A pandemia de Covid-19 veio acelerar uma era de transformação digital e o Ensino Português no Estrangeiro (EPE) tem também que se adaptar a essa grande transformação em muitas das suas modalidades de ação, assumiu hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Augusto Santos Silva falava durante a sessão de abertura do 5.º Encontro dos Professores do Ensino Português no Estrangeiro, organizado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e que decorre hoje e amanhã na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com transmissão online.
“Já tínhamos em curso um processo de adaptação às novas necessidades em tempo de digital e o que se trata (agora) é de acelerar um pouco o nosso trabalho e sobretudo ampliar a sua escala”, explicou o ministro, acrescentando que será necessário “mudar a nossa forma sistémica de abordagem a essa transformação digital” e que esta é construída em cinco grandes áreas complementares.
A primeira é a da organização, avançou, defendendo que foi possível “aumentar exponencialmente” a eficácia das formas de contato com professores, coordenadores de ensino, alunos e familiares. “Esta modernização dos sistemas de gestão significa uma simplificação dos processos que cada pessoa tem que cumprir para inscrever os seus filhos, que cada professor tem que fazer para contactar a sua coordenação de ensino e essa coordenação para contatar a sede (do Instituto Camões)”, exemplificou.
Augusto Santos Silva apontou a inventariação, armazenamento e distribuição de conteúdos como outra área complementar à transformação digital, e deu como exemplos o que está a ser feito em dois projetos: a Biblioteca Digital Camões que já reúne quase quatro mil itens – entre livros, manuais e publicações periódicas – de acesso gratuito online a qualquer pessoa, e o projeto ‘Palavras’ que está a ser desenvolvido pelo Instituto Camões em parceria com o Instituto Português do Oriente e que se traduz numa plataforma que reunirá atividades de leitura associadas a outras atividades pedagógicas dinamizadas pela rede EPE.
Formação contínua de docentes em formato online
A formação de professores em ambiente digital, já praticada pelo Instituto Camões é outra area que deverá ter um maior incremento. “A crise que se viveu no segundo semestre (do ano letivo) serviu de estímulo para imaginarmos novas soluções”, avançou Augusto Santos Silva.
Uma delas foi a necessidade de um curso dado aos docentes para aprenderem a utilizarem melhor os recursos digitais e que teve a participação de 638 professores.
Outro, a realizar em parceria com a Universidade Aberta, vai centrar-se nos processos a seguir para manter e incrementar a formação contínua de professores, em formato online. Está neste momento a decorrer o primeiro curso e teve 247 inscrições.
Levar a lógica de parcerias do Instituto Camões também para o mundo digital é outra das áreas de intervenção a privilegiar no âmbito da transformação digital que irá afetar o EPE. O ministro dos Negócios Estrangeiros deu como exemplo um projeto que já está a ser dinamizado – a plataforma ‘Português mais Perto’ – e revelou outra parceria em curso que se centra em curso online de Português Língua Estrangeira para fins específicos, neste caso a Medicina. “Acredito que várias outras parcerias possam fazer-se”, afirmou.
A quinta área relaciona-se com o ensino à distância, que mobiliza professores, alunos e coordenações de ensino, para garantir a principal finalidade do Camões enquanto instituto de língua – a de garantir que o Estado português cumpre o dever constitucional de assegurar o ensino do Português na diáspora portuguesa pelo mundo.
“Desde 2017 temos criada e operacional a nova plataforma do Instituto Camões para o ensino à distância. E ao mesmo tempo criamos uma outra ‘porta de acesso’, a aplicação Aprendizagem Digital do Camões, que tem consolidados cursos de Português como língua estrangeira, cobrindo todos os níveis de competência que não exigem ensino presencial (dos níveis A1 a C1), que teve neste ano letivo cerca de duas centenas de participantes, em 16 cursos digitais”, exemplificou Augusto Santos Silva.
Estes tempos de pandemia tornaram mais prementes “os desafios de combinar a educação à distância com a educação presencial”, finalizou.
O 5º Encontro dos Professores do Ensino Português no Estrangeiro decorre hoje e amanhã em Lisboa, este ano para refletir sobre a mobilização da rede EPE em tempos de pandemia, destacando as melhores solução que foram encontradas pelos docentes em cada contexto – presencial, à distância e misto.
O encontro tem ainda como objetivo, projetar cenários para o próximo ano letivo. Este ano, conta com mais de 420 inscritos, revelou na sessão de abertura o presidente do Instituto Camões. Luís Faro Ramos sublinhou que o encontro deste ano tem a particularidade de ajudar a projetar o futuro do EPE “em tempos diferentes”, acrescentando que os docentes são “um pilar do EPE”.
Ana Grácio Pinto