Já começaram as vindimas. Há quebras de produção projetadas para praticamente todas as regiões, sendo o Alentejo a única região que mantém a produção. As associações regionais de produtores falam de quebras entre os 10 e os 30%. O clima e as doenças afetaram as colheitas. Porém o vinho vai ser de qualidade, para compensar o menor volume de produção.
trabalho árduo nas vinhas. Até ao lavar dos cestos dizia o povo é vindima e embora hoje a colheita seja mecanizada em muitos hectares de vinha, já se vindima em força, pois tudo começa em Agosto no Alentejo e depois estende-se pelos mês de Setembro, mais para Norte.
Face ao ano de 2019, apenas a região do Alentejo escapa a uma quebra na quantidade de fruto produzido.
Francisco Mateus, o presidente da Associação Vitivinícola do Alentejo, conta que até espera um aumento nesta colheita. “Mais 5% do que o ano passado. Algo em torno dos 105 milhões de litros”, garante o responsável. Uma tendência, que, diz, é contrária à do restante do país, tal como tem sido nos últimos anos.
VINDIMA EM ANO DE PANDEMIA
Com as vindimas à porta, a palavra de ordem é a prevenção. E é para ajudar a prevenir e evitar eventuais contágios de Covid-19 os Centros de Gestão Agrícola estão a promover ações de esclarecimentos junto dos agricultores e produtores.
Querem sensibilizar os viticultores, todas as pessoas que vão vindimar, a minimizar uma possível transmissão de uma possível infeção Covid-19. Onde a vindima é feita manual e neste caso nos muitos hectares de vinhas do Douro, a vindima implica um grande fluxo de pessoas, com circulação entre várias localidades, e é também uma reunião familiar ou uma festa de entreajuda entre os produtores mais pequenos, por isso, face à realidade atual, não se pode arriscar.
Há que sensibilizar, há que prevenir, porque seria gravíssimo ficar, por causa de um surto de Covid-19 numa exploração, o trabalho de um ano inteiro por colher. Se não se vindimar, não há resultados, podendo ficar em causa a sustentabilidade de muitas famílias e empresas.
As medidas de prevenção básicas na vinha passam pelo uso da máscara, a higienização das mãos e a não partilha de objetos.
O uso de máscara é muito complicado e difícil dadas as condições no terreno, com uma exposição solar terrível. Estamos a falar de 40 graus, onde as pessoas vão suar muito.
É também aconselhado que não se partilhem objetos, como tesouras ou recipientes usados para colocar as uvas cortadas e que sejam constituídas pequenas equipas por valado, sempre com as mesmas pessoas.
Assim, “em caso de infeção, será mais fácil identificar os contactos”, diz Ana Cardoso, aconselhando ao trabalho “frente a frente, com uma certa distância, nos lados opostos da videira, com a folhagem a servir de barreira física.
Apesar de, tradicionalmente, as vindimas serem um tempo de festa e de convívio, em tempos de Covid-19, são desaconselhados os convívios e “são precisos cuidados acrescidos durante as refeições, nomeadamente para que não haja partilha de alimentos”.
Voltando à vinha e às uvas na pátria da Touriga Nacional” o ex-ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, presidente da associação da região vitivinícola do Dão, fala de uma baixa na produção. “Teremos uma redução de cerca de 30% revela”. São os feitos de um verão afetado pelas geadas e pelo míldio, que afetou a colheita de forma irreversível, atesta o responsável associativo. Ao contrário do Alentejo, onde a colheita já começou, a vindima na região do Dão deve arrancar em força no final da próxima semana
O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto confirma também uma quebra com uma quebra de “20%”. Gilberto Igrejas indica que esta quebra deve significar a produção de “cerca de 220 mil pipas na corrente campanha”, um número mais baixo do que o de 2019. Mas o responsável realça que são apenas “previsões”, sendo que a situação do clima nos últimos dias fez mudar a dimensão dos bagos o que pode “amenizar alguma perda”.
BEIRA INTERIOR PREVÊ QUEBRA DE 10 A 15% NA PRODUÇÃO DE VINHO
A produção de vinho na Beira Interior deve registar este ano uma quebra de 10 a 15% relativamente a 2019, refere o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI).
“As previsões, neste momento, apontam para uma quebra global à volta de 10 a 15%. Ou seja, no ano passado tivemos cerca de 25,5 milhões de litros de produção em toda a Beira Interior e, este ano, pelos nossos cálculos, andaremos entre os 22 milhões e [os] 22,5 milhões de litros”, referiu Rodolfo Queirós.
Segundo o responsável, a quebra prevista na produção de vinho deve-se ao facto de em finais de março e início do mês de abril ter ocorrido geada generalizada na região e a um episódio de granizo e de ventos fortes, registado no último fim de semana de maio, que causou “um prejuízo grande” em vinhas das zonas do Fundão, Covilhã e Belmonte.
