O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu ao papa Francisco, em nome de Portugal, por ter evocado Aristides de Sousa Mendes neste tempo de “novas ameaças à liberdade de consciência” e de “extremismos populistas”.
Na quarta-feira, o papa Francisco evocou Aristides de Sousa Mendes por ocasião do “Dia da Consciência”, efeméride inspirada no antigo diplomata português, que à revelia do Governo de Salazar salvou milhares de pessoas do regime nazi, há 80 anos.
Dando como exemplo Sousa Mendes, o papa pediu “que a liberdade de consciência seja sempre e em toda a parte respeitada e que cada cristão possa dar exemplo de coerência com uma consciência reta e iluminada pela palavra de Deus”.
Numa nota hoje divulgada no portal da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado saúda as palavras do papa Francisco e afirma que “Portugal e os portugueses reconhecem e agradecem este gesto” de evocação do “exemplo heroico” de Aristides de Sousa Mendes, um “justo entre as nações” e “a quem tantos devem tanto”.
“No nosso tempo, em que emergem novas ameaças à liberdade de consciência, em que os extremismos populistas pretendem pôr em causa tudo aquilo em que acreditamos e tudo aquilo por que nos batemos, evocar Aristides de Sousa Mendes é um imperativo de cidadania global, agora reforçado pela palavra sábia e iluminada do papa Francisco, também ele um exemplo de heroísmo e um modelo de incansável luta pela liberdade e pelo bem comum”, considera Marcelo Rebelo de Sousa.
Referindo-se que o papa Francisco “exortou a que liberdade de consciência seja respeitada em todo o mundo, como valor essencial da dignidade da pessoa humana”, o Presidente da República subscreve essa mensagem.
O chefe de Estado adverte “todos os portugueses, crentes e não crentes” de que “devem estar cientes de que a liberdade e a dignidade humana se defendem todos os dias” e não podem ser dados como valores “adquiridos e garantidos”.
“Ao defendermos o Estado de direito democrático e os direitos e liberdades dos cidadãos, renovaremos o extraordinário exemplo de vida de Sousa Mendes, agora tão justamente recordado por um dos maiores líderes espirituais e morais do nosso tempo. Ao papa Francisco, a nossa gratidão de portugueses, mas também o nosso reconhecimento enquanto cidadãos do mundo”, acrescenta.
Enquanto cônsul-geral em Bordéus, França, Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de judeus e outros refugiados do regime nazi, em 1940, emitindo vistos à revelia do Governo de António de Oliveira Salazar, o que lhe valeu a expulsão da carreira diplomática, e acabaria por morrer na miséria.
Em janeiro deste ano, Marcelo Rebelo de Sousa representou Portugal no 5.º Fórum Mundial do Holocausto, no instituto Yad Vashem, em Jerusalém, em sinal de solidariedade do povo português e de que o genocídio nazi não está esquecido e não se pode repetir.
Na altura, o chefe de Estado disse que a sua presença era também “uma forma de lembrar, no sítio onde estão os justos, um justo como Aristides de Sousa Mendes”, que no primeiro ano do seu mandato condecorou postumamente com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
No dia 09 deste mês, a Assembleia da República aprovou por unanimidade um projeto de resolução da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira para que Aristides de Sousa Mendes seja homenageado simbolicamente no Panteão Nacional.
Joacine Katar Moreira propõe que essas honras lhe sejam prestadas através de um túmulo sem corpo e que os restos mortais continuem no concelho de Carregal do Sal, no distrito de Viseu, onde nasceu e viveu Sousa Mendes.