim.
A mudar como?
Após três anos de fábrica, matriculei-me num curso para adulto para obter um CAP de “Ajusteur” que obtive ao fim de 7 meses. Com com este diploma já não era um simples operário mas um técnico.
Entretanto fui também tradutor, na Caixa de previdência em Orleães quase ao mesmo tempo. Como técnico, trabalhei três anos numa fábrica “Riviere et Casalis”, em Fleury les Aubrais (Orleães). Foi aqui, que vivi num Lar de Jovens onde fui o presidente do Conselho de Administração. O Director deste Lar, Roger Golf matriculou-me na faculdade de Direito, “Capacité en Droit” diploma de dois anos similar a Solicitador. Obtive esse diploma e com a boa media que obtive, consegui entrar para a faculdade de Direito e Ciências Económicas, em Orleães.
Uma grande ascensão na vida de um emigrante….
A minha ascensão, começou de maneira rápida, porque encontrei a minha esposa, Anne Marie, então, professora de economia. “ Mon dictionnaire parlant” não tinha necessidade de compulsar as páginas do dicionário…Na faculdade, a estudar à noite, como em Viana, consegui a partir do 3° ano de licenciatura, preparar o diploma de advogado.
O diploma superior de direito, permitiu-me ser sucessivamente: Director de Banco, Funcionário no Ministério das Finanças em Paris, Director-Adjunto do contencioso, numa companhia de seguros etc…
Como começou o interesse interesse pela “coisa pública”
Eu já tinha o Bichinho da política em Portugal, mas foi essencialmente nos anos 80 que a politica se apropriou do Carlos dos Reis. Em 1983, quando era director Bancário, o presidente da Câmara de Saint Jean de la Ruelle, Jean Claude Portheault, onde vivo há 55 anos convidou-me a fazer parte da sua lista “Socialista”, para as eleições locais de 1983. Eleições que ganhamos, e onde exerci como vice presidente adjunto, sendo o primeiro português a ser eleito em França. Aceitei porque as minhas ideias politicas, eram socialistas aqui em França, e já eram as mesmas em Portugal.
Gostou de exercer os cargos que ocupou?
É segundo a minha modesta opinião qualquer coisa de primordial na existência dos seres humanos que somos. Exercer um mandato local é capital para melhor apreender a coisa publica, e para mim fui uma honra, ter sido convidado.
Enquanto autarca, exerci as funções durante 35 anos, como: Presidente – adjunto para os Desportos, Integração, Formação e Economia. Nesta área, a que mais gostei foi a responsabilidade nos desportos. Foi assim que criei uma equipe de Hóquei em Patins, sendo, eu mesmo o guarda redes, com a experiência que já trazia da equipa do Vianense. Simplesmente, eu tinha 40 anos na altura e os outros jugadores 18 anos…
todos os cargos publicos foram excelentes, mas devo dizer que para além da função de jurista, o emprego que mais me enriqueceu foi o de ter sido operário; “O operário é síncero, e Amigo” foi o que eu senti no fundo de mim mesmo. Sempre presente para ajudar, e eu fui ajudado para conseguir guardar o meu emprego, duro e dificil, quando cheguei a França.
E a família tem sido um apoio?
Sem quaisquer dúvida, a família um apoio incondicional, essencial na minha modesta existência. De operário português, em 1962 e Advogado em 1975. Foram treze anos de luta, de dúvidas, às vezes de desespero, sem férias nem para mim nem para a família. Mas sempre com a esperança de um dia poder vir a ser melhor. A família, é o valor mais importante da nossa existência.
No desempenho das suas funções que Comunidade Portuguesa tem encontrado?
Tenho constatado que a comunidade portuguesa não é a mesma.
Como autarca e conselheiro verifico que hoje existem problemas de alojamento, de trabalho e até problemas de saúde. Como advogado encontro por vezes na comunidade alguns comportamentos condenáveis que bastante afetam a família. Têm aumentado imenso os casos de divórcio no seio da comunidade.
Por outro lado verifico que a juventude frequenta mais a escola e sobretudo o ensino superior, está portanto muito mais inserida o que é uma excelente notícia…
Infelizmente como Conselheiro das Comunidades verifico que o ensino da lingua portuguesa no estrangeiro é na minha opinião uma mascarada e mostra a falta de credibilidade do nosso ministério da educação nacional.
A língua portuguesa, deveria ser uma língua universalmente ensinada, mas não somente aos portugueses ou de origem portuguesa. A língua portuguesa para ser ensinada a “toda a gente” teria que fazer parte das línguas propostas a todos os alunos, proposta pelo ministério do país de acolhimento que frequentam, colégios, liceus, faculdades, quando estes procuram matricular-se e escolher as línguas que querem praticar ao mesmo título, que se ensina, o espanol o italiano, o árabe, o chinês; ora acontece que não é o que se verifica. Não são as associações que o devem fazer, ou mesmo ter professoras de “Portugal” para ensinar a língua. Na minha juventude, apreendi o Inglês, o Francês etc. com professores portuguesas devidamente diplomados, aliás, o ensino das outras línguas, é feito por professores, franceses ou outros diplomados.
É precisamente porque a nossa língua tem uma imensa importância uma grande dimensão no mundo que deve ser inscrita, e obrigatória no “cursus” de todos os estudantes, em França e no mundo.
O Carlos Reis define-se como politicamente socialista, mas às vezes acusam-no de ser demasiado amigo dos adversários…
Sou socialista, com 35 anos de mandato socialista em França, mas sempre com um principio sacro-santo. O mérito está sempre à frente do partidarismo.
E a razão pela qual sempre apoiei o Carlos Gonçalves do PSD porque sei o que ele tem feito pela comunidade portuguesa, pelo menos na minha região, e onde sou conselheiro e autarca.
Quem me classifica como socialista que dá mais valor ao mérito do que ao partidarismo, tem RAZÃO. Obrigado!.
O que lhe falta fazer?
Sinto-me realizado e feliz. O Presidente da República, Sr. François Hollande, condecorou-me cavaleiro de “l’Ordre National du Mérite” por tudo que tenho feito pela França nomeadamente 35 anos de vida de Autarca, ao serviço da população. Tenho também feito muito pela meu país ajudando os portugueses que aqui chegam e pondo todos os meus conhecimentos ao serviços dos que cá trabalham e desenvolvem as suas atividades. Por isso o que me falta fazer é continuar neste caminho enquanto tiver força e capacidade. E assim farei…