Relativamente à qualidade do vinho da produção deste ano, o presidente da CVRBI prevê um ano “bastante bom”.
As vindimas já começaram na zona sul da área da CVRBI (Cova da Beira e municípios do distrito de Castelo Branco), enquanto na zona norte (nomeadamente nos concelhos de Pinhel e de Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda) devem iniciar-se no dia 12.
A CVRBI tem sede na cidade da Guarda, no Solar do Vinho, e abrange as zonas vitivinícolas de Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, nos distritos de Guarda e de Castelo Branco, que correspondem a uma área de 20 municípios.
Na área da CVRBI, com perto de 16 mil hectares de vinhas e uma grande variedade de castas (destacando-se as brancas Síria, Arinto e Fonte Cal e as tintas Tinta Roriz, Rufete, Touriga Nacional, Trincadeira e Jaen), existem cerca de 60 produtores de vinho, sendo quatro adegas cooperativas e os restantes produtores particulares.
Segundo Rodolfo Queirós, a afirmação da qualidade dos vinhos produzidos na região “tem sido uma constante”, lembrando que ainda recentemente obtiveram quinze medalhas de ouro e de prata num concurso ibérico.
“Isso evidencia que os vinhos da Beira Interior estão, em termos qualitativos, ao nível do melhor que se faz”, rematou.
Já na região de Lisboa, o presidente da Associação Vitivinícola, Carlos Pereira Fonseca, fala em perdas de “10%”. Mais contidas do que a norte, mas ainda assim signficativas, motivadas sobretudo pelas doenças e chuva na primavera, que afetaram a produção.
VINDIMAS NO DOURO
A empresa Gran Cruz foi uma das primeiras a arrancar com o corte das uvas no Douro, cerca de uma semana mais cedo do que no ano passado por causa das condições climatéricas, como o calor intenso que poderá tornar este verão num dos mais quentes de que há registo. Na Quinta de Ventozelo, em São João da Pesqueira, já se cortaram castas brancas escolhidas para espumante, seguindo-se depois, gradualmente, as uvas para os vinhos brancos, rosés e os tintos. Tiago Maia, responsável pela área de produção da quinta, disse à agência Lusa que regularmente é feito o controlo de maturação que determina a vindima nos vários talhões que compõem os 200 hectares de vinha. Nesta propriedade estima-se uma diminuição na colheita na ordem dos 20%, comparativamente com o ano passado.
Também a previsão de colheita do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) aponta para um decréscimo de 20% na produção de vinho no Douro. AF
Douro está a contratar 4 ME do pacote de Medidas
A região do Douro está a contratar cerca de quatro milhões de euros do pacote de medidas de apoio à crise no setor dos vinhos, anunciou hoje a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
“Numa primeira fase, disponibilizámos 18 milhões de euros para medidas de crise, destilação e armazenamento. A região do Douro está a contratar cerca de quatro milhões de euros, dos 11 milhões que foram utilizados”, disse a governante aos jornalistas, no final de uma visita à Quinta do Pessegueiro, no concelho de São João da Pesqueira. Maria do Céu Antunes afirmou que, como também importava ter uma medida que pudesse ajudar o vinho do Porto, foi criada uma “reserva qualitativa de cinco milhões de euros, que vai permitir guardar dez mil pipas”. Esta foi uma das medidas anunciadas pelo Ministério da Agricultura para apoiar a Região Demarcada do Douro e visa criar condições aos produtores para escoar a produção da vindima de 2020, minimizando os efeitos nos seus rendimentos, decorrentes da redução do consumo e da quebra de mercados, uma consequência da crise provocada pela pandemia de covid-19.
“Estamos a falar diretamente em medidas de crise para esta região de nove milhões de euros”, frisou Maria do Céu Antunes. A governante admitiu que este apoio é apenas parte do prejuízo do setor, mas realçou que o Governo teve em consideração “os custos acrescidos nos fatores de produção por ser uma região de montanha”.
No que respeita ao programa Vitis, ainda que não seja destinado a medidas de crise, mas que tem permitido fazer a renovação das vinhas, este ano a dotação foi aumentada de 50 milhões para 73,5 milhões. “O Douro contratou cerca de metade deste montante”, sublinhou. Na sua opinião, estas medidas, “direta e indiretamente ligadas à crise pandémica, têm um efeito positivo” na região do Douro.
“O Douro representa 38% das nossas exportações de vinho, 23% da nossa área de vinha em todo o país e, portanto, atendendo à circunstância difícil (prevê-se uma quebra de 20% este ano neste setor), imediatamente fomos criando condições para disponibilizar ao setor um suporte financeiro”, afirmou. Questionada sobre o processo eleitoral da Casa do Douro, a ministra da Agricultura disse que “o processo não está a andar”. “Aquilo que queremos, neste momento, é criar condições para resolver o que diz respeito à regularização do património da Casa do Douro, para se poderem regularizar passivos que existem ainda.