Na abertura do 5º Encontro dos Professores do Ensino Português no Estrangeiro (EPE), Luís Faro Ramos, presidente do Instituto Camões, sublinhou que o encontro deste ano teve a particularidade de ajudar a projetar o futuro do Ensino Português no Estrangeiro “em tempos diferentes”, acrescentando que os docentes são “um pilar do EPE”.
‘Aprender e Ensinar em Tempos de Emergência’ foi o tema do encontro deste ano, realizado que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com transmissão online, e organizado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
Este ano o encontro centrou-se na mobilização da rede EPE em tempos de pandemia de Covid-19, destacando as melhores solução que encontradas pelos docentes em cada contexto – presencial, à distância e misto. O encontro teve ainda como objetivo, projetar cenários para o próximo ano letivo.
Numa edição que contou com mais de 420 inscritos, o presidente do Instituto Camões sublinhou que o encontro deste ano teve a particularidade de ajudar a projetar o futuro do ensino português no estrangeiro “em tempos diferentes”, acrescentando que os docentes são “um pilar do EPE”.
“Estes são momentos definidores. Olhamos para o caminho que percorremos juntos nestes últimos meses e projetamos o próximo ano letivo”, assinalou Luís Faro Ramos, lembrando que “seja qual for o cenário com que nos vamos deparar, nalguns casos já a partir do próximo mês, a realidade nunca mais será como era antes”.
O presidente do Instituto Camões elogiou os resultados do esforço coletivo, considerando como mais importante e duradouro terem podido avançar “muito em quatro meses”, em termos digitais. “Na produção de conteúdos, na certificação de competências, na formação, constituímos consórcios, consolidamos parcerias com instituições de referência, a uma escala inédita”, exemplificou.
“O que se passou no Luxemburgo é exemplar”
A título de exemplo, citou o repositório digital que resultou do trabalho de professores e alunos da rede EPE, e que está já disponível a todos os docentes, tanto da rede oficial como da rede apoiada. Posteriormente será disponibilizado a professores de outras redes mediante uma inscrição na plataforma eLearning do Instituto Camões.
Luís Faro Ramos referiu ainda a plataforma digital ‘Ler em Rede’, a ser desenvolvida por um grupo de docentes em cooperação com o Instituto Português do Oriente e “que deverá estar disponível a curto prazo”.
Outra inovação em tempos de pandemia foi o consórcio criado entre o Instituto Camões e cinco universidades portuguesas que permitiu pela primeira vez a realização de um curso de verão de Língua e Cultura Portuguesa, em formato online, certificado por todos os parceiros e que está neste momento a decorrer.
No âmbito das parcerias, o presidente do Instituto Camões referiu a que foi posta em prática com as autoridades educativas luxemburguesas afirmando que “o que se passou no Luxemburgo é exemplar”.
“Foram as autoridades educativas luxemburguesas a apelar à ajuda dos docentes portugueses para o final do ano letivo nas escolas daquele país, apelo que foi correspondido”, revelou, agradecendo aos professores portugueses “pela sua generosidade extra”, num país onde tudo aponta para um ano letivo presencial.
Sobre os resultados do encontro defendeu que o Instituto Camões e a rede EPE sairão “mais bem preparados para lidar com os cenários educativos que os países onde estamos a ensinar, decidirem colocar em prática”.“Há variáveis que nos escapam. Sabemos que temos que fazer um esforço constante no terreno, para sinalizar que queremos e podemos fazer parte das diversas soluções”, assumiu.
Portugal está atento às decisões dos países
As ‘variáveis’ não se prendem unicamente com a inconstância causada pela pandemia, e terão em conta as decisões tomadas pelas autoridades educativas de cada país. A expectativa do Governo português é a de que não haja um retrocesso que leve novamento ao encerramento das escolas nos países onde há ensino da língua portuguesa, mas não há dúvidas sobre o modelo de ensino de forma totalmente presencial. Isso mesmo referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros em resposta a questões do ‘Mundo Português’.
Augusto Santos Silva lembrou que as escolas portuguesas no estrangeiro e o ensino da língua portuguesa nas escolas estrangeiras “seguem as regras determinadas pelas autoridades educativas desses países e pelas suas autoridades sanitárias”, e que Portugal está atento a essas determinações.
“O que acontece é que neste momento em vários países, o ensino português presencial já foi retomado, já que as escolas abriram e retomaram também as suas atividades em português. A regra é: no dia em que, por exemplo, a Alemanha decidir que começam as actividades letivas presenciais para o ano letivo 2020-2021, nesse mesmo dia as atividades letivas de Português integradas nas escolas começam também. Ou no dia em que as autoridades sanitárias de um país levantarem o impedimento à abertura das escolas, nesse dia as escolas comunitárias portuguesas iniciam as suas atividades”, assegurou.
Até lá o Governo, através do Instituto Camões, manterá as atividades em plataforma digital e as atividades à distância, avançou o governante. Sublinhando que o encontro dos professores deste ano reuniu especialistas para discutirem as três modalidades possíveis para o EPE no próximo ano letivo: unicamente presencial, unicamente digital e híbrido (presencial e digital), afirmou que o Instituto Camões dará uma atenção redobrada à modalidade de ensino digital.
“Pessoalmente não creio que iremos assistir a um retrocesso geral. Em primeiro lugar porque as medidas de contenção da propagação têm produzido efeito, então na Europa isso é evidente, mas também em África, na Ásia e em vário países do continente americano. Conhecemos o vírus, sabemos como nos podemos defender dele e por outro lado sabemos que podemos usar medidas de natureza mais seletiva”, defendeu.
Perante o cenário vivido em cidades de Espanha, Alemanha e Reino Unido, onde o confinamento foi retomado, Augusto Santos Silva diz que não acredita “que a tendência geral seja novamente o fechamento”, mas defende que “também não vai ser o regresso tal e qual ao ensino presencial, desde logo por uma questão de capacidade: ninguém vai arriscar por 30 meninos numa sala da mesma forma que antes estavam”.
Ana Grácio Pinto